Passado o segundo turno da eleição presidencial no último domingo (30/10), o Brasil começa a lidar agora com decisões importantes que têm impacto direto no desempenho econômico dos próximos anos. Ao menos uma destas decisões cabe diretamente ao campo político nacional: definições do orçamento de 2023 serão importantes indicadores da política econômica do próximo governo.
Por outro lado, somos meros passageiros em outro conjunto de decisões que está sendo tomado no exterior: o FOMC (comitê de política monetária do Fed) elevou pela quarta vez consecutiva a taxa de juros básica nos EUA, colocando novamente em cheque a tese de que o ciclo poderá ser revertido rapidamente.
A eleição presidencial foi finalmente resolvida no Brasil, abrindo espaço para questionamentos naturais em relação à transição e às preferências macroeconômicas do novo governo. Por enquanto, o mercado se dedica a interpretar sinais relacionados a possíveis listas de nomes que estariam no páreo para ocupar cargos-chave dentro do Ministério da Economia (que, provavelmente, será desmembrado) e outras autarquias relevantes.
No entanto, o governo eleito já iniciou as tratativas de negociação com o Congresso para o orçamento de 2023 e acreditamos que sua divulgação poderá ser um importante indicativo. Devemos considerar que as promessas de campanha colocam os gastos extra-teto em patamar próximo de R$ 200 bilhões para 2023. Diversos atores políticos falam abertamente na necessidade de um waiver (i.e. uma permissão para gastar) que possibilite que o governo eleito cumpra suas promessas para além das amarras do teto de gastos.
A magnitude exata dessa permissão está em aberto. Números mais conservadores com certeza serão encarados como sinalização positiva. Por outro lado, acreditamos que a totalidade das promessas supere facilmente a barreira de R$ 200 bilhões, o que pode novamente trazer stress ao mercado. De toda forma, essa discussão do orçamento é somente indicativa, na medida em que não há definição sobre a liderança da equipe econômica nem sobre a fórmula que virá (invariavelmente) a substituir o teto de gastos. Enquanto essas questões não forem resolvidas, é possível afirmar com alguma certeza que o bom desempenho do mercado nos últimos dias ainda é razoavelmente frágil e passível de reversão.
Por outro lado, o cenário externo segue desafiador. No comunicado, o FOMC manteve inalterada sua perspectiva acerca da inflação e da atividade. Como novidade, o comitê antecipou que (i) levará em consideração o aperto já feito na política monetária, (ii) ficará atento às defasagens com que a política monetária afeta a atividade econômica e à inflação (iii), além de monitorar as condições econômicas e financeiras.
Durante a conferência de imprensa, o chairman Jerome Powell deixou claro que os dados de inflação e do mercado de trabalho sugerem que a taxa terminal deverá ir além da expectativa anterior. Apesar de deixar em aberto a discussão de diminuição do ritmo, Powell ressalta que ainda há um caminho a ser percorrido.
A reação do mercado foi condizente com nossas expectativas. A precificação de uma alta de 50bps em dezembro aumentou (em detrimento de uma alta de 75bps) ao mesmo tempo em que cresceram as chances de uma taxa terminal acima de 5,00% a.a. em março de 2023.