A sorrateira inflação está de volta, ainda pouco enfatizada em relação à sua dimensão, mas já de algum tempo para cá presente no cotidiano da população brasileira, e de forma sútil e indelével corroendo a renda do consumidor, num momento em que a parca geração de emprego proporciona salários menores do que dantes, e isto, naturalmente, impacta no crescimento e desenvolvimento do país.
Então, quando criticamos, com frequência, a passividade do COPOM/BC no enfrentamento desta realidade que retorna ao nosso cenário e isto gera a ocorrência de dúbias interpretações de que a elevação do juro corrói a capacidade de retomada da atividade econômica, perde-se a percepção de que a inflação causa o mesmo efeito, provavelmente mais intenso e danoso se não contida com intensidade.
O país sofre as consequências das faltas de investimentos fundamentais e com a adversidade climática, mas inquestionavelmente enfrenta seus problemas como a pandemia de forma contraditória, politizada excessivamente afrontando a ciência e sem diálogo objetivo, e por fim, o governo prefere utilizar o argumento pífio de que a culpa do que acontece é do “pessoal do fica em casa”.
Mas o fato é que o governo tem dificuldades, ou lhe é conveniente, reconhecer que buscou uma estratégia de política monetária/política econômica que não logrou as repercussões desejadas, acabando por beneficiar tão somente o segmento de commodities, que também estava com os preços internacionais aquecidos e alavancou seus ganhos com a taxa de câmbio alta.
A intenção inicial, puramente tentativa e até certo ponto válida, da política monetária era utilizar o câmbio alto e o juro baixo para estimular o comércio exterior, enquanto o mercado interno estava fragilizado e ao mesmo tempo o investimento pelo empreendedor nacional.
Não demorou muito para ficar notório que a reação não correspondia ao anseio, mas a política monetária/política econômica manteve a estratégia, não reviu seus dogmas, e se tornou altamente geradora de inflação decorrente do rebote dos preços internacionais para o mercado interno, e enganosamente procurou disseminar a ideia de que era “temporária”, ignorando a realidade brasileira de que preços que sobem não retroagem, e assim restaurou a tendência inflacionária sustentável na economia sem criar os antídotos necessários à sua contenção.
Agora, o BC/COPOM se mostra tímido ante o deletério quadro instalado e posterga decisões mais agressivas que tem se feito imperativas, e com isto a espiral inflacionária ganha vitalidade e passa a se alimentar de si própria para impulsão.
Setembro foi o pico? Certamente não! O processo de repasses mais intensos está somente começando, ainda há espaço para piorar.
Mas, o governo atribui suas culpas a outros fatos, em especial políticos, e se omite do “mea culpa” dos erros de política monetária/política econômica, tem dificuldade em viabilizar as reformas e acentua o foco na política, no anseio da reeleição.
Da mesma forma se omite na discussão dos problemas dos preços dos combustíveis, onde aflora que a alta dos preços promove o aumento intempestivo da arrecadação por parte dos governos estaduais, com os quais não tem diálogo franco, sem que haja contraponto com aumento de custos, mas a predominância do estado de conflito entre governo federal e estaduais impede a construção de ações proativas.
Estamos a um ano das eleições presidenciais e o sentimento que aflora é que, doravante, mais do que antes se acentue os embates políticos com foco nas eleições presidenciais de 2022, fato que deverá acentuar as divergências e postergar decisões importantes.
Numa visão bastante realista, há um desalento e o que se espera de efetivo é o governo buscando “gastar mais tendo menos” no sentido de poder atender as gritantes carências da população mais carente e evitar o agravamento da pobreza no país, com baixas expectativas de ações de governabilidade que possam alterar as expectativas.
O cenário externo está num momento de inseguranças, mas ao que tudo indica todas e quaisquer decisões adotadas pelas economias desenvolvidas não virão a nos beneficiar, provavelmente colocando mais pressão sobre o preço do dólar no nosso mercado.
No cenário interno a inflação reacende a renda fixa que poderá segregar parte dos recursos que hoje estão na Bovespa, pois a rentabilidade tende a ficar mais atraente em relação às perspectivas de recuperação da atividade econômica.
Os danos da política monetária/política econômica já não têm mais tempo para responder a ações corretivas, mesmo que intempestivas e enérgicas a relação causa-efeito não deverá repercutir em 2022, por isso o foco tende a ser doravante 2023.