O FMI, FED americano, OCDE e inclusive jornais de elevada consideração no âmbito mundial fizeram consideráveis ressalvas negativas a respeito do “status” brasileiro ao longo deste ano, concluindo objetivamente que o Brasil é um país frágil.
O ex-ministro da fazenda, Guido Mantega, desenvolveu contundente recusa à tese, negando o aludido “status” ancorado no fato de que o país tem reservas cambiais, etc.
Ao término do mandato deste governo reeleito, o extrato da conta que é entregue à sociedade brasileira tem muito das críticas contumazes e pouco ou quase nada dos argumentos apresentados pelo ex-ministro da fazenda.
Inflação aquecida ao invés de sob controle como alegado; situação fiscal amplamente deteriorada ante a meta revista; indústria decadente e em retração já com sinais de geração de desemprego; desonerações verticalizadas na economia com amplo insucesso; juro elevado; dólar até onde foi possível resistir amplamente depreciado em benefício do controle inflacionário; crescimento do PIB tendente a quase zero; prática de matemágica acintosa e ainda assim descumprimento do superávit fiscal, com manobras pontuais para evitar que o governo incorra em descumprimento da lei de responsabilidade fiscal.
E, é latente que o “conjunto” com destaque para a deterioração fiscal deixaram o país sob absoluto risco de perda do seu conceito de “grau de investimento”, o que seria algo absolutamente drástico.
O tempo deixou evidente que era perceptível o quadro decrépito da economia brasileira e que os organismos internacionais e a imprensa qualificada estrangeira estavam absolutamente certos em seus prognósticos antecedentes.
O contexto que o Brasil evidencia na atualidade é altamente preocupante e de difícil superação, um enorme desafio ao governo reeleito e sua nova equipe econômica.
O G-20 alerta sobre a normalização de política monetária em alguns países desenvolvidos ser um fato positivo, mas aponta que a menor liquidez global traz riscos para o crescimento das economias dos países emergentes, com destaque para a volatilidade da taxa cambial e preços dos ativos.
Embora não destaque o Brasil, parece estar se referindo exatamente ao quadro brasileiro que dada a sua fragilidade fica mais exposto aos efeitos negativos apontados para os emergentes.
O fato em si não se constitui uma novidade, temos frequentemente apontado que o Brasil deve considerar no seu radar a queda de liquidez no mercado global e o elevado risco de retração de fluxos de recursos, seja para as aplicações financeiras, com grande parcela especulativa, seja para a conta capital (setor produtivo), havendo ainda o risco adicional de saída de recursos caso o FED altere sua política monetária e o juro passe a ser concorrente da rentabilidade líquida oferecida pelo país.
Por outro lado, o FMI em documento preparado para o G-20 salienta que Brasil, Índia e Turquia, precisam de ajuste nas contas públicas e até mesmo um aperto da política monetária.
No contexto Brasil e perspectivas “não existem mais flores, tão somente espinhos”, ambiente muitíssimo diferente dos governos anteriores.
Agora serão necessárias medidas duras contrariando interesses setoriais em benefício do todo, rigor de gestão e do gasto público e foco absoluto no desafiador objetivo de reversão deste quadro econômico acentuadamente deteriorado.
O governo brasileiro já deveria ter um novo planejamento econômico com projetos, em especial de infraestrutura, capazes de atrair investidores estrangeiros antes que a concorrência se torne acirrada com os demais emergentes, pois a rigor precisará muito de melhora de ingressos de recursos para financiar seu deficit em transações correntes e eventuais movimentos de saída de capitais.
Este é um caminho alternativo para ingressos volumosos de recursos no momento em que se considera factível retração dos ingressos direcionados diretamente para a conta capital.
O retardamento é absolutamente negativo para o país, pois pode levá-lo a perder as melhores oportunidades.
A própria ausência de indicação do staff para a gestão da economia, o que envolve o nome do ministro da fazenda, parece evidenciar dúvidas do governo em definir nomes, visto que o futuro ministro da fazenda terá pouca margem para criatividade, pois a rigor todos sabem que o Brasil precisa de um choque de credibilidade e para tanto estar disposto a contrariar interesses, num ambiente que o considera fragilizado.
Acreditamos que manter o preço da moeda americana em parâmetros de normalidade (+-R$ 2,60) seja uma necessidade do governo na atualidade, para estimular a retomada de ritmo exportador pela indústria com propensão a realizar investimentos para conquistar competitividade e gerar emprego e renda, ao mesmo tempo em que encarecerá o produto importado aumentando a competitividade do produto nacional também no mercado interno.
O preço da moeda americana será, no nosso entender, peça chave para que a economia recupere a tração perdida. A intenção será de potencializar a capacidade exportadora do país, reanimando a indústria e a favorecendo com a elevação dos concorrentes importados.
Em concomitância, o governo precisará ter foco em redução dos gastos para gerar superávits que o habilite aos investimentos e com isto também exerça menor pressão inflacionária poupando-o a pratica contumaz de elevação do juro.
O nome do novo ministro pode ter sua relevância, mas não será fundamental, pois o governo sabe do difícil desafio que precisará superar, e assim o novo ministro terá a função de liderar o staff como fiel cumpridor do “script” planejado, cabendo-lhe impor disciplina na gestão que poderá implicar mesmo em desgastes, já que implicará em contrariar interesses setoriais.
Tudo leva a crer que a presidenta Dilma ao final vá optar por uma solução com escolha dentro do seu staff focando a absoluta coesão da equipe.
Afinal, só resta fazer ou fazer, qualquer coisa diferente que não vise mudança radical pode provocar um desconfortável e temeroso descrédito condutor a um risco de desgaste que o governo não terá condições de suportar neste momento e se disseminará por toda a economia.