Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
Nas últimas semanas, os investidores têm concentrado suas atenções na curva de juros dos EUA, tentando freneticamente decifrar a mensagem enigmática que ela pode estar transmitindo, já que pode ser um sinal de uma recessão iminente na maior economia do mundo. E não sem razão. No passado, sempre que houve uma inversão pronunciada na curva de juros por um longo período, tratava-se de um sinal de recessão. No entanto, desta vez pode ser diferente, pois as taxas de juros ao redor do mundo despencaram.
Isso significa que a curva de juros pode estar indicando simplesmente que vivemos em um mundo com taxas de juros deprimidas pela flexibilização das políticas monetárias. Um mundo onde países como Itália, Espanha, Tailândia e Cingapura adotam taxas de 10 anos iguais ou até menores do que as dos títulos de 10 anos do Tesouro americano.
Inversão “mista”
De fato, houve uma inversão na curva de juros dos títulos do Tesouro americano com diferentes vencimentos. Por exemplo, o rendimento de 10 anos e o de 3 meses estão invertidos, mas o de 10 anos menos o de 2 anos não. A questão que fica, no entanto, é: o que está causando essa inversão? Será que é o risco cada vez maior de uma recessão ou as forças do mercado atuando para empurrar a taxa de 10 anos para baixo, enquanto o Fed sustenta a taxa de 3 meses? Lembre-se que os rendimentos com prazos menores na curva são mais influenciados pela política monetária, ao passo que os rendimentos mais longos são ditados pelas forças do mercado.
Rendimentos atraentes em comparação com os títulos mundiais
Acredite ou não, os títulos de 10 anos dos EUA têm um rendimento cerca de 45 pontos-base maior do que o da Itália. Enquanto isso, a taxa de 10 anos da Espanha é cerca de 165 pontos-base superior à de 10 anos dos EUA. Como investidor, é melhor manter uma dívida do governo italiano com rendimento de 1,7% ou um título de 10 anos dos EUA a 2,15%? A resposta parece óbvia.
No caso de Cingapura e Tailândia, seus títulos de 10 anos estão sendo negociados perto da paridade com a taxa norte-americana. Sem dúvida, estamos vivendo em um mundo com taxas de juros baixas.
Dinheiro fácil
Como os bancos centrais sinalizam uma flexibilização ainda maior para elevar a inflação e o crescimento, os investidores são forçados a buscar rendimento em títulos governamentais mais longos. Isso pressiona as taxas para baixo e obriga os investidores a adquirir títulos norte-americanos com maior rendimento, o que, por sua vez, reduz as taxas nos EUA.
Há, entretanto, outra força em jogo, e ela virá do maior comprador de títulos de todos: o Federal Reserve, banco central dos EUA. No final deste segundo semestre, o Fed iniciará a aquisição de nada mais, nada menos US$ 20 bilhões em títulos do Tesouro americano enquanto os títulos lastreados em hipotecas expiram. Cientes de que a entrada do Fed no mercado, em peso, pode contribuir para a continuidade da queda dos títulos norte-americanos, os investidores começam a se antecipar a essa iniciativa.
Recessão, será mesmo?
A ideia de que os EUA estejam a caminho de uma recessão parece descabida neste momento. A última pesquisa industrial do ISM foi de 51,7%, indicando que o setor ainda está em expansão. Além disso, o relatório observa que o dado corresponde a uma taxa de crescimento do PIB no segundo trimestre de 2,6%, muito longe de uma contração ou recessão.
Mercados trabalhando
São essas forças do mercado que estão pesando sobre os rendimentos dos títulos americanos e reduzindo suas taxas, e não uma recessão iminente. As taxas de juros mais elevadas nos EUA também foram responsáveis pelo significativo fortalecimento do dólar americano, o que também está pesando sobre as taxas de inflação e pressionando para baixo os preços das commodities. As baixas taxas de inflação provavelmente farão com que o Fed corte os juros no futuro.
Na próxima vez que você ouvir falar sobre a inversão da curva de juros e os sinais cifrados que ela pode estar transmitindo sobre dias difíceis pela frente, olhe ao redor do mundo e para as taxas de outros países, imaginando quais títulos você preferiria ter. Realmente, pode ser simples assim.
A única mensagem que o mercado de títulos soberanos pode estar transmitindo é que vivemos em um mundo com taxas de juros reduzidas, e os EUA oferecem os papéis mais atraentes.