Muitos aqui podem não lembrar, - inclusive eu, que nem era nascido. Mas em 28 de janeiro de 1986 o ônibus espacial Challenger decolou do Centro Espacial Kennedy (Cabo Canaveral). Após 73 segundos no ar, explodiu matando todos os tripulantes e deixando marcas na história das viagens espaciais. A mídia logo começou a especular o que havia acontecido e seis dias após o acidente a NASA criou uma comissão para avaliar o acidente. A comissão foi formada por ninguém menos que Richard Feynman (Nobel de física) e muitos outros especialistas tão competentes quanto.
Essa turma levou 5 meses para descobrir o que houve: uma falha em uma peça chamada "o-ring". Esse anel de borracha era uma vedação e funcionava como um registro controlador d'água, nesse caso, controlava a passagem de combustível. O problema é que essa borracha não é tão eficiente quando expostas a temperaturas muito frias. Elas endurecem e não conseguem vedar muito bem. Além de não vedar, elas se quebram facilmente. Feyman mostrou isso na prática durante uma entrevista.
O Challenger foi lançado em um dia muito frio na Flórida, tão frio que tinha gelo acumulando nas plataformas de lançamento. Isso fez com que a vedação se partisse e o oxigênio e nitrogênio líquido entrassem em contato, causando a explosão fatal. (se tivessem lançado aqui de Pernambuco teria dado certo)
Além de ser uma tragédia histórica, o evento teve sérias repercussões financeiras. Quatro grandes contratadas da NASA estavam envolvidas no programa e poderiam se prejudicar: a Lockheed, Martin Marietta, Morton Thiokol e Rockwell. Claro, o relatório da comissão prejudicaria pelo menos uma dessas empresas, a principal prejudicada foi a Morton Thiokol, responsável pela construção e operação dos foguetes propulsores.
Aqui faço uma menção honrosa ao engenheiro Allan McDonald. Na época, ele foi enviado ao centro espacial para assinar a autorização de lançamento e se recusou a assinar por ter ressalvas quanto à segurança devido a temperatura que fazia naquela época. Ele faleceu em 2021, aos 83 anos. Após esses 5 meses e o relatório da comissão, as ações da Morton deveriam cair, certo? Em 2003, dois economistas responderam essa questão. O mercado puniu a Morton não no dia do relatório (meses depois), mas MINUTOS após a explosão. Tanto que a bolsa de Nova York precisou suspender as negociações com as ações da empresa porque o fluxo de ordens sobrecarregou o sistema. Ao final do pregão, as ações das empresas envolvidas tinham caído, mas apenas a Morton caiu mais de 12% naquele dia, perdendo cerca de $ 200 milhões valor de mercado.
O mais curioso é que o valor de mercado que a empresa perdeu minutos após a explosão do ônibus espacial Challenger foi quase exatamente igual aos prejuízos, liquidações e perdas futuras de fluxo de caixa que a companhia teve! Ou seja, o que a Comissão Rogers, com algumas das mentes mais brilhantes do mundo levou 5 meses para concluir, o mercado financeiro concluiu em poucas horas. Isso pode ser explicado pela teoria dos mercados eficientes.
Imagine a combinação de conhecimento, experiência e intuição de milhares de profissionais focados em estimar o preço de uma determinada ação em um espaço de tempo. O mercado conseguiu unir todas as informações disponíveis no momento do acidente e precificar da melhor forma possível o ocorrido.
Em minha percepção, o mercado financeiro é eficiente para precificar o presente. Quando falamos de situações que vão impactar as empresas hoje, como uma queda no preço da commodity ou uma crise econômica que afetará determinado setor, as cotações das ações logo respondem às más expectativas. Mas isso abre oportunidades gigantescas de compras para quem olha para um horizonte de investimentos maior.
E aí, você acha que o mercado é eficiente? Qual é o seu horizonte de investimentos?
Caso queira entender mais sobre o caso, leia o estudo completo:
"The complexity of price discovery in an efficient market: the stock market reaction to the Challenger crash". M. Maloney, J. H. Mulherin.
Você pode encontrar mais detalhes e mais conteúdo sobre mercado eficiente no livro: “Mercados Adaptáveis: evolução financeira na velocidade do pensamento” by Andrew Lo.