O Mercado de Câmbio Reflete Sua Incerteza Sobre a Decisão do BC

Publicado 22.10.2013, 09:02

O preço do dólar apresentou discreta volatilidade ontem refletindo a incerteza que predomina sobre a decisão que o Banco Central do Brasil adotará sobre a posição vincenda em 1º de novembro envolvendo US$ 8,87 Bi.

É natural que seja assim o comportamento, pois o volume é grande bastante para impactar radicalmente na formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, além de ter repercussões sobre o que será priorizado pelo BC, a continuidade da utilização do preço dólar depreciado para conter pressões inflacionárias ou promover o retorno do mesmo à simetria com os fundamentos mitigando o risco cambial aos investidores estrangeiros de curto prazo que podem ser atraídos pelo juro brasileiro para otimizar rentabilidade.

Todos os dois fatores são relevantes no momento, mas, ao priorizar um, o BC sabe que estará abrindo mão do outro.

As contas externas brasileiras estão carentes de ingressos de recursos, mas o momento é adverso, nem mesmo a balança comercial que, com o efeito “Petrobrás” havia convertido a sua performance em discretamente positiva, resistiu e na terceira semana deste mês registrou déficit de US$ 1,569 Bi reduzindo o saldo positivo do mês para US$ 1,003 Bi e reconduzindo a negativo US$ 605,0 M o saldo comercial no ano. Será difícil alcançar os US$ 2,0 Bi que vem sendo projetado pelo governo e pelo Boletim Focus, sendo mais provável que registre este número, mas como negativo como prevê a Associação dos Exportadores do Brasil.

O Brasil tem necessidade de grande volume de ingressos para reduzir a necessidade de financiamentos externos para fazer face ao expressivo déficit em transações correntes, e as perspectivas quanto ao fluxo de recursos para o Brasil foram otimizadas com a possível decisão do FED americano de postergar o início da redução do seu programa de incentivo monetário focado na retomada da atividade da economia dos Estados Unidos, e, também, do breve hiato nas disputas políticas no entorno da questão fiscal americana.

O prazo do intervalo das discussões da questão fiscal americana foi extremamente curto, enquanto, se confirmada a postergação do início do desmonte do programa pelo FED, este estará de volta à mesa de discussões ao longo de 2014, emanando intranquilidade aos países emergentes.

Por isso, a manutenção do preço do dólar depreciado pode ser um empecilho que o próprio Brasil está criando para que possa ainda atrair parte dos recursos externos que necessita, pois coloca ao investidor, essencialmente especulador, o risco da variação brusca cambial.

Não sentimos que o Leilão do Campo de Libra, que afinal teve só um grupo concorrendo, tenha tido influência, até porque, ao que tudo indica, os valores em moedas estrangeiras que advirão do exterior a título de bônus no mês de novembro entrarão direto para o Tesouro, sem transitarem pelo mercado de câmbio.

O preço da moeda americana próxima de R$ 2,18 ainda está bastante afastado do que seria razoável neste momento considerando o contexto das contas externas do país.

Provavelmente algo entre R$ 2,23 a R$ 2,25 seja a taxa mais equânime com a realidade.

As projeções do preço do dólar para o final do ano, exceto do Boletim Focus que é oriunda da opinião dos bancos que é parte interessada num preço apreciado, continuam no entorno de R$ 2,30, com raras e poucas sinalizando R$ 2,40.

Todos sabem que a estratégia do BC ao estimular os bancos à prática de “posições vendidas”, ancorando-as com linhas de financiamentos (venda à vista e recompra a prazo) tem a finalidade de evitar que tenha que vir a mercado e realizar leilão de venda efetiva de moeda americana das reservas cambiais.

Da mesma forma sabem que a estratégia de venda massiva de “swaps cambiais” visa retirar incertezas quanto à disponibilidade de liquidez.

Ocorre que esta dinâmica de ações não pode ser mantida indefinidamente, pois este é um fato que sensibiliza o mercado a fortalecer tendência de alta do preço da moeda americana se não encontrar solução advinda do próprio mercado, ou seja, ocorrer uma melhora acentuada de fluxo cambial para o país.

Por isso, temos sugerido que o BC promova a rolagem de metade do lote vincendo por um curto espaço de tempo, liquidando os outros 50% e com isto promovendo a correção da formação do preço da moeda americana para acima de R$ 2,20, visando com isto ainda atrair volumes de recursos externos que permitam que o fluxo cambial venha a se tornar positivo.


A rolagem de somente 50% provocaria discreta depreciação do real de imediato, e poderia ter o novo vencimento para o dia 1º de dezembro, coincidindo com o ingresso de montante em torno de US$ 4,0 Bi relativo ao bônus a favor do governo relativo ao leilão do campo de Libra. Importante observar que o Ministro Mantega anteriormente havia declarado que este montante ingressaria sem impacto no mercado, o que sugeria ingresso direto para o Tesouro, mas ontem contraditoriamente afirmou que será ingressado via mercado
.

Ontem, após consulta ao mercado o BC anunciou para hoje rolagem parcial dos contratos de “swaps vincendos” em 1º de novembro no montante de US$ 8,87 Bi , com oferta de 20.000 contratos, equivalentes a quase US$ 1,0 Bi, com vencimentos em 1º de julho e 1º outubro de 2014, o que consideramos um erro visto que para dar continuidade aos seus leilões programados deveria reduzir um pouco o montante de “swaps cambiais” fora do programa e esta é uma oportunidade, por isso entendemos que o curto prazo, 1º de dezembro seria mais conveniente.


Como temos salientado não acreditamos que o país ainda tenha condições de atrair recursos suficientes para atender suas necessidades atuais para financiar o déficit em transações correntes, mas é preciso agir para que mesmo assim conquiste melhora de fluxos.

Se isto não for feito, é provável que os analistas que estão projetando R$ 2,40 para o final do ano acabem ficando mais próximos da taxa do que a nossa projeção, que continuam indicando R$ 2,30.

O preocupante é que, se o BC não agir deixando o preço da moeda americana repercutir a realidade do momento gradualmente, isto possa vir a acontecer naturalmente impondo uma variação muito forte num curtíssimo prazo.

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