Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 27/05/2021
- Número de tokens atinge nível de 10.000
- Crescimento exponencial das criptomoedas
- Especulação incentiva criação de novas criptos
- Muitos tokens menores acabarão acumulando poeira
- Prefira moedas do primeiro escalão com bastante liquidez
No início deste mês, Elon Musk jogou um balde de água fria sobre a criptomoeda líder de mercado. No começo do ano, a Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) comprou US$1,5 bilhão em bitcoins e anunciou que os aceitaria como forma de pagamento de seus veículos elétricos (VEs). Os revolucionários carros da Tesla estão na linha de frente do combate à mudança climática, ao reduzir nossa dependência a combustíveis fósseis.
Embora o bitcoin e várias das outras 10.000 criptomoedas estejam virando o mundo financeiro de cabeça para baixo, assim como os VEs no setor automotivo, a mineração dos tokens requer uma quantidade extraordinária de energia. O sr. Musk repentinamente decidiu que esse alto uso energético para mineração de bitcoins vai de encontro com sua régua moral.
Ele se fez de desentendido e parou de aceitar bitcoins pelos carros da Tesla. Com isso, o preço da criptomoeda afundou. Depois de superar a casa dos US$ 65.500 por token no dia 14 de abril, o bitcoin recuou para US$ 30.000 em 19 de maio após o anúncio de Musk. Ainda que tenha se recuperado um pouco desde então, todo o mercado de moedas digitais continuou volátil.
É difícil acreditar que o mercado de criptomoedas, que têm uma capitalização de mercado de mais de US$ 1,7 trilhão, agora possui quase 10.000 tokens. A incrível valorização do bitcoin, ethereum, dogecoin e muitas outras moedas desencadeou um frenesi em quem quer encontrar a nova cripto capaz de fazê-los enriquecer.
Será que a classe de ativos está aumentando demais?
Número de tokens atinge nível de 10.000
Parece que foi ontem que o número de criptomoedas flutuando no ciberespaço rompeu a marca de 1000 pela primeira vez. No dia 19 de maio, o número estava se aproximando de 10.000.
Participantes do mercado de criptomoedas
Fonte: CoinMarketCap
Os incríveis retornos gerados pelo bitcoin, ethereum, dogecoin e as outras criptomoedas líderes que viram suas capitalizações de mercado ultrapassar a faixa de um bilhão de dólares incentivam a entrada de novos tokens no mercado a cada dia. As ofertas iniciais de moedas (ICOs) estão explodindo, tornando-se um segmento altamente rentável para quem organiza a listagem de tokens.
O grande volume de ICOs superou em muito o número de IPOs no mercado de ações nos últimos anos. Ironicamente, a abertura de capital da Coinbase (NASDAQ:COIN), principal plataforma de negociação de criptomoedas, em 14 de abril, foi feita de modo não tradicional na Nasdaq.
A COIN rejeitou um IPO e todas as suas regras, normativas e taxas exorbitantes. Em vez disso, a empresa optou pela listagem direta, em que a Nasdaq lista as ações sem a ajuda de um exército de bancos de investimento. A popularidade da classe de ativos eliminou a necessidade de apresentações aos investidores e outras iniciativas caras e comuns em IPOs.
Crescimento exponencial das criptomoedas
Lembro-me de quando o número de tokens no site CoinMarketCap rompeu a marca de 1.000, e não faz tanto tempo assim. Comecei a rastrear o crescimento no fim do primeiro trimestre de 2019, quando o número estava em 2.136.
Ao final de 2019, já havia atingido 4.986, mais do que o dobro registrado nos nove meses anteriores. Em 31 de dezembro de 2020, havia 8.153 criptos em circulação. A pandemia mundial provavelmente desacelerou esse crescimento exponencial no ano passado.
Ao final do 1º tri de 2021, eram 9.045 tokens no mercado e, em 30 de junho, esse número deve passar de 10.000. Em 19 de maio, o número exato era de 9.945.
Especulação incentiva criação de novas criptos
Os especuladores lubrificam as engrenagens dos mercados ao fornecer um nível consistente de liquidez. À medida que especuladores compram e vendem ativos, reduzem os spreads entre as ofertas.
Produtores, consumidores, investidores, arbitragens, traders, enfim, todos os participantes do mercado se beneficiam com a especulação de compra e venda. Os especuladores geralmente são vistos negativamente pela imprensa, órgãos reguladores e legisladores, mas, sem eles, a liquidez seria pequena.
Eu sempre acho engraçado quando políticos reclamam que os especuladores estão fazendo os preços dos ativos subir, obrigando os consumidores a pagar mais caro pelos produtos. A verdade é que os especuladores também não se importam em fazer os preços caírem, mas raramente ouvimos reclamações neste caso.
Enquanto isso, a alta do bitcoin de alguns centavos para mais de US$65.500 e o movimento explosivo do ethereum de menos de US$1 para mais de US$4.400, além das histórias de sucesso de tantas outras criptos, está criando um grande frenesi especulativo. Quando minha mãe de 88 anos me perguntou se ela deveria comprar bitcoins, tive certeza de que o mercado estava fora de controle.
O crescimento da capitalização da classe de ativos incentivou os lançamentos de ICOs, juntamente com a expansão do mercado potencial de investidores em busca da próxima moeda digital capaz de transformar um pequeno investimento em uma fortuna.
Muitos tokens menores acabarão acumulando poeira
É difícil enxergar a continuidade de retornos exponenciais em 10.000 criptomoedas. Na biologia, o conceito de “sobrevivência do mais adaptado” foi apresentado por Charles Darwin na Origem das Espécies, publicado em 1869.
Darwin sugeriu que os organismos mais bem adaptados ao ambiente têm mais sucesso em sua reprodução. Nas moedas digitais, provavelmente veremos uma versão financeira da “sobrevivência do mais adaptado” nos próximos anos.
O frenesi especulativo que movimentou o segmento de ICOs e ampliou o mercado potencial para além de 10.000 tokens deve provocar um “abate” do rebanho, reduzindo o número de partes indesejáveis da classe de ativos. O fato é que, quando a gravidade finalmente exercer seu efeito sobre as moedas digitais, muitos dos 10.000 tokens não passarão de “acumuladores de poeira" em carteiras digitais.
Mesmo assim, as moedas digitais pregaram muitas peças em “mentes brilhantes" do mercado financeiro nos últimos anos. O CEO do JPMorgan (NYSE:JPM) (SA:JPMC34), Jamie Dimon, chamou as criptos de “fraude” em 2017. Hoje, seu banco oferece a clientes de alta renda um fundo de criptomoedas.
O famoso investidor e CEO da Berkshire Hathaway (NYSE:BRKb) (SA:BERK34), Warren Buffet, disse que o bitcoin era um “veneno de rato ao quadrado” mais ou menos na mesma época. Embora não tenha se manifestado mais sobre o assunto nos últimos meses, seu sócio de 97 anos, Charlie Munger, reforçou essa visão ao dizer que as criptomoedas são “perigosas para a civilização”. Minha mãe só é nove anos mais nova do que Munger, mas ela não perde de vista a possibilidade de lucrar alto com a classe de ativos.
As moedas digitais chegaram para ficar. No entanto, a classe precisa amadurecer com a resolução de muitos problemas que tendem a aumentar à medida que se populariza como meio de troca. Custódia, segurança cibernética e carbono gerado pela mineração são questões relevantes que precisam de uma resposta.
O fator preponderante, no entanto, é a lacuna a ser preenchida na ideologia financeira que rejeita o controle governamental sobre o dinheiro. Órgãos reguladores e legisladores não querem perder o poder de controlar e manipular a oferta monetária. As atuais políticas fiscais e monetárias podem estar incentivando a alta das criptomoedas, mas são ferramentas das quais os governos provavelmente não abrirão mão.
Provavelmente veremos o número de criptomoedas atingir o pico nos próximos meses. Uma redução significativa pode ocorrer após uma correção substancial nos preços e na capitalização geral da classe, um pouco do que vimos no início de maio.
Prefira moedas do primeiro escalão com bastante liquidez
Ao negociar e investir, a liquidez é um fator essencial. Ela permite que os participantes do mercado entrem e saiam de posições de risco. Comprar ou vender um ativo com liquidez limitada pode expô-lo a um risco muito maior.
Sem dúvida, é possível alocar algum dinheiro em criptos emergentes, mas esse investimento é uma aposta que pode não dar certo. Eu pessoal estou disposto a perder o dinheiro que invisto em criptos. No entanto, fazer trading é outra história. Eu sigo tendências nos mercados, na medida em que refletem a mentalidade de rebanho dos participantes do mercado.
Eu só faria trading em criptos com capitalização superior a US$1 bilhão que, em 18 de maio, eram menos de 100. Estratégias agressivas de trading requerem níveis maiores de liquidez. Por isso, o limiar aceitável nesse casso seria mais de US$ 10 bilhões. Só existem 17 criptos, ou 0,17% da classe, que possuem esse nível de massa crítica.
Pense na biologia ao lidar com as criptomoedas, já que existem tokens demais no ciberespaço. A maioria age como uma esponja que suga seus investimentos sem qualquer previsão de retorno. Os mais adaptados sobreviverão ao “abate” do rebanho em breve.