Se eu fosse contar qual é a pergunta que eu mais recebo nas redes sociais, certamente seria "qual o melhor título de renda fixa para o momento atual?"
Quem me acompanha há um tempo mínimo sabe que eu costumo explicar que cada título de renda fixa funciona de uma forma diferente e se beneficia de um cenário macroeconômico. Tem títulos que ganham quando as taxas caem. Tem títulos que ganham quando as taxas sobem.
Estar no título certo no momento macroeconômico correto pode potencializar muito seus retornos de renda fixa, inclusive gerando, em alguns momentos, retornos tão agressivos quanto os do mercado de ações.
É por isso que me perguntam qual o melhor título para o momento atual, pois já sabem que cada momento demanda um título diferente e que não tem um título que é bom sempre.
Então vamos lá responder a essa pergunta.
É possível obter, com renda fixa, retornos de 30, 40 ou até 50 por cento. Para isso, você precisa que as taxas de juros de mercado caiam. Quanto maior o prazo do título, maior o impacto de uma queda na taxa no preço do seu papel.
Porém, isso demanda que você tenha um cenário de queda estrutural nas taxas de juros, principalmente longas.
Foi, por exemplo, o que aconteceu de 2016 a 2020. Tivemos uma tendência longa e contínua de taxas cada vez menores.
Para que esses tipos de títulos e fundos continuassem performando bem nos próximos anos, essa tendência de queda nas taxas teria que continuar.
Acontece que eu não estou confiante que isso vai acontecer. Pelo contrário, acho que o risco maior é de alta nessas taxas.
Os motivos que mais me preocupam são 2:
1. Ano que vem é ano de eleição
Isso impacta o governo atual, que começa a soltar o pacote de bondades e aumento de gastos para aumentar a popularidade pré-eleição, piorando o fiscal.
Mais do que isso, coloca um ponto de interrogação na política fiscal e econômica dos próximos 4 ou 8 anos no Brasil. A depender de quem ganhar as eleições, podemos ter um governo gastão, que não respeita o Teto de gastos, que não procura uma política fiscal responsável. Isso tudo em um momento em que o país atingiu uma dívida-pib de quase 90 por cento do PIB, o que deixa o cenário bem arriscado.
Quanto maior o risco, maior é a taxa que o mercado coloca nos títulos longos (exatamente aqueles que mais têm potencial de ganhos ou prejuízos de marcação a mercado).
2. Juro americano pode subir ano que vem
A taxa de juro americana está em torno de zero, mas pode entrar em uma tendência de alta. A alta da taxa lá impacta diretamente as taxas aqui, pois aumenta o prêmio de risco que o mercado pede.
Os últimos dados de inflação nos EUA vieram bem acima do que o mercado esperava, acumulando mais de 5 por cento de inflação anualizada. Além dos dados de inflação, os dados de atividade também mostram um aquecimento importante, assim como os dados de emprego.
Tudo isso pode levar os EUA a terem que reduzir e depois parar o programa de recompra de títulos e, em seguida, subir a taxa de juros.
Olhando para esses 2 riscos importantes que vejo no mercado hoje, tenho pouquíssima vontade de tomar grandes riscos comprando títulos longos no Brasil. Acho que o momento não é para ficar arriscando muito para tentar ganhar retornos agressivos com renda fixa.
O momento é para ser conservador, tomar pouquíssimo risco, manter-se com bastante liquidez e no curto prazo.
Estamos naqueles períodos em que segurança é o nome do jogo! Falando em segurança e liquidez, só tem 1 título que é campeão absoluto no momento: o bom e velho Tesouro Selic.
A trajetória de alta da taxa Selic também está ajudando a tornar esse título mais atrativo e tornando a nossa posição conservadora cada vez mais rentável. É útil juntando com o agradável. Está fácil escolher.
Vão ter momentos de apostar alto na renda fixa e colher frutos. Este não é o momento para isso, agora é hora de paciência!
Um abraço e boa semana.