Uma vez, durante uma das LIVES que fizemos no canal da Nord no YouTube, perguntei para o Bruce qual ele achava que era o melhor seguro para se ter, quando estamos com medo de uma crise no mercado.
Esse questionamento é muito importante nos dias de hoje, não só porque ontem a bolsa chegou a sua terceira queda consecutiva, mas porque estamos diante de um cenário binário, no qual a aprovação ou não da reforma da previdência irá ditar os rumos do mercado brasileiro este ano (e nos próximos).
O Bruce, sem titubear, me respondeu na lata:
O melhor seguro é comprar barato!
Nessa pequena frase estão embutidos diversos conceitos importantíssimos da gestão de ativos.
Um deles é que preço não é a mesma coisa que valor. Preço é aquilo que você vê na tela do seu homebroker. Na terça-feira, por exemplo, diversos preços caíam em solidariedade à queda das bolsas globais e das commodities. Apesar da baixa nos preços, nada mudou para várias empresas que seguiam tendo muito valor, gerando muita receita e fazendo seu dever de casa.
Ou seja, para muitas ações de valor, o mercado na terça foi apenas uma promoção. Foi um cartaz de “no nosso aniversário, quem ganha é você”. Sem significar absolutamente nada a respeito da melhora ou piora do fundamento de tal ação.
Outra lição importante é que, quando você vai comprar um ativo, é essencial que você compre barato. Você precisa de uma margem de segurança para que, se algo pequeno mudar no fundamento, esse ativo não se torne caro de repente.
O melhor exemplo que posso dar aqui é o mercado atual de juros. Inicialmente, quando montei minhas posições em títulos públicos, lá no início de 2016, as taxas nominais giravam em torno de 16 por cento. Esses preços estavam completamente fora do fundamento. Mesmo que a inflação subisse um pouco em um determinado mês, ou se o câmbio se desvalorizasse alguns pontos, essa taxa de juros seguiria muito mais alta do que deveria ser. Ela estava muito distante do seu fundamento, me dando bastante margem de segurança para fazer esse investimento.
Hoje, as coisas mudaram. As taxas nominais estão em 8,5 por cento, nível de mínima histórica. Elas nunca estiveram tão baixas. Ficar exposto em juros agora, principalmente em juros longos, é investir em um ativo que não tem absolutamente nenhuma margem de segurança.
Se o câmbio sobe por um revés externo, o mercado vai precificar um impacto altista na inflação, jogando os juros longos lá para cima.
Se um dado de inflação atual surpreende para cima, o mercado vai antecipar que o BC precisará subir mais os juros, jogando as taxas futuras lá para cima.
Se a reforma da previdência não passar, ou passar desidratada, o mercado vai entender que a dívida brasileira entrará em uma trajetória explosiva, jogando as taxas de juros lá para cima.
A única coisa que jogaria a favor dos aplicados em juros seria um novo ciclo de queda da Selic, por conta da atividade fraca. Mas o Banco Central tratou de acalmar os ânimos do mercado e dizer que nenhuma alteração será feita no curto prazo.
Isso, para mim, é um exemplo clássico de ativo caro. Sem margem de segurança. Você compra juros longos, e fica morrendo de medo de qualquer notícia de jornal.
É um risco mal alocado.
Tem muita coisa barata no mercado, que mesmo no caso de uma crise, ainda seria um excelente ativo para se carregar.
Então, depois de ver a bolsa caindo por três dias consecutivos, olhe para a sua carteira e pergunte:
Eu tenho ações baratas? Ações que têm uma boa margem de segurança? Se eu soubesse que o mercado irá cair 20 por cento, eu ainda acharia a assimetria desse meu ativo muito boa?
Na quarta-feira, por exemplo, saíram os dados de inflação de março. O IPCA subiu 0,75 por cento, enquanto o mercado esperava alta de apenas 0,63 por cento. Isso levou a inflação acumulada nos últimos 12 meses de 3,89 (bem abaixo da meta de 4,25 por cento) para 4,58 por cento (bem acima da meta). Todos os núcleos subiram, tirando o de serviços.
E aí investidor aplicado em juros? Tá com medo?
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