Há no ambiente expressado pelos números do mercado financeiro e sua volatilidade que é crescente o sentimento de que o país está “sem lenço e sem documento” e sendo, afora todos os seus desalinhamentos políticos, econômicos e de política fiscal e monetária, amplamente derrotado pelo “vírus” do covid 19, que no momento atual parece absolutamente incapaz de ser controlado em sua intensidade de malefícios, fazendo o país o maior exemplo negativo mundial.
Não bastasse os reflexos sobre as economias emergentes da recuperação das economias desenvolvidas, com ênfase aos Estados Unidos, que provoca refluxo dos capitais nelas investidos na direção do mercado americano, face à recuperação com inflação e elevação do juro pelo mercado, alguns, como no caso do Brasil, fornecem fortes “inputs” próprios geradores de insegurança e incertezas.
Afinal, a crise da pandemia do coronavírus nunca esteve tão acentuada como neste momento, e, ainda há quem duvide de sua capacidade destrutiva e impactante sobre as perspectivas do Brasil, cujas projeções, neste momento, são meras citações abstratas, não há fundamentos críveis que deem sustentabilidade a quaisquer que se façam neste ambiente.
O quadro da crise sanitária, agravada cada vez mais como consequência do negacionismo, seguramente tem capacidade de neutralizar fortemente a atividade econômica, pois impõe a restrição às tentativas de retorno gradual à normalidade, e a vacina que é a esperança de recuperação deste quadro desalentador tem um processo lento de imunização da população, mas sabidamente não exclui a combinação com a continuidade das posturas protetivas preventivas ao contágio, o que a realidade evidencia ser tarefa difícil no Brasil por falta de conscientização.
E este quadro severamente agravado da crise sanitária encontra o país com sua capacidade de reagir absolutamente dilapidada, sem recursos e sem novas fontes de financiamentos, tornando extremamente difícil a decisão do governo em conceder mais uma rodada de auxílio emergencial à população carente que beira à miséria e acentua a pobreza.
O país retoma a convivência com um fator bastante íntimo de sua relação, a inflação está de volta e por mais que se façam manobras para atenuar sua realidade e lhe coloquem o rótulo de temporária, está efetivamente de volta e em estado de impulsão com a elevação dos preços das commodities refluindo para impacto interno afetando toda cadeia alimentar a partir da consistente depreciação do real.
Afora isto, os combustíveis sofrem o impacto da elevação do preço do dólar no nosso mercado combinado com o comportamento do mercado de petróleo global, e repercutem com elevação de preços localmente que avilta toda cadeia produtiva que é suprida 70% por transporte rodoviário.
Há um distanciamento entre a recuperação da atividade econômica e superação da crise do coronavírus pelos países desenvolvidos e o Brasil parece estar seguramente na contramão deste movimento, o que deixa um sentimento de que o direcionamento do governo esteja bastante indefinido e sem perspectivas.
Com a mudança do comando do Senado e da Câmara se nutriu a expectativa de que “tudo” que parecia estar estagnado iria ganhar dinâmica, mas o sentimento de relativa inércia está voltando a predominar e não se pode descartar o retorno do desalento.
A PEC emergencial vem sendo desidratada e sua votação postergada e o nefasto o governo retomou a prática de elevação de tributos atingindo o sistema financeiro, que, naturalmente, o repassará em seus custos devolvendo o ônus a sociedade. Ledo engano, quem pagará a conta não será o sistema financeiro, mas toda a sociedade.
A inflação americana propagada pelos programas assistenciais de grande monta e as sinalizações prospectivas de elevação do juro dos T-Bills careiam para o mercado financeiro de juro grande parte dos recursos estrangeiros que estão alocados no exterior, provocando o refluxo destes capitais.
É o caso brasileiro, onde a saída de capitais estrangeiros da Bovespa e a contenção de novos aportes, impacta no mercado de câmbio fato que agregado às incertezas internas prevalecentes, com ênfase à crise fiscal, alavanca o preço da moeda americana no nosso mercado.
O Ibovespa derreteu e tudo, sem que isto seja verdadeiro, se atribui ao desconforto criado pela intervenção presidencial na gestão da Petrobrás, mas há uma parcela de desinvestimento também motivado pela alta do juro dos T-Bills americanos e a inércia da nossa atividade econômica e incertezas.
Ainda há pontos de suporte para a Bovespa após o baque Petrobras (SA:PETR4) que são os papéis ligados às commodities, que continuam aquecidos.
O dólar deve persistir pressionado, tanto no mercado à vista pela saída dos investidores estrangeiros quanto no mercado futuro pela demanda de proteção ante incertezas, e não nos parece razoável a afirmação do Presidente do BC de que uma parte da alta não tem fundamento, quando sabidamente ela decorre também das ações imperativas no campo da política monetária, que vem sendo proteladas.
Queimar reservas para conter explosão do preço da moeda americana é um paliativo, bem como alegar que o país tem reservas cambiais, pois na realidade o BC sabe que a política monetária está atrás da curva, por isso há forte expectativa de que a taxa SELIC venha a ser elevada e de forma mais acentuada na próxima reunião em meados deste mês.
Até lá, volatilidade, muita volatilidade.