A inflação global não tem dado descanso. Diversos são os setores que têm experimentado uma alta de preços exorbitante nos últimos meses.
Além dos desajustes das cadeias de suprimentos ocorridos em função da pandemia, o estímulo monetário dos bancos centrais e, posteriormente, a guerra entre Rússia e Ucrânia são um dos causadores desse fenômeno.
Especificamente no segmento alimentício, o problema se alastrou no início deste ano com o começo da guerra, haja visto que ambos os países são importantes exportadores globais de diversas commodities agrícolas. A Ucrânia, por exemplo, foi o quarto maior exportador mundial de milho e o sexto maior exportador de trigo na última safra.
E se engana quem pensa que esse é um problema exclusivo de um país emergente. Alguns estudos têm mostrado como a deterioração de renda tem afetado o comportamento do consumidor em países desenvolvidos.
De acordo com o Departamento Nacional de Estatística do Reino Unido, 44% dos adultos disseram que estão comprando menos alimentos devido à alta dos preços. Entidades como a “The Food Foundation” detectaram que a insegurança alimentar já afeta mais de 15% dos britânicos nos últimos meses, contra 7,6% antes da pandemia do covid-19.
Esse número é ainda maior quando avaliado globalmente. De acordo com a ONU, 30% da população mundial enfrenta insegurança alimentar moderada ou severa – um número bastante impressionante, que enseja cuidados e medidas eficientes para reversão deste cenário.
Celeiro do mundo, o Brasil tende a se beneficiar com o crescimento da demanda pelos próximos anos. Líder no comércio global de soja e milho, com 36% de mercado, o país está na frente inclusive dos EUA, que possui 33% de mercado.
Essa diferença deve aumentar ainda mais haja visto que 70% da área cultivável dos EUA já está ocupada, contra apenas de 25% do Brasil, onde é esperado um crescimento de 40% da produção até 2031.
Mas é preciso separar o joio do trigo. Não é porque o país tem uma enorme oportunidade em mãos que todas as empresas que atuam no segmento se beneficiarão dessa maré positiva.
Essa linha de raciocínio vale também para demais segmentos. Não é porque o maior investidor de todos os tempos investiu na “fintech roxinha brasileira” que você deva investir também.
E você também não deve comprar ações de uma rede social apenas porque o homem mais rico do mundo anunciou que compraria a empresa. Ansiosos com o anúncio realizado no início de abril, diversos investidores compraram ações do Twitter, levando-o a negociar acima do preço proposto por Musk. Com a desistência da operação nos últimos dias, o ativo desabou e já acumula desvalorização superior a 35% em poucas semanas.
O mais importante para o investidor é a realização da gestão de risco de sua carteira. Afinal, a atividade de investir não é sobre não correr riscos, mas sobre como administrá-los.
Parafraseando Howard Marks, um bom construtor é capaz de evitar falhas em sua construção, enquanto um construtor ruim incorpora falhas a sua construção. Pode ser difícil diferenciar um do outro enquanto não há um terremoto.
Forte abraço