Quando comento sobre os extremos do mercado, ou sobre as percepções extremadas, não faltam exemplos para reafirmar a ideia. A semana passada nos trouxe mais uma grande lição.
Na segunda-feira (08/03) tivemos o anúncio da decisão do ministro Fachin, invalidando as condenações do ex-presidente Lula. De uma quase estabilidade passamos para uma queda de 4%, com o Ibovespa encerrando abaixo dos 111 mil pontos.
A sexta-feira (12/03) foi finalizada com o índice no patamar dos 114 mil pontos.
Mas qual foi a mudança drástica que mudou essa percepção de catástrofe e fez o Ibovespa subir 3% no resto da semana?
Tivemos andamentos de pautas importantes tanto no mercado interno, como também no exterior. Isso não pode ser ignorado.
A aprovação da PEC emergencial pelo Senado e pela Câmara no Brasil ajuda a endereçar um grande fator de risco ligado à condição fiscal do país. Sabemos que outros passos serão necessários, que o risco ainda é alto nesse aspecto, mas ao menos o curto prazo foi encaminhado.
Nos Estados Unidos, a aprovação do pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão, por mais que já estivesse bem encaminhado, trouxe um ânimo extra aos investidores. Esforços para manter ou aquecer a economia norte americana são sempre bem vistos. É claro que a conta vai vir, mas isso é preocupação para daqui uns dias. Não é mesmo?
De qualquer maneira, mesmo com essas duas boas notícias, que com certeza fizeram preço no mercado, tendo a acreditar que a reação positiva na semana também possa estar ligada a uma releitura do efeito Lula.
A forte reação daquela segunda-feira obviamente veio do medo com o ex-presidente se tornando elegível. A última grande exposição dele foi em 2019, após ter saído da prisão. Naquela ocasião, Lula estava raivoso, revoltado, polarizador. Ligar ele à política econômica da ex-presidente Dilma e defendida por Haddad na campanha de 2018 era o caminho natural.
Por mais que o presidente Bolsonaro esteja longe de ser um liberal, ainda temos o ministro Paulo Guedes ao seu lado. A possibilidade de quebra da tentativa de ajustes na nossa economia e a retomada do foco no gasto desenfreado trazem calafrios.
Nesse sentido, surgiu o medo do presidente querer assumir discurso e política populistas, a fim de combater o novo adversário. Populismo não só me desagrada, como ao restante do mercado. Vivemos e ainda estamos vivendo as consequências de determinadas ações anteriores.
É sabido que políticas populistas levam a gastos elevados, endividamento em alta, juros subindo e economia em recessão. Essa é a trajetória, não tem jeito. Já gastos contidos indicam endividamento controlado, juros baixos, empresários confiantes e economia crescendo.
Trazendo esses aspectos, é fácil entendermos uma queda de 4% em um dia. Mas onde entra a alta seguinte?
Acredito que o tom moderado adotado por Lula no seu primeiro discurso surpreendeu a todos. Não que o pronunciamento não tenha atacado Bolsonaro, mas a tentativa de parecer mais conciliador, tentando falar para o país e não só para os petistas, soou de uma maneira positiva.
Quem está a mais tempo no mercado deve lembrar do receio com a eleição do ex-presidente em 2002, dos discursos até então adotados, e dos compromissos assumidos após a eleição. Ignorando todos os escândalos de corrupção ocorridos ao longo do seu governo, o período foi bom para os investimentos. É claro que houve um boom de commodities (será que vem outro?), mas a bolsa não subiu só por isso.
Um parêntese, falei para ignorar, mas eu não ignoro a corrupção. Sabemos quem paga a conta no final da história. Só estou trazendo um fato.
Fechado o parêntese, o “Lulinha Paz e Amor” não desagrada ao mercado. A política econômica era uma até 2008 e outra após a crise. A marolinha mudou o direcionamento da economia e sabemos o resultado. Mas antes disso o encaminhamento era bom.
O discurso menos bélico do ex-presidente Lula gerou uma mudança de postura no próprio presidente Bolsonaro. Vimos aparições com máscara, defesa das vacinas, etc.
O que eu acho de tudo isso?
Talvez, ao invés de uma eleição com tons agressivos, mais extremada, como em 2018, estejamos rumando para uma eleição (sem dúvida) de opostos, mas com tentativas de conversar com uma gama maior da população.
A eleição de 2022 começou. O posicionamento das peças já está ocorrendo e eu acredito que veremos Bolsonaro, Lula e os demais candidatos querendo conversar com mais gente. Isso pode ser bom.
Quando pensamos em investimentos, separar fatos do nosso desejo pessoal é uma estratégia que pode trazer frutos muito positivos. Pessoalmente, políticas econômicas mais austeras me auxiliam a dormir melhor. Mas como a questão aqui não é a qualidade do sono e sim entender como o mercado se comporta, sigo analisando os fatos. Recomendo que você faça o mesmo.
Um abraço.