Com base nos resultados da atividade econômica ao longo da crise da pandemia até dezembro último, era crível que a recuperação sinalizava tendência de ocorrer em “V”, porém o retorno gradual e agora acentuadíssimo da pandemia com números avassaladores, já sugere que nem em “K” será, mas provavelmente haverá retrocessos fortes e somente será possível ocorrer em “U”, ainda prevalecendo, no momento, muitas incertezas.
A pandemia no Brasil surpreende o mundo, há causas evidentes que têm sido exaustivamente enunciadas, entre as quais a lentidão na vacinação decorrente da desorganização e negacionismo conflitante persistente, e provoca novas restrições à atividade econômica e afetando a mobilidade das pessoas, provocando desalento e inquietação.
O mercado de trabalho que sinalizava discreta recuperação tende a registrar retrocesso e queda no 1º semestre, com consequente queda de renda, o que torna mais imperativo o retorno dos programas assistenciais por parte do governo, que estão com um “gap” de 3 meses de interrupção, e que deverão ser recompostos com a aprovação da PEC emergencial, contudo em bases reduzidas e por tempo determinado curto e maior rigor na concessão visto que houve abusos graves na concessão anterior.
Todos sabem que o governo tem parcos recursos.
O quadro prospectivo para o Brasil, pelo menos no curto/médio prazos, é desfavorável e confronta com comportamentos positivos das economias desenvolvidas que acabam provocando reflexos negativos ao país, que tem poucos instrumentos para se defender e pode ser levado a dar uma guinada na sua política monetária.
O mercado americano receberá um “input” de US$ 1,9 Tri aprovado para incrementar a retomada da atividade econômica e ancorar a renda dos mais necessitados, mas a despeito disto já revelou um “payroll” forte o que evidencia que está firme na trajetória de recuperação.
A liquidez do mercado americano deverá provocar aquecimento da inflação pelo menos no curto/médio prazo, mas a despeito do FED ver o fato com bons olhos e afirmar que não mudará a sua política monetária, os yelds dos Treasuries se abrem e passam a atrair recursos do mundo todo para o mercado financeiro americano, provocando em contrapartida a valorização do dólar.
A China anuncia dados de recuperação e suas exportações em fevereiro voltaram a bater recordes.
A retomada da atividade das grandes economias tende a pressionar o preço do petróleo, visto que a Opep já anunciou que manterá em abril a mesma política de março, e, como consequência, os preços desta commodity tem viés de alta.
A combinação da elevação contínua do preço do dólar americano no nosso mercado impulsionado por causas internas já precificadas e mais as pressões externas do comportamento da moeda no mercado internacional, com a alta do petróleo tem impactos inflacionários indefensáveis na economia brasileira.
Afeta toda a cadeia produtiva já que o modal brasileiro de transportes é 70% rodoviário, e agrega pressão nos preços dos alimentos no Brasil, as commodities, que repercutem internamente a elevação dos preços internacionais.
O BC/COPOM pode ser levado a dar uma forte guinada na política monetária, pois precisará utilizar de todos os instrumentos para mitigar os impactos nefastos da alta do dólar e este próprio viés de alta da moeda no nosso mercado.
O enfrentamento das pressões sobre o preço da moeda americana com oferta de moeda à vista são corretas face à ocorrência de efetiva demanda, contudo agir com ofertas de novos contratos de swaps cambiais no mercado futuro, nos parece paliativo, pois o corretivo certo seria a elevação do juro.
As perspectivas para a Ibovespa seguem concentradas nos papéis ligados a commodities e ao setor financeiro, já que os demais para serem sustentáveis precisam da retomada da atividade econômica. É possível que com o retorno, ainda que menor, do programa assistencial do governo, as empresas de E-commerce sejam, outra vez, beneficiadas.
Já para o dólar a perspectiva é de viés de alta, com muita volatilidade e alguns movimentos bruscos, o que é ruim para os negócios.