O dinheiro fácil das rodadas de investimento no mercado de Venture Capital secou, e agora estamos vendo uma correria de startups buscando dinheiro para sustentar o inverno financeiro que chegou. O ponto é que a régua subiu e aquelas rodadas “relâmpagos”, que existiam em fundos e em plataformas de crowdfunding, já não existem mais. O FOMO destas rodadas acabou e o investidor está muito mais criterioso ao decidir em qual startup ele irá investir.
Aqui há um ponto muito importante. Fundos conseguem fazer rodadas relâmpagos, pois possuem analistas capazes de avaliar rapidamente todos os pontos de uma startup. Investidores pessoas físicas, porém, na maioria das vezes não sabem o que estão fazendo e “compram” pela pura emoção. Investimento e emoção são inversamente proporcionais. Invista com o coração e você terá prejuízo.
Voltando ao assunto da escassez de dinheiro, o raciocínio por trás dessa criteriosidade é o seguinte. Com a Selic em alta, na casa dos 12,75% ao ano, o investidor que irá aportar R$ 20 mil, R$ 50 mil ou mais em uma startup, começa a perceber que o retorno financeiro em uma aplicação atrelada à essa taxa compensará muito mais, visto que o risco em uma renda fixa é muito baixo.
Uma curiosidade é que, quando a inflação estava baixa, os investidores que possuíam um tíquete médio de investimento de R$ 1 mil à R$ 5 mil reais realizavam aportes mensais. Mas, como a inflação subiu, estes mesmos investidores já não aportam mais regularmente, pois a mesma quantia pode ser usada para pagar despesas pessoais.
Outro ponto interessante é: os fundos que estavam nas séries A, B e C, desceram o degrau para rodadas mais baixas, pois não há mais abundância de dinheiro, visto que quem está por trás das cotas vendidas pelos fundos são as pessoas físicas. E como a inflação subiu, o investidor migra para a renda fixa e aporta menos em investimentos mais arriscados.
Resumindo, o investidor está muito mais criterioso para abrir a carteira e decidir colocar seu dinheiro suado. Se o empreendedor quiser captar alguma rodada, terá que mostrar valor em sua startup com crescimento de receita, aumento da quantidade de clientes, busca do breakeven ou mostrar os lucros.
Empreendedores com a mentalidade de cashburn, cujas startups mais parecem um playground, aumentando duas ou três vezes o pró-labore depois da captação, serão descartadas rapidamente nesse cenário de escassez. Uma coisa que alguns empreendedores não entendem é que o dinheiro está sendo investido na startup e não para bancar custos da vida pessoal do empreendedor. É importante ressaltar que a escassez financeira é relativa. Na realidade, dinheiro ainda tem, só que está mais seletivo.
O Brasil ainda é um celeiro de ótimas startups, pois os inúmeros problemas que há no país forçam os empreendedores a buscarem e encontrarem soluções que os resolvam. Só o site ReclameAqui recebe em média 40 a 45 mil reclamações diariamente. Se isso não for motivo suficiente para empreender e encontrar soluções para os diversos problemas relatados, então não sei dizer qual pode ser o objeto ou fato motivador.
De qualquer forma, se você quer empreender saiba que é um mundo difícil, cheio de problemas, solidão, muito trabalho e pouco reconhecimento até que você atinja um determinado nível. Quem era Oliver Velez, CEO do Nubank (SA:NUBR33), quando a startup tinha um ano de vida? Provavelmente, mais um doido querendo brigar com o mercado financeiro e a burocracia brasileira. Porém, quem ele é hoje?
E aqui vai uma dica para quem empreende já pensando em buscar rodadas de investimento. Estejam preparados para responder a seguinte pergunta: Por que você quer empreender se este mundo é tão difícil, ruim, desafiador e complicado? Ter a resposta para esse questionamento é um passo importante em um momento de dificuldade econômica como o atual. Não ter é uma demonstração de falta de objetivo. Startups sem um norte não atraem investidores, ainda mais nesse cenário de escassez financeira e seletividade.