A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos surpreendeu os agentes de mercado e trouxe novas perspectivas para a economia mundial. Com ampla margem de vitória e controle Republicano tanto no Senado quanto na Câmara, o cenário norte-americano apresenta uma configuração rara e desafiadora.
Em um bate-papo com o Fábio Guarda, sócio e gestor da Galapagos Capital, discorri um pouco sobre este tema e quero compartilhar com vocês, leitores do Investing.
Segundo Fábio, historicamente, os mercados gostam do equilíbrio entre os poderes, pois isso garante um sistema de freios e contrapesos. Contudo, ressalta, uma unidade de poder Republicano como a atual pode trazer volatilidade e decisões menos moderadas, o que gera incertezas no curto prazo.
Donald Trump retorna ao cargo de presidente com uma agenda econômica clara e, em muitos aspectos, mais estruturada do que em seu primeiro mandato.
Sua retórica protecionista continua sendo um eixo central, com a promessa de redução de impostos corporativos e pessoais, enquanto eleva tarifas sobre produtos importados.
A ideia de retorno da produção industrial para os Estados Unidos está no coração dessa estratégia.
De acordo com Fábio, Trump enxerga na política de tributação uma forma de incentivo ao emprego doméstico e de desestimulação da dependência de mercados estrangeiros, especialmente da China.
Essa postura não apenas promete uma escalada na guerra comercial, mas também reforça a visão de que os próximos anos serão marcados por negociações tensas e imprevisíveis entre as duas maiores economias do mundo.
Para o Brasil, esse cenário pode representar um desafio duplo.
Por um lado, o alinhamento comercial e político com a China, maior parceiro comercial brasileiro, pode tornar o país vulnerável às consequências de uma relação mais acirrada entre Washington e Pequim.
Por outro lado, há sinais de que Trump buscará fortalecer laços com a América Latina, especialmente em um momento em que lideranças regionais como Javier Milei, na Argentina, demonstram apoio explícito ao presidente americano.
Essa aproximação pode abrir oportunidades para o Brasil, caso o país consiga equilibrar suas relações com as duas potências.
No mercado financeiro, as respostas iniciais à vitória de Trump foram positivas.
O dólar se fortaleceu, enquanto os títulos do tesouro americanos exibiram volatilidade controlada. Certos setores, como o de commodities, tiveram um sólido positivo, com destaque para o urânio e para as criptos, como o Bitcoin, que apresentou valorização.
Em resumo, para Fábio, a montagem da equipe econômica de Trump será crucial para determinar se essa tendência inicial será sustentada ou se ajustes bruscos serão necessários à medida que as políticas começarem a ser implementadas.
Um ponto de destaque, segundo analistas, é a robustez da equipe que acompanha Trump neste retorno ao poder.
Ao contrário de 2016, quando sua gestão foi marcada por declarações imprevisíveis, o cenário atual sugere maior coesão e experiência por parte de seus assessores.
Nomeações estratégicas, como a de uma mulher para a secretaria geral, reforçam um esforço em construir uma imagem menos radical e mais articulada.
Essa mudança de postura é vista como um passo importante para reduzir a volatilidade causada por declarações intempestivas, tão características do primeiro mandato.
Para os investidores brasileiros, o momento exige atenção redobrada.
O equilíbrio fiscal doméstico continuará a ser um ponto crítico para 2025, especialmente diante do fortalecimento do dólar contra mercados emergentes.
No cenário internacional, a perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos aumenta a competição global por capital, fortalecendo a moeda americana.
Fundos de renda fixa e multimercados com exposição internacional podem encontrar oportunidades nesse contexto, mas o curto prazo deve ser marcado por desafios.
Em resumo, o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos não traz respostas definitivas, mas aponta para um período de ajustes, tanto no mercado interno quanto no cenário global.
Para o Brasil, o impacto será determinado pela capacidade de navegação entre as pressões externas e internas, equilibrando sua relação com potências econômicas e ajustando sua política fiscal.
O momento exige cautela, mas também abre espaço para oportunidades que, invariavelmente, acabam aparecendo nesses períodos.
Pense nisso e até o próximo artigo!