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O futuro dos IPOs: Entre as incertezas políticas e a busca por liquidez

Publicado 09.10.2024, 13:00
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Depois de quase três anos sem ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) no Brasil, o mercado esperava que a "janela" de oportunidades reabrisse ao longo de 2024. Inicialmente previstas para o período entre abril e junho, as previsões agora indicam que esse mercado deve começar a reaquecer apenas em 2025. O adiamento é influenciado pela dinâmica das taxas de juros e eleições presidenciais nos Estados Unidos, além de volatilidade nos mercados globais devido a tensões geopolíticas.

Os resultados do último Barômetro de IPO da EY, empresa especializada em auditoria e consultoria, mostram que o sentimento global para IPOs permaneceu contido no primeiro semestre de 2024: um total de 551 empresas abriram capital em todo o mundo, uma queda de 12% em comparação com o mesmo período do ano passado. O volume de emissão também encolheu 16%, totalizando USD 52,2 bilhões.

Nos EUA, o mercado de IPO viu uma recuperação moderada no primeiro semestre do ano. O otimismo cauteloso persiste à medida que avançamos para o segundo semestre, com a eleição presidencial impactando as movimentações. 

No Brasil, o mercado aguardava o início de corte de juros pelo Federal Reserve (FED), que ocorreu em setembro, para estimular a retomada das ofertas. Com os juros americanos em queda, há uma tendência de deslocamento de capital dos títulos de renda fixa americanos para mercados emergentes, como o Brasil. Esse fluxo de capital pode aumentar a liquidez no mercado brasileiro, facilitando a realização de IPOs por empresas locais.

Por outro lado, o aumento dos juros no Brasil para 10,75% eleva o custo de capital para as empresas, desincentivando a realização de IPOs. Muitas empresas se alavancaram quando a Selic estava em níveis historicamente baixos e agora estão sendo forçadas a vender ativos não core para melhorar seus balanços. Além disso, a alta taxa de juros impacta negativamente o valuation das empresas e também atraem investidores para a renda fixa, que oferece retornos mais seguros, reduzindo o interesse em investimentos mais arriscados, como ações. 

Dado este momento de mercado, existe uma grande demanda reprimida tanto de empresas emissoras quanto de investidores. Algumas empresas de destaque estão na fila para acessar o mercado, como Cimed, Votorantim Cimentos, Aegea e Inspirali, do segmento de educação. Em busca de alternativas, empresas brasileiras estão optando por abrir capital na bolsa americana, como fez recentemente a Moove, negócio de lubrificantes do grupo Cosan (BVMF:CSAN3), que realizou seu IPO na NYSE.

A reabertura do mercado americano no primeiro semestre do ano levou outras empresas brasileiras a considerarem a listagem no exterior. Até setembro de 2024, 94 ofertas foram realizadas nos EUA. No primeiro semestre deste ano, os IPOs no país movimentaram US$ 20,7 bilhões, o maior volume desde 2022. A NYSE sozinha levantou US$ 12 bilhões, enquanto as listagens na Nasdaq somaram US$ 8,7 bilhões. O mercado foi impulsionado pelo alívio nas preocupações de recessão e um rali no preço das ações. 

No entanto, o mercado americano também enfrenta desafios, e a volatilidade associada ao ano eleitoral de 2024 deve impactar essas ofertas no segundo semestre. Em períodos eleitorais, a incerteza política aumenta a cautela dos investidores, levando muitas empresas a adiarem seus IPOs até que o cenário esteja mais claro. Embora nunca seja fácil cronometrar o momento ideal perfeitamente, algumas empresas decidiram que é melhor esperar até após a eleição presidencial dos EUA para condições de mercado mais estáveis.

Para empresas brasileiras, uma vantagem significativa no mercado americano é a possibilidade de acessar investidores especializados em setores específicos e a menor diluição do controle acionário, graças à estrutura de diferentes classes de ações. Com a maior liquidez, os fundos de private equity que investem em empresas brasileiras também voltaram a considerar a bolsa americana como uma porta de saída – lá fora o valuation das companhias em alguns setores está menos descontado que o de empresas listadas na bolsa brasileira. No entanto, os custos são mais altos em comparação ao que temos no Brasil e a legislação é mais rígida. Além disso, o tamanho mínimo de oferta para um IPO nos EUA é de aproximadamente US$ 500 milhões, restringindo o apetite a empresas de maior porte. De toda forma, a janela até o final do ano deve fechar, devido às eleições em novembro.

Na Europa, após um início animado em 2024, a atividade de IPOs também “empacou” neste segundo semestre devido a volatilidade do mercado.  No primeiro semestre, as empresas levantaram cerca de US$ 13,3 bilhões até setembro, mais que o dobro do valor do mesmo período de 2023. Mas este panorama mudou drasticamente e as projeções indicam uma pausa na atividade, com algumas empresas cancelando a oferta como foi o caso da Golden Goose e Tendam Brands.

Portanto, o que temos nesse momento é uma janela para novas ofertas públicas iniciais em um limbo provocado pela volatilidade política e econômica, delineando um ano desafiador para o mercado de capitais no Brasil, Estados Unidos e Europa. As expectativas em relação ao ano de 2025 são grandes, um cenário a se confirmar se não tivermos grandes surpresas pelo caminho.

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