Será que o fator psicológico interfere em nossos trades? Qual é o papel das finanças comportamentais? O objetivo dessa postagem é fazer uma reflexão sobre essas perguntas.
No momento de comprar um ativo a pessoa tende a ser racional (pelo menos deveria). Faz um estudo mínimo para saber o potencial de valorização do ativo e o risco embutido. Dessa forma, cria uma estratégia e espera que o ativo se comporte conforme a mesma, ou seja, suportando um limite de perda e esperando um potencial de ganho.
No entanto, não é isso o que acontece. O trader não respeita os limites estabelecidos e deixa o plano estratégico previamente construído de lado. Logo após vender a ação, depois da mesma cair bem abaixo do limite inferior estabelecido (o famoso stop loss), ela começa a subir e atinge patamares maiores que o limite estabelecido como potencial de ganho. Esse comportamento está ligado ao orgulho e medo. Orgulho de não suportar as perdas que depois se transforma no medo de perder tudo! Quantas vezes já erramos na Bolsa de Valores? Quantas vezes vamos continuar errando? Por que não seguimos nosso plano?
Na renda variável a volatilidade é muito grande. Um dia é sempre diferente do outro. O papel sobe e desce de acordo com o humor do mercado no curto prazo. As pessoas digerem as informações publicadas pelas companhias de modo diferente. Um exemplo clássico é quando sai um Fato Relevante da companhia e a ação desaba no dia seguinte. Isso acontece porque quem comprou bem antes já estava apostando nesse fato antes, e ao se concretizar, vendem suas posições. Os amadores que não sabiam da notícia começam a comprar, logo a desova acontece em cima dos iniciantes ou mal informados. Esse é um exemplo clássico da frase “Compre no boato e venda no fato”.
Mesmo sabendo disso, porque as pessoas continuam comprando no fato? Uma possível explicação para essa atitude deve-se a volatilidade que o boato proporciona fazendo com que o mercado provoque sentimentos de euforia e de medo. Alguns seguem a metodologia de ganhar sem correr riscos e compram depois que o risco sumiu. O problema é que após o risco sumir, o mesmo estará embutido no preço da ação. Ele estará comprando em um ponto de venda ao invés em um ponto de compra, ou seja, estará fazendo o inverso do que pregam os grandes investidores: “compre na baixa e venda na alta”.
A virtude do investidor racional é sua capacidade de antecipação com base em dados e notícias. Esse comportamento faz com que ele consiga antecipar tendências, e dessa forma ganhar bastante dinheiro. Diferentemente do analista gráfico que espera rompimento de resistências para comprar, ou formação de fundos superiores, o analista fundamentalista compra bem antes e, portanto, possui uma margem de lucro consideravelmente maior, o que está de acordo com as informações que obteve previamente.
Enquanto o analista gráfico procura indícios de tendências, o fundamentalista compra baseado em notícias e pouco importa o momento gráfico do papel, pois o desempenho grafista tende a interferir na cotação no curto prazo, já no longo prazo o fundamento é predominante, pois ninguém opera gráficos com escalas anuais porque é muito difícil prever o ponto de compra e venda nessa escala. Nesse contexto, os maiores ganhos estão sempre atrelados a uma boa análise dos fundamentos da empresa.
A Bolsa é um mercado em que é preciso analisar muitas variáveis, pois são elas que influenciam no preço da ação, e a análise certeira de todas elas é uma tarefa muito difícil. Um exemplo disso é o balanço trimestral da empresa. Quando o balanço é analisado, é possível saber o lucro e prejuízo da empresa, mas difícil prever o que acontecerá no trimestre posterior. Por algum motivo, a empresa pode ir mal num trimestre, o que não necessariamente acontecerá no próximo, e vice-versa, devido a uma séria de fatores que podem mudar. O correto é analisar os grandes fundamentos que são capazes de alterar de forma significativa o preço da ação como: novas aquisições, investimento em novas tecnologias, subscrição, split, melhora na governança corporativa da empresa, resultado excepcionais em determinado trimestre, mudança de diretoria e por aí vai. Não se deve focar apenas nos números: lucro e prejuízo.
É preciso ter cuidado ao comprar o papel de uma empresa, principalmente quando se opera num horizonte de curto ou curtíssimo prazo, para não deixar a emoção se sobrepor a razão, principalmente quando a volatilidade é alta. O ideal é não se apegar à cotação, mas ter estratégia e visão de longo prazo. Quando ocorrer uma profunda desvalorização do papel, e não da empresa, pode ser uma oportunidade ímpar para comprar mais e reforçar suas crenças sobre os fundamentos e as perspectivas que a empresa possui. Isso será relevante no longo prazo e determinará o seu sucesso como investidor.