Muitos investidores, consumidores, cidadãos e interessados em geral hoje se fazem essa pergunta. A alta do dólar recentemente coloca em risco a viagem pra disney, o iphone novo, os joguinhos comprados pelos filhos no celular do pai, o azeite de oliva importado, and so on (a lista é interminável e como já comentei aqui vai até o bolinho de fubá que supostamente é uma coisa bem brasileira.
10 em cada 10 economistas adoram dar “pitacos” a respeito e errar em seus prognósticos acerca da taxa de câmbio.
Esse artigo não vai responder essa pergunta de forma estanque, ou seja, não sei dizer se o dólar vai estar R$ 3,50 ou R$ 4,50 ao final desse ano. Tenho minhas opiniões e muitos achismos que não valem ser divididos com vocês. Na verdade já comentei algumas vezes aqui, desde março desse ano como via certa assimetria no dólar.
Mas minha presunção aqui é deixar claro que em termos de fundamentos, persistindo o que temos visto nos últimos 24 anos, posso dizer que aquilo que parece meio absurdo (R$ 4,00) vai, cedo ou tarde, acontecer!
Falo isso usando uma teoria muito simples, mas que provê um bom insight.
A teoria do Paridade do Poder Compra ajuda a entender os movimentos de longo prazo da moeda. Em suma ela diz que a taxa de câmbio entre as moedas de 2 países é definida e guiada pela diferença de preços entre ambos os países. O que determina a taxa de câmbio entre essas 2 economias é a sua capacidade de comprar produtos em cada uma das moeda. A ideia é que um mesmo produto deve custar o mesmo nos diferentes países ainda que medidos em moedas diferentes. Ou seja, um produto que custa US$100,00 nos EUA deve ser vendido no Brasil por R$350,00 caso a taxa de câmbio seja R$3,50.
Mas o que faz os R$3,50 se tornarem R$3,00 ou R$4,00 com o passar do tempo?
Essa reposta é simples dentro dessa teoria. A inflação! O país que apresente a maior taxa de inflação tende a perceber maior desvalorização de sua moeda.
Como muitos de vocês sabem temos um histórico de taxas de inflação muito alta. Ainda que já tenha sido mais elevada, ela segue maior que a taxa de inflação americana. O gráfico abaixo compara as inflações medidas pelo IPCA, IGP-M e CPI (índice de inflação ao consumidor americano).
Ou seja, em 1994, um produto que custava R$ 100,00 e igualmente US$ 100,00 custa hoje US$ 169,30 nos EUA por conta da inflação percebida pelos americanos. Já no Brasil o mesmo produto, caso tenha sido reajustado pelo IPCA, custa R$ 578,80 ; já se ele foi reajustado pelo IGP-M (como muitos aluguéis por exemplo) ele custa hoje R$ 727,80.
Sim tivemos uma inflação muito maior que os americanos nos últimos 24 anos. Em média nossa inflação é cerca de 6% maior que a americana. Ou seja, supondo que a inflação americana seja 2% a nossa tenderia a ser 8% olhando os últimos 24 anos.
A teoria do PPP não deve ser usada para previsões de curto prazo, mas ela nos ajuda a ter uma visão de pra onde a taxa de câmbio caminha. O gráfico abaixo ajuda a dar uma ideia de para onde o câmbio esta indo. A linha vermelha seria a taxa de câmbio justa se calculássemos usando o IGP-M e a linha preta caso utilizássemos o IPCA. Entre elas, em verde, temos a taxa de câmbio que de fato ocorreu, ou seja, no mercado.
Mais do que um número a teoria nos provê uma tendência, ou seja, da apreciação. E por quê? Pelo simples fato de que nossa inflação é maior que a americana. Logo caso isso persista, tal qual persistiu em grande parte do tempo nos últimos 24 anos, a tendência seguirá sendo de apreciação do dólar.
Isso é o que o fundamento macroeconômico indica e o que a teoria nos diz. Obviamente que a prática é muito mais complexa e que, no curto prazo, a taxa de câmbio sofre diversos outros fatores (especialmente de expectativas). Ainda assim, o que quero salientar é que após as recentes altas muitos investidores começam a questionar a alta do dólar. Mas, sob a luz da teoria, o investidor deveria se perguntar quando a taxa cai, pois isso sim vai contra o fundamento!
Não sei o quanto o dólar estará em 4 anos na próxima Copá do Mundo, a de 2022, mas caso a história se repita e esse diferencial de inflação persista, teríamos uma taxa de câmbio de pelo menos R$ 4,70!
Vocês estão preparados?
Abaixo um infográfico que resume o que escrevi aqui.
Espero ter ajudado. Abs.