Há uma relativa ansiedade com a proximidade do preço do dólar a R$ 5,00, e, quando chega quase lá ocorre uma recuperação do preço, como se houvesse um ponto firme de resistência.
Demanda reprimida “sai das gavetas” para liquidar passivos em moedas estrangeiras, em especial de natureza comercial, represadas ao longo da predominância do “câmbio alto” e que agora ao final do ano precisam ser liquidadas, e isto está claro nos demonstrativos de fluxo cambial do BC das últimas semanas?
Ou resistência dos detentores de posições compradas no mercado futuro de dólar não como “hedge comercial”, mas com caráter defensivo e especulativo, que sentem a necessidade premente de liquidá-las para evitar prejuízo substantivo mas procuram conter as perdas?
Ou ainda, expectativa sobre o impacto que pode causar no mercado de câmbio o ajuste das posições de “overhedge” dos bancos da ordem de US$ 16,0 Bi, que deve ocorrer neste mês e para o qual o BC vem fazendo ofertas adicionais de contratos de swaps novos visando atenuar as repercussões?
Enfim, os investidores estrangeiros que retornaram à Bovespa gerando fluxo cambial positivo sabidamente não foram os causadores da depreciação do real no período recente, até porque ao longo de novembro e até o dia 4 deste mês, o saldo líquido do fluxo cambial não ultrapassou US$ 500,0 Mi e isto é pouco para justificar “o tamanho da queda do preço”, sendo que este fato decorreu claramente do enfraquecimento da moeda americana no mercado internacional, que permanece com este viés em perspectiva, mas que encontra em razões próprias do Brasil fator de contenção.
As questões de natureza política surgem como fator relevante de contenção da depreciação do dólar no nosso mercado, de vez que conduz o ambiente a clima defensivo, pois há indefinições de como se dará a sucessão dos atuais Presidentes da Câmara e do Senado e isto, por si só, fomenta enormes tensões e há evidências de líderes da oposição no Congresso de posicionamento para que analisem os vetos do Presidente antes de votar o projeto da LDO, o que coloca em risco a análise da matéria e, sabidamente, se isto ocorrer o governo pode entrar em um “shutdown” orçamentário em janeiro.
Por outro lado, há uma grande disputa política em torno da questão das vacinas preventivas ao coronavírus, o que provoca ausência de convergências e se torna preocupante no momento em que o Governo sinaliza o término ao final deste mês dos programas assistenciais, que devem provocar aumento significativo das estatísticas da demanda por empregos que repercute aumentando o desemprego que já é calamitoso e causador de grande desalento, e, o concomitante reaquecimento acentuado dos casos de infectados e mortalidade em razão do coronavírus, que pode pressionar o Governo e a atividade econômica.
A depreciação sustentável do preço do dólar abaixo de R$ 5,00, até acentuadamente, requer que o Brasil adote as medidas que são faladas, reformas fundamentais e programa de privatizações, mas que são postergadas seguidamente, enquanto a crise fiscal, cada vez mais, se torna neutralizante a quaisquer iniciativas do governo que envolva dispêndios.
O Brasil precisa fundamentalmente da construção de ambientes convergentes apontando para os interesses imediatos do país, e isto na realidade é visto como improváveis, o que pode retardar os avanços imprescindíveis para a retomada sustentável.
É preciso atenção, visto que o risco fiscal sensibiliza muito o apetite dos investidores estrangeiros e eventual agravamento e inércia no campo corretivo deste fator pode determinar a reversão dos fluxos de recursos externos havidos direcionados para a Bovespa, antes mesmo do final do ano.
Os Estados Unidos e a Europa e o Reino Unido estão dando início a vacinação em massa, embora esta providência não seja tão recuperatória das atividades econômicas como se lhe atribui, já que o rebote da pandemia está se fazendo forte e impõe medidas restritivas às atividades econômicas e, novos e grandiosos, programas de apoio financeiro por parte dos governos, mas, ainda que hajam dissensos a tendência é ao final haver convergências focadas no interesse maior, e isto provém ao ambiente externo tendência à fragilização da moeda americana.
Enquanto que no Brasil há forte predominância das divergências acirradas no campo político e sérios problemas no campo econômico em perspectiva, sugerindo que em 2021 poderão ser tão ou mais desafiadores do que 2020, com um número expressivo de desalentados desempregados sem que o governo tenha condições financeiras de provê-los com mais ajuda, o que os coloca em risco de incrementar a miséria no país.
Este cenário difuso e confuso neutraliza a convicção imediata sobre tendências sustentáveis seja para a Bovespa, seja para o câmbio, pois as melhoras dependem essencialmente do que o Brasil fizer pelo Brasil, pois o ambiente externo melhorou muito e já não tem o grau de aversão ao risco que tinha até recentemente.
Tanto Bovespa, quanto o dólar, poderão acentuar a volatilidade.