Derretimento da Indústria é um Ponto Fora da Curva?

Publicado 04.10.2016, 14:11
Atualizado 09.07.2023, 07:32
USD/BRL
-

Analistas do exterior estão sugerindo que a queda de 3,80% na indústria brasileira em agosto foi um evento pontual, que não atrapalha a percepção de que estamos a caminho de uma recuperação, ainda que lenta. Aqui mesmo já colocamos a tese de que uma recuperação lenta é provável, dado o histórico de nossa economia, veja o gráfico de nossas estimativas:

Estimativa PIB

Depois de fortes quedas, elas diminuíram e podem a ser substituídas por altas modestas. Esse comportamento reflete, em tese, o esgotamento dos impulsos contracionistas vindos da alta do dólar, da alta dos preços, da seca, da queda da confiança e da crise política. Os efeitos mais poderosos já foram disseminados pela economia e tendem a ser atenuados, reduzindo as quantidades de trabalhadores que vão sendo demitidos, reduzindo a inflação e com a melhora gradual da confiança dos agentes. Mas a retomada será lenta e sujeita a todas as trovoadas, tal como indicou esse último dado do IBGE.

Se fosse um ponto fora da curva, a contração da indústria não teria atingido 21 dos 24 setores pesquisados e nem teria ocorrido com tal intensidade. Veja essa tabela do IBGE:

tabela


Note que a maior queda foi a de bens duráveis e muitos analistas culpam a paralisação da fábrica da Volkswagen no ABC. Fosse o único problema tudo bem. Mas o fato é que as vendas de automóveis como um todo estão em queda violenta há tempos. Os investimentos estão travados e ainda podem cair, e é o que podemos observar a partir das decisões anunciadas de grandes corporações, que continuam demitindo pessoas e reduzindo as despesas de investimentos. É por isso que a queda acumulada de bens duráveis é de 20% no ano e de 16% para bens de capital.

O que torna as coisas ainda mais preocupantes é a contração de não duráveis, que respondem mais fortemente à parcela do Consumo das Famílias que é mais insensível ao ciclo econômico e só cai diante de um grande desemprego. O gráfico abaixo mostra o comportamento da produção industrial:

produção industrial


Após atingir níveis recordes antes da crise de 2009, ela afundou 22% entre agosto e dezembro de 2008, recuperou-se rapidamente até 2010 e voltou a cair ininterruptamente a partir de 2013. Novamente a queda supera os 20% e representa um golpe violento sobre a atividade econômica. Em 2013 a indústria brasileira empregou, em média, segundo a PNAD do IBGE, 13,1 milhões de pessoas. Nos três meses de junho, julho e agosto desse anos, a média foi de 11,5 milhões, ou uma redução de 12% na ocupação industrial, com mais de 1,6 milhões de operários demitidos nesses dois anos e meio.

Se o segundo mês do terceiro trimestre do ano apontou essa assombrosa redução, o número final do PIB de terceiro trimestre pode surpreender bastante, e para baixo. Uma coisa é clara: não é um ponto fora da curva e vai exigir uma revisão do PIB de 2016.

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.