Adeus, anos velhos!
2021 e 2022 foram os anos das oportunidades perdidas. Começamos 2021 com a bolsa a 93 mil pontos e chegamos a bater 130 mil pontos em meados do ano. Até que tudo começou a desmoronar.
Ao final desses dois anos, entregaremos uma bolsa em patamar praticamente estável, sem grandes ganhos para o investidor de risco.
Custo de oportunidade
Essa estabilidade não é nem de longe uma boa notícia. A bolsa de lado tem um custo enorme para uma carteira de investimento. Esse custo tem um nome chique: custo de oportunidade.
É tudo o que você poderia estar ganhando, se não estivesse na bolsa.
No caso do Brasil, esse custo é o CDI. O CDI representa tudo o que você poderia estar ganhando de retorno sem correr nenhum risco de mercado. Investindo nos títulos mais seguros da economia.
Podemos ver que o investidor que optou pelo CDI, nesses últimos dois anos, obteve um rendimento de mais de 17%, enquanto o investidor de bolsa ficou na estabilidade.
Bolsa em estabilidade
Os motivos do ano ruim todos aqui já sabem: aumento de gastos fiscais com eleição e pandemia, aumento da inflação e necessidade de aumento de juros.
O juro é o custo de oportunidade de uma economia. Se aumenta o custo de oportunidade, você estrangula o setor produtivo, a tomada de risco, o empreendedorismo.
A bolsa sofre, o mercado de capitais míngua e novas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) secam.
E o aumento de juros que tivemos nesses últimos dois anos foi dos maiores que já tivemos na história.
A Selic foi de 2% para 13,75%, e não temos a segurança ainda que essa será nossa taxa terminal. Dependeremos da política fiscal.
Uma estratégia vencedora
Com o aumento significativo dos juros, estrangulamos a bolsa e voltamos para o CDI para gerar retorno nos nossos investimentos.
Essa foi a estratégia vencedora nesses últimos dois anos.
Quem apostou contra a bolsa e contra os juros baixos também ganhou dinheiro. Mas apostar contra é bem mais desafiador do que apostar a favor. Não é todo gestor que consegue.
E para 2023? Qual será a carteira vencedora?
Eu pessoalmente fico muito dividida.
Por um lado, vejo uma bolsa barata e um juro bem alto para padrões históricos.
Por outro lado, vejo um governo com tendência de aumento de gastos, com o estado como promotor da economia. E com um risco importante de retirada de âncoras fiscais que sustentaram nossa recuperação pós 2016.
Olhando nomes importantes deste novo governo, como Haddad e Mercadante, fico me perguntando que tipo de economista entraria no Banco Central daqui a dois anos.
Isso tudo para dizer que ainda não me sinto confortável de sair do CDI.
Hoje o nosso custo de oportunidade para tomar risco ainda é altíssimo. Acredito que isso jogue nossa linha d'água de “mínimas condições para tomar risco” lá em cima.
Qual a perspectiva para 2023?
Ontem, Haddad disse que fará um primeiro ano de governo com um ajuste fiscal importante. Arrumando a casa.
O mercado gosta muito disso, mas fica difícil fazer um ajuste que compense os mais de R$ 150 bilhões fora do teto aprovados na PEC da Transição.
Temos que acompanhar também o crescimento econômico brasileiro.
Ele será um excelente termômetro do estrago potencial do novo fiscal.
Se tivermos um bom crescimento, o aumento de gastos não seria tão prejudicial para a trajetória de Dívida/PIB. Afinal, o crescimento das receitas poderia compensar parcialmente o aumento dos gastos.
Mas se tivermos um crescimento fraco, poderíamos entrar em uma espiral negativa de piora dos fundamentos.
Então é nisso que estarei de olho em 2023: política fiscal e crescimento.
Se pendermos para o lado ruim, pode ter certeza que 2023 será mais um ano de bolsa parada e CDI alto — e a melhor carteira será o custo de oportunidade.
Mas enquanto ainda não tomo minhas decisões, não abro mão da liquidez diária nos meus investimentos.
Afinal, se o cenário mudar, tenho que ter a capacidade de fazer ajustes nas minhas posições.
Então, investidor, nada de ficar se travando em ativo que não tem liquidez para ganhar uma merreca a mais do CDI.
Agora é uma hora importante, de decisão, e a liquidez será um bem caro e precioso.
Desejo que você tenha um excelente ano!
2021 e 2022 foram os anos das oportunidades perdidas. Começamos 2021 com a bolsa a 93 mil pontos e chegamos a bater 130 mil pontos em meados do ano. Até que tudo começou a desmoronar. Ao final desses dois anos, entregaremos uma bolsa em patamar praticamente estável, sem grandes ganhos para o investidor de risco. |
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Custo de oportunidadeEssa estabilidade não é nem de longe uma boa notícia. A bolsa de lado tem um custo enorme para uma carteira de investimento. Esse custo tem um nome chique: custo de oportunidade. É tudo o que você poderia estar ganhando, se não estivesse na bolsa. No caso do Brasil, esse custo é o CDI. O CDI representa tudo o que você poderia estar ganhando de retorno sem correr nenhum risco de mercado. Investindo nos títulos mais seguros da economia. Podemos ver que o investidor que optou pelo CDI, nesses últimos dois anos, obteve um rendimento de mais de 17%, enquanto o investidor de bolsa ficou na estabilidade. |
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Bolsa em estabilidadeOs motivos do ano ruim todos aqui já sabem: aumento de gastos fiscais com eleição e pandemia, aumento da inflação e necessidade de aumento de juros. O juro é o custo de oportunidade de uma economia. Se aumenta o custo de oportunidade, você estrangula o setor produtivo, a tomada de risco, o empreendedorismo. |
A bolsa sofre, o mercado de capitais míngua e novas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) secam. E o aumento de juros que tivemos nesses últimos dois anos foi dos maiores que já tivemos na história. A Selic foi de 2% para 13,75%, e não temos a segurança ainda que essa será nossa taxa terminal. Dependeremos da política fiscal. |
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Uma estratégia vencedoraCom o aumento significativo dos juros, estrangulamos a bolsa e voltamos para o CDI para gerar retorno nos nossos investimentos. Essa foi a estratégia vencedora nesses últimos dois anos. Quem apostou contra a bolsa e contra os juros baixos também ganhou dinheiro. Mas apostar contra é bem mais desafiador do que apostar a favor. Não é todo gestor que consegue. E para 2023? Qual será a carteira vencedora? Eu pessoalmente fico muito dividida. Por um lado, vejo uma bolsa barata e um juro bem alto para padrões históricos. Por outro lado, vejo um governo com tendência de aumento de gastos, com o estado como promotor da economia. E com um risco importante de retirada de âncoras fiscais que sustentaram nossa recuperação pós 2016. Olhando nomes importantes deste novo governo, como Haddad e Mercadante, fico me perguntando que tipo de economista entraria no Banco Central daqui a dois anos. Isso tudo para dizer que ainda não me sinto confortável de sair do CDI. Hoje o nosso custo de oportunidade para tomar risco ainda é altíssimo. Acredito que isso jogue nossa linha d'água de “mínimas condições para tomar risco” lá em cima. Qual a perspectiva para 2023?Ontem, Haddad disse que fará um primeiro ano de governo com um ajuste fiscal importante. Arrumando a casa. O mercado gosta muito disso, mas fica difícil fazer um ajuste que compense os mais de R$ 150 bilhões fora do teto aprovados na PEC da Transição. |
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Temos que acompanhar também o crescimento econômico brasileiro. Ele será um excelente termômetro do estrago potencial do novo fiscal. Se tivermos um bom crescimento, o aumento de gastos não seria tão prejudicial para a trajetória de Dívida/PIB. Afinal, o crescimento das receitas poderia compensar parcialmente o aumento dos gastos. Mas se tivermos um crescimento fraco, poderíamos entrar em uma espiral negativa de piora dos fundamentos. Então é nisso que estarei de olho em 2023: política fiscal e crescimento. Se pendermos para o lado ruim, pode ter certeza que 2023 será mais um ano de bolsa parada e CDI alto — e a melhor carteira será o custo de oportunidade. Mas enquanto ainda não tomo minhas decisões, não abro mão da liquidez diária nos meus investimentos. Afinal, se o cenário mudar, tenho que ter a capacidade de fazer ajustes nas minhas posições. Então, investidor, nada de ficar se travando em ativo que não tem liquidez para ganhar uma merreca a mais do CDI. Agora é uma hora importante, de decisão, e a liquidez será um bem caro e precioso. Desejo que você tenha um excelente ano! |