O mercado financeiro é um lugar cheio de contradições, mas uma delas me chama muito a atenção aqui no Brasil. Embora adorem falar de como estão sempre em busca das melhores oportunidades de investimento, a esmagadora maioria dos/as profissionais do mercado financeiro não tem a mínima ideia de como fazer isso ou ignora sistematicamente a literatura científica sobre o tema.
Se isso ficasse restrito às carteiras de profissionais do mercado, tudo bem. Só que essa ignorância ativa é difundida em escala nacional, tanto através do atendimento a clientes quanto, principalmente, via produção de conteúdo “educativo”. Em pesquisa recente, a Anbima estima que a audiência de influenciadores/as da área de investimento esteja na casa das 74 milhões de pessoas.
Se, por um lado, isso mostra que a população brasileira tem muito interesse em investir, por outro lado é preocupante o fato de que o conteúdo educativo que lhes é oferecido reproduz o oposto daquilo que as pesquisas científicas recomendam. Não é surpresa, assim, que a carteira média brasileira, inclusive de profissionais, tenha baixíssimo grau de diversificação, baixo retorno, alto risco e baseada em achismos.
Isso é um problema porque, aparentemente, convencionou-se que 2021 está sendo um péssimo ano para investidores e investidoras nacionais. A renda fixa rendeu muito pouco e a renda variável gerou perdas consideráveis. Só que isso não leva em conta que uma carteira baseada em princípios científicos, que se estrutura em torno da gestão passiva e da aceitação da hipótese do mercado eficiente, teve um ano muito bom.
Para ficar em um exemplo, cito uma carteira que desenvolvi para um cliente de perfil cauteloso, com 80% em renda fixa e 20% em renda variável que, no final de outubro, teria obtido algo em torno de 9.5% de retorno com um desvio padrão de 0,58%. Isto é, algo em torno de 300% do CDI, com um mínimo de volatilidade e um custo anual de algo em torno de 0.3% ao ano.
A minha própria carteira, para citar outro exemplo, acumula algo em torno de 16% em 12 meses, contra -5,46% do Ibovespa ou 3,24% do celebradíssimo Verde Master FIM. Diferente de gestores, analistas e outras personalidades do mercado financeiro, eu não gastei tempo nenhum analisando balanços, projetando resultados, fazendo valuations ou traçando linhas em um gráfico.
Não porque tenho algo contra essas atividades, mas porque a ciência mostrou, exaustivamente, que isso não contribui em absolutamente nada para conseguir um retorno superior, ou ao menos sem incorrer em mais riscos e precisar contar com a sorte. Mesmo os melhores hedge funds do mundo não conseguem superar o rendimento do S&P 500 usando gestão ativa, então o que te leva a pensar que você, ou qualquer pessoa no Brasil, irá conseguir? Ou que, pagando módicos R$19,90 mensais, você terá acesso a recomendações extraordinárias?
O custo de negar a ciência
Longe de ser algo abstrato e distante, ignorar estudos científicos te geral um custo concreto e bastante intenso. Ao longo de uma ou duas décadas, a diferença no rendimento obtido é enorme. Tanto em termos de retorno gerado, quanto na economia que você terá em taxas de administração e performance, assinaturas de casas de análise, corretagem, impostos e tempo gasto acompanhando o mercado.
Eu acho que muito do medo de quem trabalha com gestão ativa se explica pelo fato de que a gestão passiva e cientificamente fundamentada torna sua atividade obsoleta. Se você pode investir sem acompanhar o mercado, pagando muito pouco, ganhando bem mais e tomando menos riscos, por que você aceitaria fazer o oposto? Isto é, pagar mais caro para correr mais riscos e ganhar menos?
Isso não significa, por outro lado, que investir de forma passiva seja algo totalmente trivial, porque é possível otimizar ainda mais a performance de longo prazo de uma carteira ao torna-la apta a captar outros prêmios além da média do mercado, diminuir os gastos, ampliar a diversificação, eliminar ineficiências e definir as proporções ideais para cada tipo de ativo, preferências de risco, objetivos individuais.
Nesse caso, o ideal é que você entre em contato com um consultor ou consultora de valores mobiliários, que poderá te ajudar em todas essas questões. Embora esse tipo de serviço costume ser restrito para clientes com patrimônio muito alto, existem profissionais que, como eu, conseguem realizar atendimentos personalizados de forma muito mais acessível, justamente por usar a ciência para cortar ineficiências.
É importante lembrar, contudo, que você confira se o/a profissional que você está contratando possui autorização da CVM para exercer a atividade de consultoria de valores mobiliários – ela é altamente regulada para garantir a segurança de quem investe. Caso tenha interesse em uma consulta comigo, você pode entrar em contato pelo e-mail: andre@salmeroninvestimentos.com.br. Um grande abraço e bons investimentos!
Este texto tem cunho meramente educativo e não deve ser considerado uma recomendação de investimentos. Todo investimento financeiro carrega riscos de perda parcial, total ou, em alguns casos, superior ao montante investido. Nunca invista em produtos ou serviços sem conhecer os riscos associados a ele, e evite aqueles que não possuem regulamentação da CVM, Banco Central ou entidade estrangeira equivalente.