Recentemente, assisti ao vídeo “Are markets efficient?”, no qual dois economistas com pontos de vista diferentes debatem a respeito da eficiência dos mercados. Afinal de contas, o mercado de capitais é eficiente? Quero trazer hoje alguns pontos dessa divergência e um caso que ilustra meu ponto de vista, o do fundo CUBA.
O primeiro deles, Eugene Fama, é o próprio desenvolvedor da teoria dos mercados eficientes, que por sinal lhe rendeu o prêmio Nobel de economia em 2013. O segundo participante é Richard Thaler, especialista em economia e finanças comportamentais, também ganhador de um prêmio Nobel. A conversa é muito enriquecedora e eu recomendo fortemente assisti-la.
Para quem não sabe, a teoria dos mercados eficientes diz que os preços incorporam todas as informações disponíveis e, portanto, estão corretos, pois refletem os valores futuros. Este é um tema muito discutido na comunidade financeira. Isso porque os economistas comportamentais afirmam que o modelo não reflete como o mercado realmente funciona na prática, pois não leva em conta a irracionalidade dos seres humanos, sentimento responsável por subavaliar ou sobreavaliar os ativos.
Fama acredita que a grande volatilidade observada no mercado de ações é uma consequência de o fato de investidores estarem constantemente mudando sua visão a respeito do futuro, dado que as informações mudam muito.
Para o economista, a aversão ao risco muda dramaticamente ao longo do tempo, especialmente em momentos de dificuldade, o que afeta a precificação dos ativos e, portanto, o retorno esperado dos mesmos.
Embora toda a conversa seja interessante, não é possível abordá-la em apenas um curto artigo. Dessa forma, optei por escolher um curioso caso mencionado por Richard Thaler, que busca provar seu ponto abordando um closed-ended fund, ou fundo de investimento fechado, que é negociado sob o ticker CUBA.
Closed-ended funds é um tipo especial de fundo negociado no mercado secundário como se fosse uma ação, e muitas vezes divergem do valor dos ativos que possuem. Este fundo em particular, embora seja negociado sob o ticker CUBA, não possui absolutamente nada a ver com o país socialista.
O engraçado é que, por muitos anos, o fundo foi negociado com um desconto de cerca de 10% a 15% do valor líquido do ativo, o que significaria que você poderia comprar cem dólares em ativos por US$ 85 a US$/ 90.
No entanto, como é possível observar no gráfico abaixo, um certo dia o preço do mesmo disparou, e começou a ser vendido com um prêmio de 70% em relação aos mesmos ativos que antes eram negociados com um significante desconto.
O engraçado é que esta grande alta se deu no mesmo dia em que o presidente americano Barack Obama anunciou intenções de afrouxar suas relações com Cuba.
Se os mercados fossem realmente eficientes, como uma cesta de ativos que antes poderiam ser compradas por US$ 90 custaria US$ 170 no dia seguinte, sem nenhuma mudança em seu valor intrínseco para justificar essa alta, dado que o fundo que negociava sob o ticker CUBA não possuía absolutamente nenhum relação com o país Cuba, e, portanto, nada mudou a respeito do fluxo de caixa livre das empresas que compunham o veículo?
O exemplo, por mais que interessante, não prova que os mercados não são eficientes. No entanto, minha experiência no mercado faz com que me identifique mais com Richard Thaler, embora respeite e aprendo muito com Fama.
Para mim, o mercado totalmente irracional no curto prazo, com os preços sendo formados pela lei da oferta e demanda. No longo prazo, acredito que o mesmo se corrija, começando a refletir a verdadeira capacidade de geração de caixa dos ativos.