O que tem sustentado o crescimento econômico no Brasil? Em um olhar mais agregado, podemos dividir o comportamento da produção do Brasil em dois pilares: o acúmulo de fatores de produção e a produtividade desses fatores. Obviamente, existem diversos componentes que influenciam o PIB no longo prazo (leia o meu texto A insustentável leveza do crescer para uma breve discussão sobre o assunto), mas essa simplificação é útil. Escrevi em dezembro do ano passado que observamos apenas ganhos temporários de produtividade desde 2020. Se isso for verdade, pode ser que os agentes estejam superestimando o crescimento potencial da economia.
Fernando Veloso fez as contas recentemente e chegou à mesma conclusão. O autor avalia que “[o]s dados sugerem que ocorreu um aumento do nível e não uma aceleração duradoura do crescimento da produtividade. Caso isso se confirme, teria havido uma elevação temporária e não permanente do crescimento do PIB potencial.”
Façamos as contas para compreender o crescimento de longo prazo do Brasil.
Consideremos o período entre 2003 e 2023: de acordo com o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, o aumento médio anual da produtividade por população ocupada foi de 0,79%. No mesmo período, de acordo com o mesmo observatório, o capital humano aumentou, em média, 2,09% ao ano. A taxa de crescimento média do estoque líquido de capital fixo (de 1,5% ao ano a preços 2010; dados do Ipea) e o crescimento médio das pessoas ocupadas de 0,9% ao ano, de acordo com os dados da PNAD contínua. Com base nesses dados e em uma estimativa da parcela do capital sobre o PIB proveniente de dados da Penn World Table, o crescimento potencial seria algo como 1,72% ao ano.
Há quem advogue que as reformas recentes aumentaram essa taxa. É possível. Mas não foi só isso que ocorreu, portanto, é preciso estimar os efeitos líquidos. Para registrarmos um crescimento potencial de algo como 2,5% ao ano, precisaríamos que tanto a produtividade quanto o capital crescessem mais de 1 ponto percentual acima da sua média entre 2003 e 2023, mantendo as outras taxas constantes. Para a produtividade, até vimos algo desse tipo no crescimento de 2022 para 2023. Para o capital, não.
Em suma, teríamos que sair de um modelo no qual o acúmulo do capital e a produtividade representam algo em torno de 50% das fontes de crescimento para uma realidade na qual esses fatores compõem 64,5% da taxa de crescimento do PIB potencial. Em um país com uma taxa de poupança baixa e diversas escolhas que levam à má-alocação de recursos, acho difícil acreditar nesse cenário. Considero mais provável que ainda estejamos experimentando ganhos de reorganização: a pandemia “bagunçou” a atividade econômica e apenas ao “arrumarmos a casa” nos tornamos mais produtivos. Sem um olhar para os entraves microeconômicos do crescimento brasileiro, seguiremos sustentando avanços na produção da mesma forma: em alguns momentos temporariamente mais produtivos, mas permanentemente com dificuldade de crescer.