Um ambiente político que estimula o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a buscar melhora em sua aceitação com um programa pensado para a eleição de 2022, e estimula o Congresso a dividir ônus e bônus de mais uma ampla e frágil claraboia instalada na marra, decorre de falsas promessas e ingenuidades verdadeiras.
Depois de vários meses alertando para o risco da mudança no regime fiscal, e sem dizer o que seria isso, as atas do Copom passaram a definir a avaliação de tal risco como dentro do regime de metas de inflação. Assim, as expectativas de inflação, alimentadas pelos modelos, por sua vez alimentados por preços de mercado, embutiriam o efeito do risco fiscal.
A discussão sobre o que seria indicador de mudança de regime fiscal foi prosperando. Uns até aceitam algum desaforo temporário, desde que limitado em valor e tempo. Outros colocam o limite na indexação de salários e benefícios. Assim, cabe alguma concessão, embora o principal seja manter algum controle sobre o crescimento do gasto público.
A inépcia do governo no trato de suas promessas e dívidas justifica atualizações quase diárias nas projeções de variáveis sujeitas a expectativas de curto prazo. Uma alta de 150 pontos na taxa Selic no próximo Copom pode colocar o comitê à frente da curva. Onde ele precisa estar nesse ambiente dificílimo.
O comitê pode, com algum tempero no comunicado, reduzir as taxas de juros curtas. As longas, só com o mercado digerindo um extra teto definido, com o aval do ministro da Economia. O dólar, fica combinado, vai para novo patamar, com o BC entrando para evitar rupturas nas operações dando liquidez.
O Copom não pode mudar de ideia sobre o risco fiscal e abrir mão de tentar levar a inflação para a meta. Membros do Copom se alternam em dizer que o comitê fará o que puder, o que for necessário, para levar a inflação à meta.
Alteramos nosso call para duas altas de 150 pontos nas próximas reuniões.
E ressalvamos que a inflação não vai ceder de modo relevante no horizonte relevante, dada sua natureza. A alta do dólar vai dar um piso para a desaceleração da alta de preços industriais e de combustíveis, com efeitos endógenos no IPCA.
A combinação dá já alta taxa de juros vai onerar o resultado nominal do setor público e sufocar iniciativas relevantes de investimento nos próximos trimestres. Assim, a renda fica condenada em termos nominais pela ocupação e pela remuneração baixa e precária, além da queda já verificada em termos reais.