Quando analisamos a demanda por um produto, temos as elasticidades, relacionadas ao preço e à renda, mas também há os produtos substitutos, os complementares, e por aí vai.
No caso de produtos substitutos, quando a dona de casa vai ao mercado comprar a “mistura”, o preço tem papel relevante quando o orçamento é mais curtao, a realidade da maior parte do nosso mercado doméstico.
Em outras palavras, quando há a possibilidade de aquisição de muito mais frango que carne bovina, com o mesmo desembolso, isso pesa na opção.
Obviamente, as preferências e o nível de renda deslocam esse “ponto de equilíbrio” da escolha entre frango e carne bovina, por exemplo. O fato é que, quanto maior a distância entre as carnes, mais atrativa fica a de frango, mais barata. Já quando os preços estão mais próximos, a opção pela carne bovina fica mais “palatável”.
Justamente por terem preços mais próximos, os cortes de dianteiro compõem o clássico do açougue, competindo com o frango. Considerando as cotações no varejo (IBGE), houve queda de 7,1% para o frango inteiro, nos doze meses terminados em agosto, enquanto os preços do acém e peito bovino recuaram 11,9% e 12,8%, respectivamente. Ou seja, o boi ganhou competitividade.
A figura 1 mostra a evolução dos preços e da relação entre o dianteiro bovino e o frango congelado no atacado em São Paulo. A relação média em setembro está em 1,95 quilo de frango por quilo de dianteiro. É a mais favorável à carne bovina desde maio de 2019.
Figura 1. Preços e relação entre o dianteiro bovino e o frango congelado no atacado paulista.
Na comparação com setembro de 2022 (2,16), houve melhoria de 9,9% na competitividade para a carne bovina e frente a agosto a relação melhorou 12,2%.
Esse cenário resultado da queda do dianteiro e valorização do frango. Enquanto o frango subiu 8,9% em agosto e 8,8% em setembro, o preço do dianteiro caiu 6,2% em agosto e 4,5% em setembro, considerando a média parcial.
As exportações de carne de aves in natura estão em bom ritmo, com recorde de volume e faturamento (R$ e US$) para o intervalo de janeiro a agosto. A relação de troca entre a carne exportada e o milho em agosto foi de 10,0 quilos de milho por quilo de carne de aves exportada, a quarta melhor desde setembro de 2019, abaixo apenas das observadas entre maio e julho últimos.
No cenário doméstico, a relação está no melhor patamar desde maio de 2019, o que deve manter a produção em alta. No primeiro semestre os abates de frangos foram 5,0% maiores que no mesmo intervalo de 2022.
Considerações
Devemos ter um período de demanda maior pela frente, tanto para carne de frango, como para carne bovina, pela sazonalidade, com contratações temporárias, décimos terceiros e as festas.
O cenário é de atratividade à produção de carne de frango, o que pode pressionar as cotações ou ao menos limitar altas frente na época de maior consumo.
Paralelamente, o boi gordo passa por um momento de preços se recuperando, após as quedas fortes, com cenário mais firme também no atacado.
A continuidade da recente firmeza no atacado pode fazer com que o varejo pare de repassar os recuos, movimento observado há alguns meses, que tem beneficiado o escoamento. Também há o momento sazonalmente melhor de escoamento, que deixa o varejo com mais espaço para precificação.
Como resultado, é possível que o cenário de atratividade do boi frente ao frango diminua um pouco, mas há uma folga interessante antes que a relação fique abaixo da média histórica. A relação, atualmente em 1,95, está mais de 21% abaixo da média desde 2020 (2,48).
Por ora, o cenário está positivo para um churrasco mais gordo no último trimestre.