Angústia vs Paciência
Durante toda a crise do coronavírus, a pergunta mais popular entre os investidores foi: por que os fundos de ações caíram mais do que a bolsa?
É natural e legítima a pergunta. No geral, nossa visão sobre esse movimento foi uma combinação perversa de duas coisas: (1) vendas indiscriminadas do mercado; (2) a queda mais rápida da história da bolsa.
Mas esse não é o tópico de hoje. Em outras oportunidades já tivemos boas e longas conversas sobre esse assunto.
Hoje, passado quase um mês desde que a bolsa teve o seu pior momento, até agora, o índice sobe algo como 20 por cento, enquanto uma seleção de vários fundos que acompanhamos aqui na Nord sobe algo como 18 por cento.
E, claro, isso acabou desencadeando uma segunda pergunta: por que os fundos não estão subindo mais do que o índice? Afinal, quem caiu mais deveria se recuperar com mais vigor?
Entendo a angústia. Contudo, esse tipo de relação não existe. Fundos de ações não se comportam igual a molas comprimidas: quanto mais pressionada maior o ritmo de retorno à posição original.
Não é assim que esse jogo funciona.
O cachorro não pode correr atrás do rabo
Eu entendo que, com o número gigantesco de CPFs entrando na bolsa no final do ano passado, as perdas individuais foram grandes.
Sendo assim, os recém chegados somente sentiram o gostinho da alta por 1 ou 2 meses. Logo, a ânsia por ter aquele sentimento de felicidade proporcionado por resultados positivos é grande.
O melhor dos mundo seria se os fundos de ações superassem o índice um pouquinho todos os dias — caindo menos do que a bolsa e subindo mais do que ela.
Isso certamente traria um conforto psicológico na hora de esperar pelo longo prazo. Porém, o mercado não opera desse jeito.
Ganhar com ações em curto espaço de tempo é uma tarefa complicada. A dinâmica de preços dos papéis é totalmente aleatória, privilegiando muitas vezes temas diferentes, a depender do noticiário.
O resultado disso é: em janelas de 12 meses, raramente você vê algum tipo de diferenciação entre o índice e os fundos.
Neste gráfico fica claro que comprar fundos de ações olhando o curto prazo é uma estratégia sem propósito. Seria como um cachorro ter a vã tentativa de morder o próprio rabo
O importante, em momentos como este, são os gestores não se deixarem contaminar pela performance ruim de curto prazo. Tentar mudar seu estilo de gestão ou correr riscos desnecessários para tentar alterar essa realidade seria um grande equívoco.
Este seria um preço muito alto a se pagar, com o sério risco de o tal do “longo prazo” nunca efetivamente chegar.
O que fará diferença será um processo de investimento robusto, capaz de gerar bons retornos ao longo dos anos.
É a consistência de longo prazo versus a angústia do retorno a curto prazo.
Isso, sim, fará a diferença entre os vencedores e os perdedores.
Olhar para o futuro..
Agora, se analisar o curto prazo é uma estratégia em vão, o que fazer?
O que temos feito no Nord Fundos é um processo de conversar com os gestores da nossa carteira. Geralmente fazemos de forma mais aprofundada a cada três meses.
Dessa vez, acredito que esse contato seja ainda mais importante. Estamos gastando mais tempo buscando entender a cabeça do gestor sobre os processos de investimento do que discutindo cenário.
Erros de cenário são compreensíveis, todos fazemos. Agora, problemas de processo são uma falta mais grave.
Até porque o processo de investimento é a base de tudo o que virá dali em diante e é o que se traduzirá em cota no futuro.
E, com processos bem estruturados, você até pode patinar no curto prazo, mas a consequência natural são bons resultados a longo prazo. Nesse sentido, há dois gráficos que gostamos de olhar:
O gráfico da direita mostra que, independente de quando você entrou, em janelas de 5 anos você está ganhando (pelo menos) 2 vezes o índice. Então, mesmo com um curto prazo confuso, você tem ganhado um bom dinheiro. Isso aumenta muito mais quando olhamos janelas de 10 anos.
O segundo, também muito interessante, é o retorno anualizado desse grupo ao longo dos últimos 7 anos. Mesmo passando por duas crises — 2015 e essa última — a média deles está em Ibovespa +7% pontos percentuais ao ano (algo em torno de 12,5 por cento ao ano) já líquido das taxas.
Pode não parecer muito a princípio, mas é a diferença entre multiplicar seu dinheiro por 3x ou 1,5x em 10 anos ou 10x ou 2,6x em 20 anos.
Isso tudo considerando tempos de duas crises fortes. Esse é o poder de longo prazo e é isso que estamos olhando.
Tenha paciência, pequeno gafanhoto
Nós sabemos o quão difícil é enfrentar tempos como estes.
Sabemos que muitos investidores estão analisando as cotas dos fundos diariamente… tudo está sendo avaliado na vírgula, na esperança de que o alívio venha e de preferência rápido.
Pode ser que ele venha em 12 meses ou demore mais do que isso.
A questão é: isso NUNCA foi o mais importante. Quem acompanha o nosso trabalho no Nord Fundos sabe disso muito bem.
A única coisa que resulta de olhar os seus resultados diariamente é lhe transformar em um torcedor ao invés de investidor — o que nunca é positivo.
Procuramos investir em gestores que possuam processos sólidos de gestão e que sejam capazes de gerar bons retornos a longo prazo.
Esse é o nosso mandato ao escolher fundos. Os caras alocam bilhões e o tempo dos fundos é muito diferente do que a gente imagina.
Enfim, recado dado.