Depois de sofrer grandes perdas em 2016 e 2017 em meio a constantes preocupações com o excesso de oferta, ninguém apostava em uma alta tão expressiva do cacau neste ano. Mas, com apenas oito semanas para o fim do ano e promessas de grande consumo de chocolates e doces assados no período de festas, o cacau pode muito bem acabar se tornando o “Rei das Commodities” em 2018.
Os contratos futuros desse ingrediente essencial para o setor de confeitaria e bebidas subiram 22% no acumulado do ano na Bolsa Mercantil de Nova York, ofuscando os 11% de perdas da commodity no ano passado e a surpreendente queda de 33% em 2016.
Por enquanto, a única commodity que parece ter uma chance real de destronar o cacau é o gás natural, que teve 19% de ganho e cujos preços podem subir ainda mais com o início do clima frio e com a demanda de aquecimento na maior parte dos Estados Unidos.
Sobrecomprado, mas ainda com recomendação de “Forte Compra”
Muitos analistas técnicos de commodities no Investing.com estão recomendando “Forte Compra” em cacau, apesar de os gráficos sugerirem um mercado sobrecomprado após a disparada de preços em sete dos últimos dez meses. É preciso considerar ainda a demanda física já existente da commodity, que está sendo impulsionada pelas festas de fim de ano, nas quais os chocolates prontos para consumo e o pó de cacau para culinária são indispensáveis.
“O cacau entrou em sua época de maior demanda, pois o Natal já está chegando”, declarou Mike Seery, grafista da Seery Futures, de Plainfield, Illinois, que notou que a "estrutura gráfica [do mercado] também melhorou significativamente nas últimas semanas".
Em um informe divulgado na segunda-feira, Seery afirmou que o cacau negociado na NYMEX, cujo preço gira em torno de US$ 2.310 por tonelada, pode superar sua máxima de US$ 2.397 registrada em 27 de agosto, que considera ser uma “importante resistência".Seery disse ainda:
“Se essa resistência for rompida, acredito que podemos subir mais, pois a tendência de alta está ficando mais forte no período semanal. Continuo apostando na alta e vou procurar oportunidades para adicionar mais contratos no final desta semana, assim que a relação risco-retorno melhorar novamente".
O que provocou essa demanda tão expressiva no cacau ao longo deste ano, depois de um desempenho frustrante em 2016 e 2017?
Economia mundial como estímulo
Alguns analistas indicam que a alta recente do cacau moído se deve à melhora na economia mundial, em particular ao crescimento nos EUA. A moagem permite a criação de importantes produtos primários a partir do cacau, como o pó de cacau usado na preparação de doces, incluindo bolos e biscoitos, e a manteiga de cacau, que fornece aos chocolates e sorvetes um sabor suave e cremoso.
Houve uma redução de 2% nos produtos produzidos a partir do cacau moído na América do Norte no primeiro semestre de 2018, em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a moagem na Europa apresentou uma melhora de 6%. A produção na Ásia teve um salto de 10%.Mas, no terceiro trimestre, os números na América do Norte tiveram um salto de 2,5%, com 2,7% de aumento na Europa e uma escalada de 3,7% na Ásia.
“A demanda está bastante alta, com margens muito fortes de processamento de grãos de cacau”, declarou Shawn Hackett, da Hackett Financial Advisors, uma consultoria de mercados agrícolas sediada em Boca Raton, Flórida.
Clima adverso e preocupações com a redução de investimentos no cultivo
Em uma perspectiva publicada na segunda-feira, Hackett afirmou que o “dinheiro esperto” tem se posicionado na compra de cacau desde que houve um sinal altista nas mínimas registradas no começo de outubro. Hackett disse ainda:
“Houve uma queda modesta (...), mas não há dúvidas de que o ‘dinheiro esperto’ continua posicionado na compra, corroborando a expectativa de alta nos preços”.
Hackett citou como fundamento o clima adverso na principal região de cultivo de cacau no mundo, a África Ocidental, onde houve uma crise por falta de pagamento dos compradores há alguns anos, suspendendo as perspectivas de investimento de longo prazo nas plantações. De acordo com Hackett:
“A falta de crédito e a falência de produtores deixam uma população de cacaueiros antigos vulneráveis a uma estagnação prolongada da produção, apesar dos constantes aumentos na demanda global. Acreditamos que o mercado de cacau está começando a se preocupar com isso, apostando na alta do mercado, apesar do clima baixista disseminado entre a comunidade de analistas, devido às expectativas atuais de grande colheita".