Sell in May and Go Away #sqn
Ontem foi dia de otimismo nas bolsas ao redor do mundo e sem tretas em Brasília, levando o Ibovespa a fechar em alta de 2,9 por cento a 87.946 pontos.
Quem diria…
No meio de uma das maiores crises da história e contrariando o tal "Sell in May and Go Away" ("venda em maio e vá embora"), o Ibov caminha para encerrar o mês com um retorno bastante expressivo.
Não estou querendo "zicar" faltando dois pregões para acabar, hein?
Mas com uma valorização de 9,2 por cento acumulada até agora, acho que já dá para cantar essa bola.
Antes de seguir no tema principal, eu gostaria de "enterrar" de uma vez por todas essa história de "Sell in May and Go Away".
Essa lenda começou lá nos EUA devido ao fato de que, historicamente, a pior janela de 6 meses da bolsa americana acontece entre maio e outubro, com apenas 1,5 por cento de retorno médio.
Supostamente isso está relacionado ao período de férias no hemisfério norte (fim da primavera até o começo do outono).
Mas quando olhamos os resultados mensais nos últimos 20 anos, maio já é até muito mais positivo do que negativo.
Observando o que acontece na bolsa brasileira, eu até poderia dar o braço a torcer. Maio é disparado o mais vermelho dos meses. São 14 negativos contra 6 positivos, com 2020 sendo, até agora, um dos melhores da história.
Bom, mas e aí? O que a gente faz com esse tipo de informação?
Absolutamente nada.
Mesmo assim, eu quis falar do assunto porque essa pergunta ainda aparece muito:
"Como não se preocupar em proteger a carteira em um mês que historicamente é ruim para bolsa?"
Ao meu ver, uma estatística baseada na "performance do calendário" é o tipo de coisa que tira o foco do investidor de longo prazo.
O que garante que o padrão será mantido daqui para frente? Nada.
A única técnica que realmente funciona é comprar a bolsa quando ela cai.
Ao invés de se preocuparem com as quedas, os investidores deveriam se preocupar com boas compras.
Onde a maioria vê quedas, você deveria enxergar promoções.
Onde a maioria vê risco, você deveria enxergar oportunidades.
E segue o jogo.
Meio do caminho
Agora voltando à pergunta do título: será que o bull market voltou?
O Ibovespa chegou a bater 119 mil pontos no auge da euforia, depois bateu 61 mil pontos no auge do pânico. Aos 87 mil pontos, estamos exatamente no meio do caminho.
Tecnicamente, o que configura um bull market é uma situação em que os preços das ações sobem 20 por cento, geralmente após uma queda de 20 por cento, e antes de um segundo declínio de 20 por cento.
Subimos 38 por cento das mínimas. Caímos 27 por cento das máximas.
Por isso, para a gente ter certeza de que entramos novamente em uma tendência de alta, o Ibov não poderia apresentar um drawdown maior do que 20 por cento daqui para frente.
Essa é a resposta técnica.
A resposta sincera é: eu não sei. Eu nunca sei.
O que tentamos fazer aqui é colocar o cenário em perspectiva e lidar com probabilidades. E me parece que as probabilidades daqui para frente são bastante favoráveis, se a gente respeitar um horizonte de pelo menos 3 anos.
Se acontecer antes, melhor. Mas vamos considerar 3 anos por segurança.
Ontem eu estava dando uma olhada na performance de alguns fundos.
Um fundo bastante conhecido do mercado, o Alaska Institucional FIC FIA, obteve um retorno de 1,87 por cento nos últimos 12 meses, contra -8,9 por cento do Ibov (não considera a alta de 2,9 de ontem). O CDI no período foi de 4,85 por cento.
Observando os fundos da nossa carteira recomendada, encontramos retornos positivos de até 10 por cento em 12 meses.
Ou seja, mesmo após passarmos por uma das maiores crises da história, quem investiu há 12 meses — um horizonte curto para se investir em ações — não perdeu tanto assim para uma aplicação conservadora ou, em alguns casos, até ganhou.
Quando tínhamos juros na ordem de 10 por cento ao ano, errar na bolsa custava muito caro.
Mas agora o custo de oportunidade, que já é baixo, vai ficar ainda menor.
Hoje a SELIC está em 3 por cento ao ano. O mercado já precifica novos cortes em 2020, e já existe quem aposte em juros 0 (zero) no médio prazo.
Isso significa que 95 por cento de todo o estoque de aplicações do brasileiro vai passar a render negativo.
À medida que o custo de oportunidade vai caindo, o retorno exigido para um investimento como ações passa a ser muito menor.
Será que se a bolsa render 30 por cento em um prazo de até 3 anos, considerando um dividendo líquido anual da ordem de 5 por cento, é um mau negócio?
Eu acredito que não.
Com a reabertura das principais economias do mundo e finalmente a descoberta da vacina da Covid-19, a pressão vendedora pode aliviar, e os mercados naturalmente voltam para preços mais normais — ainda que os resultados da companhias sofram no curto prazo.
É importante lembrar que o custo de oportunidade ao redor do mundo já é zero há muito tempo. ⅓ do estoque de títulos soberanos rendem juros negativos.
Não há alternativa se não comprar ativos como ações.
Na hora em que todas as incertezas se dissipam, já não há mais oportunidades.
A gente não consegue prever o que vai acontecer com o mercado, mas lidando com as probabilidades, entendemos que o cenário nos oferece bons argumentos para o investimento em ações.
E neste possível cenário de retomada, a diversificação é sua aliada.
Um abraço.