Olá, pessoal! Hoje mais tarde decidimos uma vaga nas semifinais da Copa do Mundo 2022 contra a Croácia, atual vice-campeã mundial. Claro que estamos todos pensando nesse jogo. Minha inspiração para escrever o artigo de hoje veio daí e resolvi traçar um paralelo entre a participação do Brasil na Copa do Mundo e os seus investimentos.
Antes de mais nada, não quero simplificar a questão dizendo ou deixando a entender que investir é um jogo, pois não é. Investir tem muitos elementos de um jogo, isso é inegável, mas vai muito além disso. Matematicamente falando, há sim correlação positiva entre investimentos e jogos, porém essa correlação está longe de ser próxima de um. Se você não percebe isso com clareza, este artigo é ainda mais importante para a sua educação financeira de investimentos.
Assim como nossos craques Vini Jr., Neymar, Richarlison etc. precisam fazer o diferente para surpreender seus adversários, também farei diferente e não irei numerar as seis dicas para o hexa (que valem para os seus investimentos) de um a seis, ok? A numeração será diferente, vai percebendo! Começarei por 1958 (já entendeu?).
1958 - O futuro é imprevisível
Como será que a Croácia jogará contra o Brasil? Alguém crava aí? Aliás, vocês viram os jogos que a Suíça fez contra o Brasil na fase de grupos e contra Portugal nas quartas de finais? Será que Portugal estava num dia inspiradíssimo e o Brasil não? Será que a Suíça jogou de forma totalmente diferente nas duas partidas? Ou, por fim, será que a Suíça usou uma mesma estratégia que deu certo contra o Brasil, mas foi desastrosa contra Portugal, já que a equipe portuguesa havia aprendido como a Suíça gosta de jogar? Todas as opções são possíveis e quem não diz que há uma mistura delas? E, uma pergunta ainda mais difícil: quem poderia prever que a mesma Suíça que fez jogo duro contra o Brasil tomaria de 6 de Portugal com Cristiano Ronaldo boa parte do jogo no banco?
Pessoal, por mais que tentemos criar cenários e expectativas baseadas em dados confiáveis, sempre haverá elementos imprevisíveis e que surgem aleatoriamente. Por exemplo, Neymar pode pisar em falso e se contundir aos 5 minutos do jogo e boa parte do que foi pensado para a partida cai por água abaixo. Lembre-se do Natal de 2019: quem poderia prever um cenário de pandemia tão excêntrico para o mercado no ano seguinte? Desta forma, minha dica de número 1958 é: não tente prever exatamente como o futuro se dará, muito menos busque por essas respostas. Procure prever cenários e compreenda que “jogo será jogado” ou que tipo de investimento se mostrará mais robusto e eficiente.
1962 - O futuro é imprevisível, mas isso não quer dizer que você não precisa de uma boa estratégia
Uma conclusão equivocadíssima que alguns investidores principiantes tiram do ponto anterior é: “ah, se eu não conseguirei jamais prever o futuro, isso quer dizer que não preciso me preparar, pois jamais saberei o que, de fato, acontecerá”. Aí que está a perigosa correlação entre investimentos e jogos. Se você está num cassino e quer apostar se o próximo número de uma roleta honesta será par ou ímpar, realmente não há estratégia que aumente suas chances. Mas no futebol e em investimentos, isso é muito diferente.
Tite precisa tentar entender seus jogadores para conseguir tirar eficiência máxima deles, tendo como “condição importantíssima de contorno” que eles jogarão contra uma equipe de 11 jogadores que representarão um país chamado Croácia. Se Tite e seus jogadores simplesmente não treinarem e não estudarem o time da Croácia, entraremos em campo totalmente desfavorecidos. Com investimentos, é a mesmíssima coisa: ao não analisar o mercado e os ativos nos quais você pretende investir, você “entra em campo” extremamente desfavorecido tal como uma sardinha num mar de tubarões. Você pode até eventualmente ganhar, mas, acredite, isso não será consistente e você perderá dinheiro com seus investimentos no decorrer do tempo.
1970 - Uma boa estratégia é aquela que vence – só que não!
Está aí um outro lance perigosíssimo tanto no futebol quanto em investimentos: julgar uma estratégia por uma ou pouquíssimas vitórias. Lembro que a lei é dos grandes números, não dos pequenos. Em outras palavras, se uma dada estratégia foi testada inúmeras vezes e ela se saiu bem na maioria das ocasiões, temos indícios de que a estratégia é realmente boa. Porém, para essa conclusão ser confiável, realmente precisamos de “inúmeras vezes” para a lei dos grandes números ser válida (se você desconhece essa lei matemática, pesquise para entendê-la, pois se trata de um dos grandes achados matemáticos).
Quantas vezes um técnico não fez opções erradas que deram certo em um ou outro jogo ou até numa partida decisiva que o fez levar o título? E, então, logo no campeonato seguinte, o mesmo técnico é criticado e demitido por conta das derrotas? São tantos exemplos, não? Em investimentos é a mesmíssima coisa. Você pode eventualmente estar com uma carteira extremamente mal diversificada, com ativos muito correlacionados e risco nas alturas, mas o mercado acabou andando para o seu lado e te propiciou belos lucros. O final dessa história é a mesma do técnico que aposta em opções equivocadas: logo depois, o mercado não apenas tomará esse seu lucro, como te deixará de calças arriadas se você não tiver aprendido a lição. Portanto, não tome uma estratégia como boa e vencedora apenas porque ela “deu certo ontem e anteontem”.
Aliás, gosto muito em sala de aula de dar exemplos no contexto de um lançamento de dado por se tratar de algo extremamente simples e didático. Imagine que alguém extremamente generoso te ofereça duas opções: (A) ganhar R$ 10.000,00 se o dado resultar em 1, 2, 3 ou 4; ou (B) ganhar os mesmos R$ 10.000,00 se o dado resultar em 5 ou 6.
Agora pense que alguém optou pela estratégia B e – que sorte! – o dado deu como resultado o número 6. Será que a estratégia dele foi acertada? Claro que não! Da mesma forma, Tite poderia entrar em campo hoje com o time reserva, tal como fez contra Camarões, né? Pode sim e concorda comigo que ele pode mesmo assim ganhar a partida? Claro né, tal como nosso apostador anterior ganhou os R$ 10.000,00 ao escolher a opção menos provável. No entanto, se Tite optasse pelo time reserva, da mesma forma, estaria entrando em campo logo mais ao meio-dia com menos chances de passar às semifinais. Simples assim!
1994 - Prepare-se adequadamente, sempre
Dito tudo isso, não custa repetir e repetir: prepare-se MUITO. Você tem alguma dúvida de que nossos jogadores passaram esses últimos dias treinando e se preparando mentalmente para o jogo contra a Croácia? Se não fizeram isso, certamente reduziram suas chances logo mais. E, saibamos, a Croácia também deve ter feito a sua parte. Em investimentos, você precisa estudar muito e constantemente. Você precisa ler o que outros investidores fazem, participar de lives sobre investimentos, seguir bons educadores financeiros e... estudar! Não tem jeito pessoal: somente assim grandes investidores como Warren Buffet, Peter Lynch e tantos outros chegaram a este patamar.
2002 - Entenda que não existe estratégia 100% vencedora
Nenhuma estratégia vencerá sempre. Mesmo “a melhor estratégia do universo” (aquela boa demais que um vizinho seu diz ter e que, confesso, desconheço) perderá em algumas situações. Você sabe da história da seleção de 1982? Um timaço com cracaços de bola, com direito a Leandro na lateral-direita e Zico no meio de campo, passando por Falcão, Cerezo e Júnior. E não ganhou. Quer dizer que o técnico errou? Pode ser que ele não tenha ajustado a marcação, mas quem tem certeza disso? Quer dizer que nossos craques estiveram num dia ruim e Paolo Rossi (BVMF:RSID3) foi iluminado com seus três gols? Novamente, não podemos cravar. Mas uma coisa eu e dez a cada dez pessoas que gostam e acompanham futebol podemos afirmar para você: se aquela seleção jogasse outras dez Copas do Mundo, ganharia umas oito ou nove vezes! Era muito melhor do que qualquer outra seleção à época. Infelizmente, para nós brasileiros, aquele jogo contra a Itália foi a realização da exceção. E exceções, apesar de precisarem ser consideradas, não podem servir de regra.
Da mesma forma em investimentos, toda estratégia terá períodos de perdas. No entanto, uma boa estratégia ganhará muito mais vezes e mais do que compensará aqueles períodos de perdas. Procure entender os contextos nos quais sua estratégia não dará certo até para você segurar sua ansiedade e ter controle do risco ao qual você está submetendo seus investimentos.
2022 – Esteja pronto para compreender um novo cenário e mudar a sua estratégia
O perigo da dica anterior é a soberba meus amigos. Sabe aquele técnico cabeça dura que jamais muda de opinião por achar que nunca erra? Seu time já teve técnico assim? Pois bem, o meu também. Um investidor vitorioso está periodicamente reavaliando a sua estratégia para ver se ela permanece adequada. E quer saber mais? O fato de você mudar a sua estratégia não significa necessariamente que você está assumindo que errou antes. Simplesmente, o contexto e as premissas que você utilizou para construir aquela estratégia podem ter mudado.
Imagine que a Croácia entre em campo hoje com um esquema extremamente defensivo por saber do poderio de ataque da seleção canarinho. Com 25 minutos de jogo, nosso zagueirão Thiago Silva deu duas bordoadas e tomou o vermelho. E, pior: Neymar foi reclamar com o juiz e levou seu segundo amarelo, também sendo expulso. Todos concordam que agora o empate passa a ser um bom resultado para o Brasil e não mais para a Croácia? Concordamos então que o técnico da Croácia deve repensar a sua estratégia, tendo em vista o que aconteceu?
Pois é, a cada dia novas informações são reveladas ao mercado e algumas delas podem fazer você reavaliar sua carteira. Isso não é errado, muito pelo contrário, é sábio. Porém, como em tudo na vida, devemos ter um equilíbrio entre as dicas 2002 e 2022 (entendeu a numeração das dicas? Aposto que sim!). Por exemplo, se sua estratégia muda quase que semanalmente, é muito provável que ela não esteja adequada. Uma boa estratégia é aquela que só muda mediante informações excepcionais e/ou bastante incisivas a ponto de alterar as premissas do seu modelo original. E essas informações não aparecem rotineiramente. Em outras palavras, boa parte da incerteza precisa ser capturada por sua estratégia e a dica para atingir esse objetivo é aquela palavrinha bonita que soa batida, mas segue muito válida: diversificação.
E aí, vamos levar essa Copa do Mundo? Bora torcer hoje e nos demais jogos, né? Ah, se você gostou deste artigo, não deixe de comentar abaixo: leio tudo e isso é muito importante para mim. Escrevo com muito carinho para e por vocês. E não deixem de me seguir nas redes sociais @carlosheitorcampani, pois assim você acompanhará todo o conteúdo que produzo, sempre com extrema responsabilidade.
Forte e respeitoso abraço a todos vocês. E muitos gols do Brasil hoje!
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor do Coppead/UFRJ, Pesquisador da Cátedra Brasilprev em Previdência e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.