Sim, nós acreditamos em hedge.
Sim, nós compreendemos o argumento do barbell talebiano, em que 80% do seu patrimônio deve ser alocado em ativos à prova de falência.
Sim, nós defendemos que o único critério racional para tomar decisões de investimento é a maximização da sobrevivência.
Mas nem por isso vamos tratar o book de seguros como a bailarina do Chico Buarque.
Assim como nós, marginais alados, o book de seguros também tem os seus defeitos.
Veja só a situação do Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34) na segunda passada, e as lições que esse episódio de queda de sistemas traz para o investidor pretensamente "bullet proof", que deseja fiscalizar sua carteira o tempo todo, nos mínimos detalhes, e que é obcecado por segurança.
Tudo começou com uma manutenção preventiva de rotina, durante a qual um comando foi dado visando obter informações sobre a capacidade disponível do backbone global do FB.
Devido a um erro, esse comando acabou derrubando todas as conexões da rede, gerando um efeito em cadeia que desconectou data centers do Facebook no mundo inteiro.
Irônico, não?
Você dá um comando para ver se a capacidade está ok, e aquele mesmo comando destrói completamente sua capacidade.
Isso remete aos custos ocultos do desejo de controle e monitoramento, por vezes substancialmente maiores do que eventuais riscos explícitos do descontrole e da desinformação.
Ao monitorar os downticks do mercado a cada microssegundo, investidores se apavoram, vendem a qualquer preço e potencializam coletivamente a derrocada de suas alocações em Bolsa.
Ao buscarem a prevenção de adiantar liquidez para se protegerem de possíveis futuros resgates, gestores provocam seus futuros resgates.
Pois bem, uma vez instaurado o problema, a única forma de corrigi-lo era levar os engenheiros do FB para dentro dos data centers, já que o acesso remoto havia sido cortado.
No entanto, assim que adentraram os espaços físicos, os engenheiros perceberam que a restauração dos sistemas ainda levaria um bom tempo.
Os níveis de segurança dos data centers são tão elevados que até mesmo os funcionários da própria empresa enfrentam enormes dificuldades para acessá-los e reconfigurá-los.
A opção por máxima proteção não é nada trivial, pois esbarra em trade-offs duríssimos.
Quanto mais nos protegemos pensando em cenários ruins, menos nos protegemos de outros cenários ruins (não pensados) e menos nos liberamos para tirar proveito dos eventuais cenários bons (a virada pode ser rápida).
Você pode dormir tranquilo com o conforto do seu book de seguros devidamente montado.
Bons sonhos, meu bebê!
E pode também acordar com a pior ressaca do mundo: aquela que aflige a única pessoa que não foi convidada para a festa.