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O Banco do Japão e a armadilha da liquidez

Publicado 10.01.2024, 14:00

O "hiato do produto" (output gap) é uma medida econômica que representa a diferença entre a produção econômica real de um país e sua produção potencial ou máxima. Em outras palavras, o hiato do produto indica o desvio percentual entre o nível de atividade econômica efetiva e o nível que a economia poderia atingir se estivesse operando a plena capacidade, sem excesso de desemprego ou subutilização de recursos.

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Quando a economia está operando acima de sua capacidade máxima, o hiato do produto é positivo, indicando pressões inflacionárias. Por outro lado, se a economia está operando abaixo de sua capacidade, o hiato do produto é negativo, indicando um potencial ocioso e a possibilidade de estímulo econômico marginal, indicando a subutilização de alguns fatores de produção..

(Fonte: Bank of Japan)

O "Tankan Factor Utilization Index" específico refere-se ao índice de utilização de fatores ou recursos produtivos pelas empresas japonesas. Ele oferece insights sobre como as empresas estão utilizando seus ativos, como equipamentos e mão de obra, em relação à sua capacidade máxima. Um índice mais alto sugere uma utilização mais eficiente desses fatores, enquanto um índice mais baixo pode indicar subutilização.

Fica evidente a dissonância que vigora desde o início da última década entre o "Tankan Factor Utilization Index" e o "output gap". Enquanto o Tankan apresenta crescimento, indicando uma potencial otimização na utilização de recursos produtivos pelas empresas japonesas, o "output gap" persiste negativo. Mas por qual motivo isso pode estar acontecendo?

A estagnação persistente pode ser correlacionada com a condição econômica conhecida como "liquidity trap" ou armadilha de liquidez. A "liquidity trap" ocorre quando as taxas de juros estão próximas de zero e, consequentemente, há um excesso de meios circulantes em uma determinada economia, nesse cenário, a política monetária convencional se torna ineficaz, incapaz de estimular o investimento e o consumo mesmo com a injeção de liquidez no sistema financeiro.

Nesse cenário, mesmo com condições favoráveis de financiamento e um ambiente propício para o crescimento, as empresas podem hesitar em investir e expandir suas operações, e os consumidores podem ser cautelosos em seus gastos. A "liquidity trap" pode resultar em uma situação em que a oferta de dinheiro é abundante, mas a demanda por investimentos e bens e serviços permanece baixa.

Ou seja, as taxas de juros no Japão estão artificialmente baixas, mas tão baixas que as pessoas e empresas preferem manter seu dinheiro na forma de ativos líquidos. Essa escolha reflete a relutância em se comprometer com investimentos de longo prazo, uma vez que os retornos potenciais desses investimentos podem não compensar adequadamente os custos e riscos associados. Nesse cenário, a demanda efetiva por investimentos de longo prazo é restringida, impedindo a tendência natural do estabelecimento do ciclo de acumulação e gozo econômico. A dinâmica econômica fica comprometida, limitando a capacidade do sistema financeiro de desempenhar seu papel tradicional de alocação eficiente de recursos para impulsionar o crescimento sustentável.

A política monetária japonesa, notavelmente uma das mais heterodoxas do mundo, se destaca por ser pioneira na implementação de estratégias como o afrouxamento quantitativo ("quantitative easing") e a introdução institucionalizada do Controle da Curva de Rendimentos ("Yield Curve Control"). Essas abordagens visam combater persistentes desafios econômicos, como deflação e estagnação, mas ficamos nos perguntando até que ponto, com a missão de estimular a demanda agregada e o gasto, o Banco do Japão (BoJ) pode comprometer o acúmulo de riscos e distorções no mercado financeiro. Digo, os sistemas de preços, juros e câmbio funcionam justamente para o observador atento às efetivas demandas dos agentes econômicos no mercado.

Quando o BoJ suplanta esses mecanismos praxeológicos em nome de um estímulo marginal e efêmero, se está negando o papel maximizador da eficiência alocativa dos agentes econômicos, e, dessa forma, no longo prazo, você só poderá esperar a completa anomia das políticas fiscais e monetárias, uma vez que não estão sendo conduzidas através da dinâmica caláctica dos agentes econômicos.

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