Em semana de feriado aqui no Brasil, a principal notícia macrofinanceira relaciona-se ao cenário externo. Enquanto a Gazprom desliga o fornecimento de gás através do duto Nord Stream para a Europa e coloca mais riscos em termos de atividade e inflação para o continente, o Banco Central Europeu reconhece a enormidade do seu desafio de conter os preços e implementa a maior alta de juros de sua história. De uma só vez, o ECB (na sigla em inglês) elevou os juros em 75 pontos base e contratou novas elevações daqui até o final do ano.
O comunicado divulgado após a reunião traz as projeções atualizadas da autarquia. Em junho, esperava-se uma inflação de 6,8% para 2022. Agora, espera-se 8,1%. Para 2023 e 2024, as expectativas ficaram em 5,5% (vs. 3,5% de junho) e 2,3% (vs. 2,1% de junho), respectivamente. A projeção do PIB para o final deste ano ficou em 3,1% (vs. 2,8% de junho). Já o PIB de 2023 foi revisado de 2,1% para 0,9%, em função da queda do poder de compra dos agentes e aumento dos custos de produção. Para o final de 2024, espera-se 1,9% (vs. 2,1% em junho). Vale destacar que o ECB antevê contração da atividade em 2023 em seu cenário pessimista.
O ECB reforçou que a flexibilização dos reinvestimentos dos vencimentos na carteira do PEPP continuará sendo a primeira linha de defesa para fazer frente aos riscos relacionados à pandemia. Sobre o APP, o ECB reitera que os reinvestimentos se darão enquanto for necessário manter amplas condições de liquidez e apropriada postura de política monetária.
Na coletiva de imprensa, a presidente Lagarde deixou claro que a inflação está se disseminando pelos grupos, em maior parte por conta dos desdobramentos do aumento da energia, e permanecerá acima da meta por algum tempo. Adicionou que um mercado de trabalho forte pode ocasionar aumento de salários, implicando maior pressão inflacionária em serviços, principalmente.
Nota-se que, apesar de a decisão de alta ter sido unânime, houve diferentes visões acerca do tamanho da alta. Nesse sentido, movimentos de 75bps não são a norma, segundo a Lagarde. A presidente disse ainda que “several meetings” pode significar algo entre duas e quatro reuniões. Sobre a taxa neutra de juros, o conselho não sabe exatamente qual é o patamar. Entretanto, foi dito que, quanto mais longe da taxa terminal, maior o ritmo de aumento. Lagarde também ressaltou o impacto da depreciação do euro na inflação, por meio das importações. Não foi dado nenhum detalhe acerca do TPI.
Ou seja, ante um cenário de crescimento desafiador e avanço da inflação, o ECB segue o mandato de estabilidade de preços e tenta agora limitar os riscos atrelados à desencoragem das expectativas. Com isso, reforça-se novamente a perspectiva de que o mundo passará por um período de juros significativamente mais altos do que no ciclo passado.