Selic caiu para 3 por cento, e agora?
Ontem na reunião do Copom, o Banco Central reduziu a Selic de 3,75 para 3 por cento. O mercado esperava uma queda de apenas 50 pontos, mas foi surpreendido pela decisão de uma queda maior.
No comunicado da divulgação, alguns pontos valem o destaque:
1. Projeções de Inflação caíram
A projeção do modelo de inflação do Banco Central, aquele que ele usa para calibrar a política monetária, caiu e se encontra abaixo da meta de inflação de 2020 e 2021.
"No cenário híbrido, {...} as projeções do Copom situam-se em torno de 2,4 por cento para 2020 e 3,4 por cento para 2021".
Lembrando que a meta de inflação para 2020 é de 4 por cento e para 2021 é de 3,75 por cento. Se o BC não caísse mais os juros, ele correria o risco de não cumprir a meta de 2020 (que já está perdida de qualquer forma) e de 2021.
2. BC sinaliza nova queda
O Comitê achou sensato sinalizar que a próxima reunião, caso tudo continuasse mais ou menos igual, contaria com mais uma queda de 75 pontos, o que levaria a Selic para 2,25 por cento.
"Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e ressalta que novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos".
O que isso significa para os meus investimentos de renda fixa?
A primeira consequência é que os seus investimentos pós-fixados (como o Tesouro Selic) vão render menos a partir de amanhã. Mas seguirão com retornos positivos, o que é um grande diferencial para o momento atual tão conturbado.
Ter investimentos em pós-fixados de crédito privado é uma boa alternativa para buscar um pouco mais de retorno, sem ter que incorrer em riscos de perda com marcação a mercado.
Ter carteira de crédito privado que pode te ajudar nesse desafio, aproveitando as altas recentes das taxas de bancos e empresas para melhorar bastante a rentabilidade da carteira.
Há opções de LCIs e LCAs com retornos brutos de 130 por cento do CDI. Além disso, há opções de debêntures de empresas seguras com cerca de 140 por cento do CDI.
Voltando aos impactos nos seus investimentos, veja o que acontece com os prefixados de vencimento próximo e com os prefixados e indexados à inflação (Tesouro IPCA+) de vencimento mais longo.
Os prefixados curtíssimos, de até 2 anos, devem ter quedas de taxa em torno de 20 pontos (ou 0,20 por cento), o que traria um retorno para os títulos de aproximadamente 0,50 por cento. Não é muito. Eu, particularmente, acho que não vale a aposta.
Já a performance dos juros longos será uma grande incógnita. Vamos ficar de olho.
Por um lado, o mercado pode entender que essa queda está sendo demasiada, ainda mais em um momento de piora fiscal e desvalorização cambial. Neste caso, veríamos as taxas subirem e os títulos prefixados e indexados à inflação se desvalorizarem.
A aprovação da ajuda aos estados e municípios na Câmara, que aconteceu ontem, colabora para essa narrativa. Os deputados aumentaram os setores que ficam fora do congelamento de salários como contrapartida da ajuda fiscal federal. Com isso, a economia prevista cai de 96 bilhões para 40 bilhões.
Por outro lado, o mercado poderia cair os juros longos, menos do que os curtos, mas com alguma queda, vislumbrando que será necessário menos juros para o momento de baixo crescimento atual. Neste caso, os títulos longos devem ter uma performance estável ou de leve ganho.
Caso o mercado se comporte, o dólar não se desvalorize em demasiado, as notícias de controle fiscal dos planos de gastos com a PEC da Guerra não piorem, certamente teremos uma nova queda de 75 bps na Selic.
E o dólar, Marilia?
O dólar vai se valorizar. Na verdade, é o real que vai se desvalorizar.
E isso não necessariamente é ruim. Torna o país mais competitivo, e faz parte do ajuste macroeconômico.
A desvalorização só se torna ruim quando aumenta a dívida externa ou quando provoca alta na inflação.
Sobre a dívida externa, somos credores externos líquidos, ou seja, temos uma reserva cambial maior do que nossa dívida externa. A desvalorização do real é boa para as reservas.
Sobre o repasse para a inflação, até agora não vimos isso acontecer e a expectativa dos agentes segue sendo de inflação cadente. Vale sempre acompanhar de perto, para ver se isso se mantém. Mas até agora, não parece ser um problema.
Mas certamente estaremos prontos para reagir se algo nesse sentido acontecer.
Vamos ficar atentos!