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O Agronegócio Brasileiro Merece Respeito

Publicado 16.05.2022, 09:39

Nesta semana, na quarta e quinta-feira tivemos o “XXIII Seminário Internacional do Café, Santos, Brasil-2022”. O evento foi um sucesso com mais de 500 participantes (produtores/bancos/corretores/tradings/clientes/analistas/jornalistas dentre outros).

Tivemos palestras muito interessantes, dentre elas:

– “Cenário Macroeconômico” incrível apresentação do Sr. Sandro Mazerino Sobral – Head de Mercados e Tradings do Banco Santander Brasil (SA:SANB11);

– Apresentação da Sra. Michelle Burns (Vice-presidente Global da divisão chá e café da Starbucks);

– “O Brasil está bem-posicionado na Cadeia Mundial de Café?”, painel em que participaram o diretor executivo da Volcafé (Sr. Trishul Mandana); o CCO e head da divisão de café do grupo ECOM (Sr. Edward A Esteve), e o CEO da NKG (Sr. David Neumann;  

– “Um novo olhar para a pós-colheita num cenário de mudanças climáticas” apresentada pelo professor da Universidade de Lavras (Professor Flávio Meira Borém);

– Painel das principais associações mundiais do café, onde participaram o CEO da National Coffee Association dos EUA (Sr. Bill Murray); o diretor executivo da Swiss Coffee Trading Association (Sr. Michael Von Luehrte); a diretora executiva da European Coffee Federation (Sra. Eileen Gordon laity); e o diretor executivo da Cecafé (Sr. Marcos Matos);

– “Cenário Mundial” de fretes marítimos e logística apresentado pelo diretor presidente da MSC (Sr. Elber Justo);

– Painel com o tema “Balanço de Carbono na Cafeicultura com Boas Práticas Agrícolas” com a participação da sócia sênior da SP Ventures (sra. Ariadne Caballero); Esalq/USP (Professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri); Sra. Silvia Pizzol da Cecafé; e a sra. Renata Fragoso Potenza – coordenadora de projetos de clima e emissões no Imaflora.

Vou tentar resumir em 3-4 parágrafos os principais pontos/polêmicas do seminário:

– As principais economias globais continuarão enfrentando problemas com inflação, logísticos e abastecimento durante os próximos 12-18 meses. A inflação nos EUA deverá atingir os +10% ao ano forçando o FED* a acelerar o aumento dos juros americanos (consequentemente fortalecendo o US$ frente as principais moedas e claro, desvalorizando o R$ – podendo voltar a +5,60/+6,00 R$/US$ em breve).

– O valor dos fretes marítimos seguirá firme durante os próximos 12-18 meses e só deverá voltar ao normal a partir da entrada dos novos navios durante 2023/24. Os novos navios deverão ter capacidade para +10/+14.000 contêineres. Diversos portos ao redor do mundo (inclusive os portos brasileiros) deverão se ajustar para poder recebe-los. Os gargalos “in-land” precisam ser ajustados com novos investimentos na infraestrutura portuária, ferroviária, rodovias, armazéns de retaguarda, entre outros;

– O Brasil vai continuar sendo o celeiro do mundo e um dos principais fornecedores de café para o mundo. Nos próximos 5-10 anos o Brasil poderá ultrapassar o Vietnam na produção de café tipo robusta; e até 2030 deverá estar produzindo 80/100 milhões de sacas de café/ano! O consumo mundial deverá aumentar entre 2,50/3,00%. Com essa projeção, durante os próximos 10-20 anos, o consumo mundial de café poderá ultrapassar 300.000.000 sacas/ano já a partir de 2043!

– A comunidade europeia, com sua politica para implementar a prática do “carbono zero”, deverá enfrentar restrições dos principais países produtores. Algumas entidades já estão trabalhando para demonstrar os problemas/dificuldades que as origens irão enfrentar. Dependendo do andamento da “obrigatoriedade” o risco de abastecimento alimentar nas próximas décadas não é mais uma questão de “se”, mas sim de “quando”!

– A tentativa dos europeus em “controlar” o mundo buscando adquirir produtos certificados com o selo “carbono-zero” resultará no aumento dos custos de produção gerando problemas globais e aumentos consideráveis na cadeia alimentar/suprimentos;

– Muito se falou em “precisamos trabalhar juntos – we need to work together”; “sustentabilidade é a chave do futuro”. Infelizmente nada de concreto foi decidido/mencionado sobre ações a serem tomadas/propostas de imediato e em conjunto entre as principais tradings/torrefadoras/corretoras/bancos para “trabalharem junto com os produtores e incentivá-los a seguirem nas suas atividades sendo “remunerados/valorizados decentemente”;

Em um dos painéis o comentário do executivo de uma das maiores tradings europeias foi o seguinte: “se o produtor brasileiro não estivesse sendo bem remunerado, se não estivesse tendo lucros, então como seguem expandindo sua produção?”. Ora, os grandes produtores seguem expandindo sim, comprando seus vizinhos “pequenos e médios”. Mas no Brasil, 80% da produção de café está nas mãos dos “pequenos e médios produtores” com propriedades entre 10/50 hectares! E na América Central? África, Colômbia Indonésia, Índia, Vietnam? Como já mencionado em outro comentário semanal, “ou o setor se une ou vai faltar café”!!

Não só no Brasil, mas ao redor do mundo, o produtor não quer esmolas! O produtor quer apenas que o seu produto seja valorizado e que uma parte dos vultosos lucros que ficam no meio da cadeia seja melhor e justamente distribuído!

– Muitos estrangeiros se sentem na liberdade de vir ao nosso país e falarem tolices sobre nossa política de proteção de vegetação nativa! Não conhecem ou se fazem de ignorantes referente à nossa política florestal/ambiental onde o produtor é obrigado a manter de 20-30% e em alguns casos 80% de reserva legal na sua propriedade!

Um dos palestrantes Diretor executivo de uma trading suíça centenária começou sua apresentação criticando “as queimadas da floresta amazônica” (como se o Brasil fosse o “responsável pelo aquecimento global”)! Infelizmente este senhor não deve ter visitado a região amazônica e com certeza não conhece a fundo (ou vem sendo muito mal assessorado pelos seus subordinados) sobre as políticas e as ações que vem sendo adotadas no Brasil desde 2012 com a nova lei ambiental!

Como sabemos, o Brasil é o país com o maior índice de florestas nativas e proteção ambiental do planeta! O que aconteceu com as florestas nativas da Alemanha?

Imaginem se um brasileiro fosse participar de um seminário na Alemanha e condenasse aquele país (ou fizesse um simples comentário desonrando a imagem do seu anfitrião) em “estar contribuindo para o aumento dos problemas climáticos exportando para o mundo seus super carros “altamente poluidores” com motores V6/V8 a gasolina/diesel”? Ninguém mais fala nada sobre o “Diesel Gate” da famosa montadora alemã!!

Enquanto a China, Índia, Estados Unidos, e Comunidade Europeia (com a guerra o mundo ficou sabendo que eles consomem/queimam 7 milhões de barris de petróleo por dia e milhões de metros cúbicos de gás apenas da Rússia) continuam sendo os principais poluidores do mundo alguns europeus se sentem livres para vir falar cretinices sobre o Brasil! E continuam negociando entre si!

Lamentavelmente muitas das nossas lideranças (com algumas exceções) se curvam diante de comentários vazios como o de alguns executivos que no fundo trabalham pelo lucro das suas empresas de olho nos bônus milionários. Meter o pau no Brasil dá IBOPE. Se estão mesmo preocupados com a distribuição de renda e a sustentabilidade do planeta, podem destinar uma boa parte do resultado EBITDA das suas empresas para realmente melhorarem as condições de vida/resultado dos produtores ao redor do mundo. Ações de caridade extemporâneas pintando asilos, distribuindo comida em algum bairro na Índia ou Congo não contam.

Como já demonstramos aqui, enquanto uma saca de café arábica de 60 kgs é negociada hoje ao produtor por aproximadamente US$ 250/saca produzindo ao redor 48 kgs/saca de produto final (ou 48.000 gramas) essa mesma saca produz aproximadamente 9.600 cápsulas (aproximadamente 5 gramas café por cápsula). Ora, no Brasil, uma cápsula é vendida na ponta para o consumidor por aproximadamente R$ 3,00/cápsula! Um faturamento bruto de R$ 28.800 /saca equivalente – aproximadamente US$ 5.760/saca! “Apenas 23x mais”!! E o produtor, segundo um renomado executivo, já está sendo “bem remunerado”…

Abaixo notícia publicada pela CNN-Brasil no último dia 17 de fevereiro de 2022:

 

Receita da Nestlé cresce 3,3% e atinge US$ 94,5 bilhões no acumulado de 2021

Lucro líquido da companhia suíça aumentou 38,1% na comparação anual

A Nestlé informou nesta quinta-feira (17) que a receita bruta da companhia no acumulado de 2021 aumentou em 3,3% ante 2020, chegando a 87,1 bilhões de francos suíços (US$ 94,59 bilhões) ante 84,3 bilhões de francos suíços no ano anterior.

lucro líquido da companhia aumentou 38,1% na comparação anual de 12,23 bilhões de francos suíços para 16,9 bilhões de francos suíços (US$ 18,29 bilhões).

A empresa atribuiu o resultado ao crescimento nas vendas no varejo, uma recuperação constante em refeições fora de casa, aumento de preços e ganhos de participação de mercado.

No período, o crescimento orgânico da Nestlé foi de 7,5% sustentado pelo forte impulso na categoria de café, enquanto o crescimento real interno foi de 5,5%.

“Limitamos o efeito da inflação de custos por meio de gestão e preços responsáveis. Nossos robustos ganhos subjacentes mostram a resiliência do nosso modelo de criação de valor”, disse o CEO global da Nestlé, Mark Schneider, em comunicado divulgado para a imprensa.

A Nestlé afirmou também que continuou com evolução no portfólio, com exemplos que incluem a aquisição das marcas principais da The Bountiful Company e o desinvestimento das principais marcas de água na América do Norte.

Para o acumulado do ano fiscal de 2022, a Nestlé espera um crescimento orgânico de vendas de cerca de 5% e uma margem de lucro operacional subjacente entre 17% e 17,5%, sustentado por melhorias contínuas na margem de lucro operacional.

A alocação de capital e a eficiência também devem melhorar, de acordo com a companhia.

A Nestlé disse ainda que irá propor um dividendo de 2,80 francos suíços por ação na assembleia geral anual de 7 de abril, alta de 0,05 centavos de franco suíço.

O Banco Citi observou que a perspectiva de margem subjacente da Nestlé para 2022 implica em um pequeno declínio no consenso dos analistas do banco, que pode levar a um corte entre 1% a 2% do Ebit.

“Mas ainda aponta para um efeito menos severo do que o observado para os pares”, avaliou o Citi.

O presidente-executivo da Nestlé, Mark Schneider, disse que a orientação das margens é conservadora devido a um ambiente significativamente volátil.

“As perspectivas e os resultados confirmam que a Nestlé não está imune aos padrões atuais da indústria, mas ainda é capaz de suavizar e absorver melhor esses ventos contrários devido ao seu portfólio”, disse o Citi.

Sou a favor do capitalismo, e creio que as empresas tem que dar lucro e ganhar dinheiro, mas fazer marketing ambiental às custas do Brasil é tratar o país e a enorme classe dos produtores com menosprezo.

As lideranças nacionais precisam se posicionar de maneira mais profissional e assertiva quando alguém de fora vem com conversa fiada.

Sobre o mercado:

Na quarta-feira, com a previsão de “geadas à vista”, o mercado disparou! Chegou a subir +1.600 pontos! Na quinta e na sexta-feira, quando o risco da geada dissipou os preços voltaram a recuar aproximadamente -1.000 pontos.

O mercado deverá continuar muito sensível daqui pra frente. Os fundos + especuladores estão agora “comprados” em apenas +14.573 lotes! No período liquidaram -9.764 lotes! Estão agora “com a mão leve”! Estavam “long” +44.000 lotes há 3 meses!

No Set-22 a média móvel dos 200 dias virou um importante “suporte/resistência” a ser vencido! Fechou o último pregão da semana @ 218,30 centavos de dólar por libra-peso! Próximo suporte importante agora @ 208,00 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 218,30/221,10 e 228,70 centavos de dólar por libra-peso!

Nessa semana a Conab* deverá publicar sua revisão da previsão da safra 22/23. No seminário as previsões “mais sensatas” continuam entre +46/+57 milhões de sacas. Se a safra 22/23 vier abaixo de 50 milhões de sacas os preços deverão subir novamente. Para a safra 23/24 alguns analistas já falam em “no máximo +65 milhões de sacas”!

Espero que nossos amigos estrangeiros aprendam mais sobre “as riquezas e políticas ambientais  do agronegócio brasileiro”!

Ótima semana a todos!

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