O que há de comum?
Há três grandes eventos nesta quarta-feira. São eles:
1) Votação dos vetos da presidente tentando frear mais um rombo nas contas públicas;
2) Julgamento das pedaladas fiscais no TCU e abertura de processo no TSE contra a campanha que elegeu Dilma;
3) pressão adicional pela saída do ministro Joaquim Levy. Segundo colunista da Folha, só “faltaria decidir nome [do substituto] e momento apropriados”.
O que há de comum entre os eventos acima?
Todos têm impactos potenciais enormes sobre os rumos da economia e dos mercados.
E todos estão na esfera política.
De pensar que neste mesmo espaço já tive de me explicar por estar confundindo economia com política...
Reforço, mais de um ano depois: “não é um direito do analista/economista falar sobre o que pensa dos efeitos da eleição sobre os mercados. É um dever.”
O acerto de contas
Dos três eventos acima, de longe o que mais toma as páginas do noticiário é o julgamento das pedaladas fiscais, que pode (tende) a reprovar as contas do governo.
Quais os problemas detectados pelo TCU?
1. Pedaladas tiveram impacto fiscal de R$ 7 bilhões.
2. Omissão de passivos da dívida da União chega a R$ 40 bilhões.
3. Despesas do Minha Casa Minha Vida foram executadas de forma irregular.
4. Má utilização dos bancos públicos, que grosso modo, financiaram o Tesouro, o que é proibido.
Mas os expedientes para inflar o superávit primário foram muito além...
Dentre os artifícios de contabilidade criativa e/ou itens não-recorrentes estrategicamente posicionados para inflar o superávit primário, tivemos outros episódios emblemáticos, entre eles:
5. leilão de linhas 4G 6. atraso de repasses para CEF e BB (SA:BBAS3)
7. aumento dos dividendos distribuídos pelas estatais em meio à tomada de dívida pelas mesmas
8. reabertura do Refis
9. leilão de excedente de produção futura do pré-sal com pagamento antecipado pela Petrobras (SA:PETR4), sem licitação
10. Sem contar artifícios sobre outras contas, como empurrão à balança comercial através da transferência de plataformas de petróleo para Petrobras brasileira para subsidiárias da Petrobras no exterior, sem que elas tenham se movido uma palha do lugar...
Chegou a hora de o governo pagar a conta?
Pois estamos pagando ela diariamente.
A inflação oficial (IPCA) acaba de bater 7,64% entre janeiro e setembro, maior nível desde 2003. No acumulado de 12 meses já são 9,49%.
São as commodities, estúpido!
Poxa, tudo parece fora de lugar e vocês falando em momento histórico para comprar ações?
Isso.
A beleza da coisa é que os mercados tentam antecipar tudo, de forma que parte relevante da deterioração adicional da economia já está na conta (incorporado aos preços dos ativos).
Faz sete dias seguidos que o Ibovespa sobe. Melhorou o cenário econômico interno para tanto? Muito pelo contrário...
Tentei explicar nos últimos M5M que subimos por aqui acompanhando o fluxo externo, esse estimulado pela expectativa de continuidade de um ambiente de estímulos - e seu impacto inequívoco sobre os preços de commodities.
Como eu pude suspeitar disso?
Vejamos o que diz o meu monitor sobre essa alta de quase 3% do Ibovespa...
Onde estão as empresas de commodities?
Das 10 maiores altas do Ibovespa hoje, 8 são de ações de commodities.
Como estão os fundamentos dessas empresas de commodities?
Se ainda restava alguma dúvida, após hoje creio que estamos resolvidos.
Meu nome é agora
Será que a Bolsa virou mesmo, baseada meramente na expectativa de mais estímulos gerada por um relatório de emprego ruim nos EUA?
E escorada quase que unicamente em empresas de commodities extremamente alavancadas e com resultados em frangalhos?
Muito provavelmente não.
De toda forma, a grande questão é que é impossível saber.
Todos formam suas percepções sobre ativos financeiros com base na informação disponível. Esquecem-se, no entanto, que essa já se encontra incorporada aos preços. E o que formará preço, à frente, será justamente a informação não disponível.
Diga-me: o que, relacionado à economia brasileira, por exemplo, ainda pode te surpreender?
E, se você não conhece as informações indisponíveis, o que você acha mais provável para o Ibovespa daqui cinco anos: 24 mil pontos (-50%) ou 96 mil pontos (+100%)?
Tome a sua decisão financeira a partir disso. E disto.
O último peru com farofa
A Pimco, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, com mais de US$ 1 trilhão sob gestão, começa a ver a renda fixa soberana brasileira como atrativa.
Os gestores se mostram otimistas com os juros e esperam que o BC já comece a reduzi-los em 2016. Certamente um investidor deste porte comprando ativos aqui faria grande pressão nas taxas.
O que a Pimco não comenta é que, somente com a âncora fiscal – Governo gastando menos – será possível reduzir juros no próximo ano.
Mas o que achamos nós, mortais em meio à disputa de gigantes?
Suspeitamos que o Governo irá se utilizar de um método conhecido para facilitar o pagamento de sua dívida: permitirá inflação mais alta nos próximos anos.
Mas mesmo com inflação mais alta, digamos a 10%, ainda teríamos ao redor de 5% de juros real na curva pré. Lembrando que parte disso seria o prêmio de risco.
Nem sempre os juros na curva (futuros) significam apenas expectativas de aumento da Selic, mas também o prêmio que o investidor demanda para entrar neste tiroteio.
Quem garante a última captação da Petro?
a) confiança nos projetos da empresa
ou
b) o prêmio de risco que ela tem de pagar para o investidor