Há um movimento precipitado por parte de alguns segmentos do nosso mercado financeiro, que, por vezes, nos parece confuso ou meramente oportunista e especulativo que está forçando a precificação dos ativos com base na credibilidade da nova equipe econômica.
As economias mundiais, com exceção da americana que emite sinais de recuperação, estão com perspectivas desalentadoras, e, não podemos e não devemos perder o foco de que o Brasil está entre as mais frágeis, tendo como causas o equivoco que o levou a adotar políticas absolutamente erráticas.
Temos muito a fazer desafiadoramente para repor o país “nos trilhos”, mas por enquanto temos uma nova equipe gestora da economia com amplos anseios propositivos e uma sagacidade tributária robusta ante a impossibilidade de cortes nos gastos de governo de forma mais intensa visto que grande parte é de natureza mandatória.
Os nomes inspiram confiança, mas credibilidade dependerá dos resultados futuros e não dos anseios presentes.
É preciso ter sensatez nesta fase para que não se comemore com impactos nos preços dos ativos antes que existam sinais mais consistentes de viabilização das ideias e sucesso no alcance dos objetivos.
Ainda deve estar na lembrança de todos que a busca voraz da Europa pelo ajuste fiscal a qualquer custo acabou por aprofundar a estagnação e/ou recessão, frustrando todas as expectativas.
No Brasil, já há quem veja sinais de recessão em 2015 se tudo for feito efetivamente como vem sendo propagado, o que pode determinar gastos maiores do que as receitas, podendo aumentar o foco das agências de rating em torno do país, agravando o risco de perda do “grau de investimento”.
“Neste aspecto é relevante observar certas menções realizadas pela Diretora Geral de ratings soberanos da agência S&P, economista Lisa Schineller reproduzida em matéria do jornal Valor Econômico. Sobre o rating do país destacou que é estável, destacando que a agência vê perspectivas de melhora ou piora igualmente equilibradas. Destaca que a nova equipe está sinalizando mudanças, mas que houve uma longa deterioração na credibilidade da política macroeconômica, enfatizando que além dos sinais da equipe econômica, também é importante que haja apoio da classe política mais ampla ao longo do tempo, considerando fundamental para garantir a execução de medidas que, num primeiro momento, podem afetar o crescimento. Destacou que a S&P espera ver resultados concretos das medidas anunciadas pelo governo e também, que o cenário externo hoje é mais adverso ao Brasil. Lembrou que os preços de commodities estão em baixa e há a incerteza sobre os juros americanos. Afirmando que neste cenário é fundamental ajustar a política macroeconômica.
Segundo ela, desvios da rota de ajuste ou a falta de uma resposta a um eventual choque que afete as contas públicas ou as contas externas do país podem levar a uma eventual mudança no rating. E lembrou ainda, que as perspectivas para o crescimento e o cenário das contas públicas estão numa situação mais complicada, do que quando houve o rebaixamento do rating brasileiro, indicando que o ponto de partida da economia piorou.”
A análise da economista da S&P nos pareceu reproduzir o pensamento do mercado global e seus investidores em relação ao Brasil, pois puramente técnica, sem excessos e abrangente alcançando os pontos mais relevantes.
Não há como conceder o benefício da dúvida e atribuir, de imediato, credibilidade ao país pelas boas intenções manifestadas pela nova equipe econômica. Há um enorme desafio à frente e as diretrizes que estão sendo propagadas podem obter sucesso ou não, o tempo dará evidência, então serão possíveis conclusões sustentáveis.
Com o governo no seu estágio inicial ainda é cedo para se ter uma visão mais abrangente sobre o todo das mudanças, e, ainda levará algum tempo para se ter a convicção de que a equipe econômica terá apoio político irrestrito da Presidenta e do Congresso onde a base de apoio do governo é extremamente fragmentada.
Evidentemente podem ocorrer resistências até insuperáveis para medidas mais duras contrariando interesses presentes.
Num cenário em que a economia pode tender à recessão, inflação deve permanecer elevada refletindo os ajustes dos preços relativos da economia, incluindo os administrados, e novo impacto de elevação de tributos, juros elevados, etc... não se pode ser entusiasta em relação a 2015.
Por isso, carece de fundamento qualquer apreciação do real que contrarie a consistente e fundamentada tendência de apreciação do dólar no nosso mercado, face o cenário que deve envolver o país ao longo de 2015 e as perspectivas ruins para o setor externo.
Aos mais entusiastas com a apreciação do real face à credibilidade da nova equipe, fica uma indagação:
CADÊ O FLUXO CAMBIAL?
TODOS OS INDICATIVOS EM PERSPECTIVA APONTAM TENDÊNCIA DE PIORA DOS FLUXOS DE RECURSOS EXTERNOS NESTE ANO DE 2015!
Ontem, corroborando este sentimento, o IIF Instituto de Finanças Internacionais preconizou que o fluxo privado para emergentes deve cair novamente em 2015, ao mesmo tempo em que também evidenciou percepção de que o Brasil continua vulnerável a um aumento da aversão ao risco.