Se fosse um jogo, os sinais emocionais estariam sinalizando o “já ganhou”, mas como não é, a razão sinaliza que é preciso maior comedimento e admitir que possa haver inúmeros e expressivos riscos na trajetória ao longo do ano.
No nosso entendimento, há certo menosprezo pelos riscos e assim parece que “está escrito” que tudo dará certo, como se ciência exata fosse, mas acreditamos que mais do que nunca 2018 será um ano que precisará “ser feito” pelos brasileiros, desde uma forte postura renovadora na política até o empenho da população para sair da postura passiva ante um quadro ainda caótico da economia, que vem se valendo de números discretos de um sucesso com alguns pontos questionáveis.
E 2018 não aguardará o carnaval chegar para ser iniciado. Já em janeiro deverá ter o primeiro desafio turbulento advindo da política com o julgamento do ex-presidente Lula, que ao que tudo indica será condenado, o que deverá causar potencial perturbação no cenário politico e acentuará as incertezas sobre as perspectivas para a economia, já que o grau de resistência poderá determinar postura mais cautelar por parte de investidores internos e externos, seja no quesito conta capital seja no quesito de aplicações de mercado.
A repercussão natural deste fato e a reação popular têm sido mitigadas ou até não mencionadas nas análises que propagam um cenário cético de otimismo inabalável para o Brasil.
Em fevereiro teremos a votação da reforma da Previdência, que tudo indica deverá ainda ser mais desidratada para ganhar alguma viabilidade, e mesmo assim, com aprovação bastante incerta em razão de este ser um ano eleitoral e provocar uma exposição maior dos candidatos à reeleição. A reforma é algo imprescindível e meritória mas os políticos brasileiros pensam nos seus interesses e não do Brasil e estão acostumados ao fisiologismo.
No bojo deste fato, fica o enorme risco do já amplo e preocupante descontrole fiscal do governo que parece não ter fim e que já se acredita não encontrará solução só com a reforma da previdência. Afora as implicações no âmbito interno que pode exigir maior contingenciamento de investimentos fundamentais por parte do governo, pode determinar a ocorrência de “downgrade” por parte das agências de rating, impactando fortemente no ímpeto que possa existir pelos investidores brasileiros em relação ao Brasil.
A dívida pública bruta do país poderá atingir próximos 80% do PIB.
Então, o que se vislumbra é um primeiro trimestre de forte tensão na área política e na econômica, e que poderá influenciar o restante do ano.
E tudo isto antes do carnaval, que o imaginário popular sempre sugere que é quando se inicia o ano.
Os bons ares do ano de 2017, principalmente do cenário externo tendem a não ser tão benéficos e podem impor mudança de humor em relação aos emergentes drenando recursos a eles direcionados. As grandes economias, Estados Unidos, Europa e China sinalizam crescimentos expressivos e podem catalisar os investimentos externos, considerando ainda que os Estados Unidos com medidas tributárias busca motivar os empresários americanos a repatriar pelo menos parte, que já será muito, dos seus investimentos no exterior.
Já é sabido de antemão que a nossa safra agrícola será menor e que os controles indiretos do governo no item alimentos, realizado com a administração forte do preço do dólar depreciado no país, muito provavelmente não conseguirão conter a alta deste item relevante na cesta básica da população.
Não se admite também que o IPCA minúsculo de 2017 seja replicado em 2018, pois só a expectativa formada, e não o fato concreto poderá determinar uma antecipação de ajuste dos preços relativos da economia.
O juro SELIC de 7% mesmo que reduzido para 6,5% sabidamente não será impulsionador de oferta de crédito mais barato à população, pois os agentes do crédito têm destacado que a alta do juro para o crédito ao consumidor num ambiente de queda da SELIC decorre das incertezas, vejam nesta hora identificam incertezas quanto às perspectivas em relação ao ano.
O desemprego deu sinais minúsculos de retração e comemorado de forma maiúscula em letras garrafais, mas até novembro do assombroso número em torno de 13 milhões só reduziu 299.000, que já revelou perda de postos em novembro e deve repetir em dezembro nada sugerindo que a reforma trabalhista influencie na melhora das contratações de imediato.
Não se espera que haja um “boom” de demanda de mão de obra, razão pela qual é frágil a tese de que o consumo das famílias é que puxará o crescimento do PIB.
A economia precisaria ganhar forte vigor para que o desemprego fosse diminuído, mesmo assim de forma gradual, pois a reposição de mão de obra deverá ser feita com extrema sensatez, exigindo maior produtividade e ofertando menor salário. Desta forma a economia precisará gerar muito mais vagas do que as que foram perdidas.
O Boletim FOCUS projeta em sua ultima versão condensando as medianas das projeções do mercado financeiro um IPCA de 3,96% para 2018, que acreditamos possa ser difícil de ser conquistado sem alguma maquiagem.
A balança comercial está prevista em US$ 52,5 Bi ante US$ 66,0 Bi de 2017, mas há uma incoerência, visto que se a safra tiver uma queda de 9,5% como esta sendo projetada a redução ocorrerá, mas se o país crescer os 2,70%, as importações que tem estado inerte ganharão volume e tenderiam a reduzir este saldo indicado.
Enfim, há evidentes riscos que podem comprometer as fortes convicções otimistas predominantes em relação ao Brasil neste início de ano, provavelmente estes detalhes passarão a serem destacados mais adiante quando se vierem a se tornar perturbadores, mas é preciso ter foco, simplesmente sendo realista.
O brasileiro, neste ano eleitoral, espera-se, terá a obrigação de fazer o Brasil um país melhor valendo-se da sua efetiva capacidade de mudar pelo voto.
O ambiente no entorno de 2018 não sugere o dólar com preço nos parâmetros atuais, podendo ir além de R$ 3,50 ao final do 1º trimestre e não será tão fácil o BC manter o viés de baixa da SELIC.
Otimismo sim, como postura, mas sem se afastar da realidade que sugere sensatez.