Quando se pensa num fundo quantitativo, ninguém pensa em dados contábeis ou acompanhamento de como os gestores de um ativo lidam com o contexto. Entretanto, isso parece estar se tornando habitual nos fundos chamados quantamental. Esses fundos, nomeados como a mistura entre quantitativo e fundamental, trazem a quantificação de textos e padrões contábeis para precificação de ativos.
Com essa proposta inovadora, esses fundos se tornaram destaque em jornais como Financial Times e produtos no Morgan Stanley (NYSE:MS). O futuro dirá se o hype faz sentido, mas é um assunto notável pela questão de dados mobilizados para essas análises. Há a necessidade de dados não convencionais para realmente fazer algum tracking dos drivers das empresas analisadas.
Parece muito o mercado de criptomoedas, de certa maneira. Os modelos de precificação atualmente disponíveis (quem tiver interesse em valuation crypto, vale ver esse link aqui se baseiam em conceitos mais ou menos intuitivos: valor de uso do token, tamanho do seu mercado, curva de adoção, e por aí vai. Minha grande crítica a esses modelos é que não é trivial projetar um mercado disruptivo. Se não houver um espaço para probabilidades bem-estimadas, a chance de erro é enorme. O problema é que mesmo essas probabilidades não são fáceis de tratar.
Com essas novas ferramentas, a adoção do ativo se torna uma variável observável, não mera especulação do analista. Usando alguns proxies, é possível tentar estimar a projeção de adoção implícita no preço de mercado. Se a projeção está não factível, isso seria um indicador de sobrecompra ou sobrevenda, por exemplo. Via de regra, é possível usar várias dimensões desse modelo para regras de bolso em decisões de compra e venda.
Infelizmente, falar é fácil. Condensar os dados de todas as fontes e fazer essas estimativas não é uma tarefa factível para quem não se dedica horas nessa atividade. Entretanto, gestoras de criptoativos que possuem alguma pesquisa nessa linha podem se destacar. Fundos quantitativos em mercados convencionais costumam ter performances interessantes de observar (os PhDs do Renaissance são o caso mais notável, mas há outros). Fundos quantitativos são consolidados no mercado e há um perfil claro do que é feito. Essa consolidação dificulta a entrada de players que não sabem o que estão fazendo.
Essa consolidação seria um desafio inicial para o quantamental em criptoativos. No mundo, há uma série de gestoras de criptoativos de boa qualidade e perfis distintos. No entanto, também há perfis que são questionáveis. Muito, por exemplo, se fala de fragilidade e Taleb ignorando toda a formalização matemática que justifica as definições. O quantamental em crypto, por ser recente “ao quadrado”, pode vir a ser explorado por investidores que não sabem o necessário para essas análises (áreas extremamente técnicas de computação e estatística). Nesse caso, é importante avaliar o perfil de quem trabalha em cada gestora, fazer uma investigação mínima dos fundos. Com isso, temos tudo para um segmento extremamente promissor nas finanças despontar.