A maior parte dos consumidores é formada por mulheres e minorias. Portanto, nada melhor do que contar com representantes desses grupos “dentro de casa” para estar em sintonia com suas necessidades, seus desejos, de forma a cativá-los como clientes. Infelizmente, o “S” da sigla ESG foi até este momento a inicial mais negligenciada pelas corporações, preocupadas tão somente com meio ambiente e com gestão, como se as pessoas não fossem importantes.
Mas quando eu digo que “foi negligenciada”, assim, com o verbo no passado, é porque não há como ignorar a questão da inclusão no futuro. Pelo menos em se tratando de companhias listadas na Bolsa de Valores. É que a B3 (BVMF:B3SA3) anunciou que a partir de 2023 entrará em vigor novas regras relacionadas à diversidade e inclusão em cargos de alta liderança. O objetivo é aumentar a participação de mulheres e integrantes de minorias como pessoas pretas e pardas, pertencentes à comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiências dentro dos conselhos de administração e diretorias estatutárias das companhias de capital aberto.
A nova regra da B3 conta com três propostas. A primeira é a eleição de pelo menos uma mulher e um representante de minorias no conselho ou diretoria estatutária. A segunda é incluir indicadores de desempenho ligados ao tema ESG na remuneração variável dos executivos. E a terceira é sobre a prática de indicação de membros para conselho e diretoria, que devem contemplar critérios de diversidade e inclusão. As empresas serão obrigadas a divulgar documentos com suas diretrizes e práticas voltadas ao ESG e aquelas que não cumprirem as regras deverão explicar os fundamentos da decisão para seus investidores e para o mercado em geral.
A iniciativa da B3 segue o que as Bolsas de países desenvolvidos já estão fazendo, que é pressionar as corporações para aplicarem cada vez mais em suas gestões os conceitos ESG. No caso da Bolsa brasileira, a expectativa é de que até 2025 todas as companhias listadas tenham pelo menos uma mulher e um representante de minorias com cargos nos conselhos e diretorias. Sem dúvida, um mecanismo interessante para mudar os paradigmas vigentes.
Mas não se trata apenas de acompanhar o que acontece lá fora. A decisão tomada depois de um levantamento feito pela própria B3, este ano, mostrar que de 423 empresas listadas, cerca de 60% não têm nenhuma mulher entre seus diretores estatutários e 37% não possuem participação feminina no conselho de administração. Das 73 empresas que participam do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), 79% dizem ter de 0% a 11% de pessoas negras em cargos de diretoria e 78% de 0% a 11% de negros em cargos de C-Level. Ou seja, mesmo aquelas que são exemplos no quesito sustentabilidade deixam muito a desejar quando o assunto é diversidade.
Como podemos observar, não há como empurrar com a barriga. O conceito ESG está cada vez mais presente no dia a dia das empresas, gostem seus gestores ou não. A verdade é que hoje dificilmente uma empresa consegue negociar seus produtos sem terem certificações diversas como ISO 9000, ISO 14000 entre outras. Uma madeireira não exporta madeira se não provar que a carga atende às exigências domésticas e internacionais relacionadas à extração de árvores.
Da mesma forma, em breve, empresas não conseguirão comercializar seus serviços e produtos se não estiverem alinhadas aos padrões ESG. E quem pensa que a decisão da B3 afeta apenas as companhias listadas, está redondamente enganado. De cara, qualquer companhia familiar ou não que pretenda abrir capital já terá que dar entrada na documentação com esses conceitos de sustentabilidade devidamente implantados.
Nesse primeiro momento elas não serão impedidas, mas já entrarão na Bolsa devendo explicações ao mercado, o que não é bom para a imagem nem para a valorização de seus papéis. O futuro reserva regras mais severas ainda e o conselho que pode ser dado aos empresariados, mesmo a quem não pretenda abrir capital, é apenas um: busque o apoio de uma consultoria especializada em ESG o quanto antes. É mais fácil buscar a sustentabilidade hoje, momento em que ela é apenas uma questão de consequência e de escolha pelo que há de melhor, do que esperar o amanhã, quando sua implantação será obrigatória.