Para conseguir vencer as eleições, o novo governo precisou fazer inúmeras promessas para agradar aos anseios e demandas de toda a torcida de Flamengo e Corinthians. Diferente do que se imagina, o PT não venceu a eleição sozinho e a margem foi apertada. Além disso, o partido saiu perdedor nas regiões mais ricas e que mais contribuem para a União. Acrescente a esse cenário o fato de estarmos vivendo a maior polarização da população em décadas, logo diante da circunstância atual o novo governo tem menos gordura para qualquer tentativa de terraplanismo econômico.
Esse cenário, aliado à restrição orçamentária do país impôs uma dura realidade aos novos governantes. Não há dinheiro para cumprir tantas promessas. Como o cobertor é curto é preciso estabelecer prioridades.
Conforme os discursos do Lula, a prioridade do seu novo governo será a responsabilidade social. O novo Presidente vem falando publicamente que é preciso incluir os pobres no orçamento. A afirmação merece atenção, afinal é dever do Estado cuidar dos mais vulneráveis.
No entanto, segundo números do FMI o Brasil já é um dos países que mais gasta com políticas assistencialistas e proteção social. Logo, aumentar o gasto com os mais vulneráveis não significa que de fato o dinheiro público chegará até eles. Afinal, apenas aumentar o gasto público não significa que a alocação do recurso será eficiente, ainda mais quando se trata do Brasil.
Diante da dura realidade, o PT recorre a velhas estratégias para desassociar sua imagem de uma eventual piora da economia brasileira em 2023. A ordem do dia do partido e da equipe de transição é afirmar que o governo Bolsonaro quebrou o país. Essa mesma estratégia foi bastante utilizada há 20 anos, quando eles assumiram o país pela 1 vez.
Na época, os petistas esbravejaram aos quatro cantos do país que haviam recebido uma “herança maldita” do governo Fernando Henrique Cardoso, quando os dados claramente indicavam uma situação oposta. A estratégia é como um investimento que se der errado você perde pouco, porém se der certo você tem muito a ganhar. Afinal, se os planos do partido derem errado e a economia desacelerar eles já têm um culpado. No entanto, se a economia apresentar um desempenho positivo eles levam os louros de terem “reconstruído o país”.
Em 2023, o PT administrará o país numa situação totalmente diferente do que eles deixaram em 2016, principalmente na condução das empresas estatais que nunca foram tão lucrativas quanto agora e rendeu bons dividendos aos seu principal acionista, o próprio governo federal. Embora a economia precise de reformas e ajustes, será a primeira vez em 40 anos que um presidente entregará o país com um gasto menor que o herdado do governo anterior, mesmo enfrentando a maior pandemia em 100 anos e a maior guerra na Europa em 70 anos.
A situação atual não é como há 20 anos, porém, diante das circunstâncias, poderia ser bem pior, visto que enquanto o mundo sofreu 2 grandes choques nos últimos 2 anos o Brasil sofreu 3 nos últimos 6. A grande recessão da era Dilma de 2014-2016 deixou graves sequelas na economia brasileira e quando a recuperação estava começando a dar sinais de melhora, veio a pandemia.
A partir daí, houve a necessidade de se furar o teto de gastos para evitar um estrago ainda maior. Porém, segundo dados do tesouro nacional o furo do teto de gastos teve a contrapartida do atual governo com a redução das despesas/PIB de 19,4% em 2018, para 18,1% em 2022. Além disso, o país novamente voltou a apresentar superávit pela primeira vez desde 2013, feito inimaginável por muitos diante das circunstâncias.
O Brasil que o PT irá receber foi um dos poucos países do mundo que conseguiu reduzir sua dívida pública para os patamares pré-pandemia. Pela 1 º vez fomos referência mundial no combate a inflação e estamos no fim do ciclo de alta de juros enquanto o mundo desenvolvido ainda está fazendo o dever de casa. O maior risco para o futuro do país vem justamente dos planos que o novo governo tem para a economia e suas constantes ameaças ao falecido teto de gastos.
Em um passado recente, por conta dos gastos descontrolados do PT, o país precisou criar uma âncora fiscal para recuperar a sua credibilidade com o mercado. Se no passado o governo fosse fiscalmente responsável, não haveria a necessidade de se ter um teto de gastos, porém, em Brasília, se imagina que a União tem receita infinita.
Uma grande vantagem do teto de gastos ainda não foi compreendida por grande parte da sociedade brasileira. Em outras épocas, diante da situação atual, o novo governo iria continuar com planos mirabolantes e negacionistas da ciência econômica ao continuar pisando no acelerador do gasto público e o estrago na economia a população brasileira ia ver depois como pagar.
No entanto, graças ao teto criou-se um custo político para os governantes que querem gastar mais do que o limite orçamentário do país e passamos a discutir não apenas o aumento dos gastos, mas sim a qualidade e a eficiência do gasto público atual. Já passou da hora dos políticos brasileiros entenderem que o dinheiro público não é ilimitado e todos têm restrições orçamentárias, inclusive eles.