Só para variar um pouco, estamos diante de mais uma semana complicada para definição de tendência dos mercados de risco no mundo e principalmente por aqui. Os investidores no mundo estão oscilando entre o otimismo com a reabertura das economias e a possibilidade de termos uma segunda onda naqueles países que começaram a flexibilizar o isolamento social há quinze dias ou mais. Aqui, as complicações políticas não param de crescer e a reabertura da economia é ainda mais perigosa, já que ainda nem terminamos a primeira onda.
O que tem de bom em toda essa história é apenas o fato de que as pesquisas e o desenvolvimento de vacinas estão em ritmo acelerado, mais que o previsto. Apesar disso, alguns especialistas estão projetando que os EUA terão uma segunda onda no outono, bem perto das eleições, o que deve complicar significativamente a reeleição de Trump, que está nas pesquisas 8% abaixo de Joe Biden. Portanto, é de se prever problemas com a elevada taxa de desemprego, mesmo considerando a situação fortuita da pandemia, e Trump endurecendo o discurso, sobretudo contra a China, tido como o “inimigo da vez”.
A China está envolvida em outras disputas como lei de segurança nacional e montagem de escritório de fiscalização em Hong Kong, o que atrai a má vontade do Reino Unido (que diz quebrar o acordo), Alemanha e França. Se não bastasse, os EUA querem impor restrições para empresas chinesas negociadas em seus mercados e criar obstáculos para países que boicotem empresas americanas. Outra disputa fica por conta das disputas territoriais com a Índia na região do Himalaia, já computando algumas mortes.
Nem é preciso lembrar que bancos centrais em todo o mundo já despejaram mais de US$ 56 trilhões por conta de mitigar impactos da covid-19, e seguem fazendo mais. O melhor exemplo disso fica por conta do FED que depois de elevar seu balanço patrimonial para US$ 7,1 trilhões, ainda terá que fazer mais pela liquidez do sistema, apesar de as operações de swap abertas com outros bancos centrais terem declinado.
Portanto, situação ainda indefinida no exterior, mesmo considerando a perspectiva melhor, com novas aberturas de economias e distensão no isolamento social. França e Espanha abrindo mais, mas Pequim tendo que restringir, e com a OMS-Organização Mundial da Saúde indicando que no final de semana houve novo recorde de contágio no mundo, já ultrapassando 8,7 milhões de infectados.
Aqui, o governo tem feito o possível para fazer os recursos chegarem aos necessitados e empresas de pequeno e médio porte, mas a aparentemente o volume é menor que o necessário, principalmente com Estados e Municípios quebrados. Com isso, o governo que falava em déficit fiscal da ordem de R$ 700 bilhões já diz que pode chegar a R$ 800 bilhões, e há quem estime que atingirá R$ 1,3 trilhão. Isso implica que no pós-crise os ajustes absolutamente essenciais terão que ser ampliados drasticamente.
As complicações políticas em que o governo enredou só fazem ampliar os problemas. Bolsonaro teve uma semana infernal com a prisão na semana passada de extremistas do grupo dos 300, quebra de sigilo de deputados e senador apoiadores do presidente, inquérito das fake news prosseguindo e agora com o ex-ministro Weintraub dentro, a demissão do ministro para serenar relações com o STF não surtindo muito efeito, as negociações (agora mais custosas) com o centrão que dividem e disputam cargos no segundo e terceiro escalão, o entendimento do STF de que vereadores estão fora do Fórum privilegiado, etc. Além disso, aquela “espada de Dâmocles” sobre o presidente, que certamente nada tem de confortável.
O melhor exemplo de nossas dificuldades pode ser expresso na postura dos investidores estrangeiros, reduzindo para mais da metade a exposição do Brasil, seja nos fundos globais onde, de dezembro para março, declinou de 0,4% para 0,2%, ou nos fundos dedicados aos emergentes que saiu de 8,6% para 5,2%. Ora, sabidamente os investidores estrangeiros vão esperar os planos e a agenda da área econômica para o pós-crise, e somente depois tomar suas decisões de investimento. É nesse ambiente que vamos votar em 24/6 o marco regulatório de saneamento. Na véspera, os investidores já terão conhecimento da ata do Copom, e estarão projetando suas expectativas de inflação baseados no relatório trimestral de inflação que será divulgado em 25/6.
Como se vê, agenda complicada para a semana, mas o grande diferencial tem sido o fluxo positivo de recurso canalizado para aplicações de maior risco. Havendo fluxo, é possível que os mercados sigam em alta, absorvendo realizações de lucro recentes.