No nosso entendimento o prêmio dos riscos internos e externos fundamenta o preço da moeda americana no nosso mercado no entorno de R$ 3,80 ou na melhor das hipóteses num intervalo de conforto entre R$ 3,70 a R$ 3,80.
Esta não é uma posição nova do nosso ponto de vista, já que desde muito a nossa projeção para o preço do dólar ao momento da eleição era de R$ 3,80, com viés de baixa, e a mesma no nosso entender implicava num prêmio de risco compatível com o quadro econômico brasileiro bastante deteriorado, com expressiva crise fiscal, e a visão externa com elevação do juro americano em duas oportunidades, uma das quais já foi efetivada.
Assistimos com postura crítica firme o forte movimento especulativo imposto à formação do preço da moeda americana no nosso mercado, fomentado com base em temores absolutamente infundados e habilmente correlacionados com as crises de 2002 e 2008 com as quais o contexto Brasil no setor externo não tinha nenhuma sinergia, e, que por fim se revelou insustentável ao atingir o preço de R$ 4,20, contrariando os propagadores do desastre que projetavam preço de R$ 5,00 ou mais.
O mercado de dólar futuro tem posições relevantes detidas pelos estrangeiros da ordem de US$ 37,0 Bi comprados e pelos bancos e fundos de igual monta vendidos. Este embate, após a depuração do conteúdo especulativo do preço, colocou o preço da moeda americana numa zona de conforto entre R$ 3,70 a R$ 3,80, e refletindo os movimentos promovidos pelas partes antagônicas provoca uma flutuação tipo “gangorra”, indo e voltando aos extremos.
O país não registra fuga de capitais, depois das saídas mais expressivas do mercado de renda fixa em razão das melhores perspectivas do mercado americano ocorridas em agosto e setembro, e, portanto, não tem pressões de demandas mais acentuadas no mercado à vista de câmbio e nem mesmo na demanda por proteção cambial.
Assim, a discreta volatilidade, se assim podemos denominar o movimento “gangorra”, decorre diretamente dos movimentos impulsionados por “vendidos” e “comprados” no mercado futuro.
O pleito presidencial que será encerrado no próximo dia 28 tem por parte do mercado a forte percepção de que está resolvido, portanto pesquisas e acirramentos entre os candidatos já não interferem no ânimo do mercado financeiro, que inegavelmente se mostra otimista com as perspectivas no campo eleitoral.
O preço da moeda americana neste ambiente de certeza quanto ao pleito, mas absolutamente indefinido com muitas incertezas quanto às perspectivas efetivas de superação do severo quadro de atividade da nossa economia, crise fiscal, desemprego, renda e consumo, etc..., demonstra-se sustentável no intervalo entre R$ 3,70 a R$ 3,80, sendo que no nosso ponto de vista ainda deveria estar até mais próxima de R$ 3,80.
Desta forma, romper o preço para baixo de R$ 3,70 nos parece precipitado e carente de fundamentos críveis, sendo absolutamente necessário dar-se tempo ao tempo para que ganhe clareza e credibilidade a linha programática de governo do novo Presidente eleito, com ênfase à viabilização das imprescindíveis reformas e assim mitigadas as incertezas.
A queda de ontem foi absolutamente pontual refletindo a captação de US$ 500 MM da JBS (SA:JBSS3) com vencimento para 7 anos e destinada a liquidar bônus vincendos em 2020 e mais o início do road-show da Invepar, concessionária do aeroporto de Guarulhos, que se iniciou ontem e vai até o dia 24 visando a captação de US$ 650,0 MM. O fato motivou a queda pontual do preço da moeda americana para aquém de R$ 3,70, mas sem que se possa considerar como patamar sustentável.
Na medida em que as incertezas sejam dissipadas será natural a gradativa apreciação do real frente ao dólar de forma sustentável, até porque o país tem uma situação de muito conforto nas suas contas externas, reservas cambiais, déficit em transações correntes, etc.... e deve atrair novos investimentos externos, se bem que há um efeito redutor da oferta no mercado global face a redução tributária promovida pelos Estados Unidos.
Mas, se o novo governo realmente sinalizar privatizações, o Brasil tem uma enorme gama de oportunidades para o capital estrangeiro numa nova estratégia que não seja a privatização dedicada aos nacionais com recursos totais do BNDES, como ocorreu num passado não distante. Nada contra a participação, até prioritária dos nacionais, mas com boa parcela de recursos próprios.
Entendemos que este seja necessariamente um momento transitório que requer absoluta sensatez preservando o otimismo, mas sem exacerbações.
Esta mesma postura parece permear o comportamento da B3 para a qual se antevê muitos aspectos favoráveis, que, contudo, dependem de consumação de uma série de fatores que visem restaurar a dinâmica da economia brasileira.
A pressa pode não ser a melhor postura no momento, visto que poderá exigir, caso excedam o sensato, movimentos reversivos corretivos posteriormente, o que não seria bom.
Entendemos que até que se instale o novo governo, a partir de janeiro, e se conheça os integrantes e os programas de governo, o preço do dólar deveria ficar no intervalo de R$ 3,70 a R$ 3,80, enquanto que a B3 oscilando entre 85.000 a 90.000 pontos.
O fluxo cambial divulgado ontem pelo BC envolvendo o período 1-11 do corrente mês revela-se positivo em US$ 2,271 Bi, sendo negativo comercial de US$ 389,0 Mi e positivo financeiro de US$ 2,660 Bi. Na semana o fluxo foi negativo em US$ 813,0 Mi. A posição dos bancos está vendida em US$ 1,456 Bi, já considerado o fato de terem US$ 2,150 Bi de linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra tomados do BC.
Não há quaisquer sinais de fuga de capitais estrangeiros do país.
A postura do mercado financeiro, no nosso entender, deveria contemplar predominantemente o bom senso, mantendo-se contido e em observação.