Não é à toa que as casas de análise estão se ajustando à procura menor por relatórios. Os investidores parecem ter dificuldades em ler - e ouvir - não apenas recomendação de investimentos, mas também o que dizem os bancos centrais e interpretar o significado dos números dos indicadores econômicos.
Assim, preferem deixar a cargo das gestoras de recursos e consultoria as estratégias sugeridas para gestão de patrimônio. Daí porque a receita para começar o dia com a dose certa da notícia é ler A Bula do Mercado, sem efeitos colaterais.
Depois de passar o último mês e meio contrariado com a indicação de cortes nas taxas de juros dos Estados Unidos e do Brasil, o mercado financeiro recebe nesta manhã a ata do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento serviu de tira-teima do placar apertado da reunião da semana passada de cortar a Selic em 0,25 ponto, para 10,50%.
Mas não será preciso pedir o VAR, ou o árbitro de vídeo. Após a desconfiança com os quatro votos de diretores indicados nos últimos meses pelo presidente Lula, os parágrafos 18 e 19 da ata desfazem qualquer ruído de que, talvez, o Banco Central será leniente com a inflação sob nova direção.
Tá lá: “Os membros do Comitê que votaram pela redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic (...) Ressaltaram que a extração da tendência subjacente da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é difícil, mas não deveria, de forma alguma, ser confundida com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular as expectativas de inflação”.
Por sua vez, “todos os membros concordaram” que o desafio está na determinação da taxa de juros terminal. Por isso, a necessidade de flexibilidade nas decisões a partir de junho, sem indicações futuras sobre os próximos movimentos. Com isso, a “taxa de juros terminal será aquela que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas”.
Ou seja, é a Selic em um dígito que subiu no telhado - e não a postura do Copom em relação à alta dos preços.
Dia ainda tem PPI e Powell
Na sequência, tem o primeiro teste do apetite por risco que se vê nos ativos globais após uma postura suave do Federal Reserve e os dados fracos sobre o emprego nos EUA. O índice de preços ao produtor norte-americano (PPI) sai às 9h30 e se não mostrar uma desaceleração mensal irá lançar luz para uma inflação ao consumidor (CPI) ainda salgada.
Como muitos dos itens do PPI alimentam o deflator do índice de preços preferido do Fed, o PCE, a confiança dos investidores será colocada em xeque. Ainda que o CPI esteja no foco de atenção dos mercados nesta semana, a fala do presidente do Fed pouco depois da divulgação do PPI de abril (11h), pode ser um lance de dados.
Jerome Powell pode ser um pouco mais cauteloso sobre o rumo da inflação e da atividade, ainda mais após a decisão nada insignificante do governo Biden de elevar as tarifas sobre os veículos elétricos (VE’s) chineses para 102,5% - e Donald Trump disse que, se eleito, aumentará para 200%. Trata-se de uma muralha tarifária de US$ 18 bilhões contra produtos Made in China.
“Tenho um mau pressentimento sobre isso”, deve ser o mínimo que Jay terá a dizer. Até porque a previsão é de que o CPI repita a alta de 0,4% no comparativo mensal, como aconteceu em março, ou desacelera a 0,3%. Seja qual for a leitura, é incompatível com uma inflação anual de 2%.