Recente relatório publicado pela Organização das Nações Unidas alertou que o urso polar está entre os animais com maior risco de extinção. Se algum agente da ONU tivesse atendido ao Sugar Dinner na semana passada aqui em NY, teria descoberto que uma outra espécie de urso também corre o risco de desaparecer. Nāo existe mais nenhum baixista no mercado de açúcar. Sumiram todos ou estão hibernando. Como diria um grande trader que eu tive o privilégio de conhecer no passado, “quando tudo parece altista, isso é um sinal de que o mercado pode ir pra baixo”.
A lógica deste brilhante trader (que partiu dessa para outra esfera) era de que quando todas as notícias altistas estão refletidas no preço, qualquer pequena variação na expectativa dos participantes pode mudar o humor do mercado. Por exemplo, se o clima for melhor do que o esperado (El Niño) ou se não houver interrupção na moagem do Centro-Sul além da média normal, o mercado pode realizar um pouco.
Os fundos reduziram ligeiramente suas posições compradas, mas nada que mude a visão dos participantes. Todo mundo está altista como se não houvesse amanhã. Pelo menos é reconfortante saber que muitas usinas estão aproveitando o mercado e fixando preços em reais por tonelada ou fazendo estruturas com opções que adicionam valor na alta, acima do pico do mercado. Para maio, vi usinas conseguindo fixar até 150 pontos acima das máximas com essas estruturas. Tudo tem seu risco, óbvio. Nesse caso o risco era de o mercado cair e não ter nenhuma fixação. O objetivo é aproveitar o clima de euforia e o apetite dos compradores. Nenhum mercado sobe indefinidamente.
O fato irrefutável é que o açúcar anda na contramão do mercado de energia, por mais paradoxo que possa parecer. A sustentação do mercado – que recuperou a perda do início da semana nesta sexta-feira – vem dos fundos e das compras acionadas por sistemas de computadores e algoritmos, que não estão nem aí para os fundamentos. Compete a nós, (pobres) humanos, inserir uma narrativa fundamentalista para justifique esse comportamento irracional.
A compra de açúcar por parte dos chineses quando o mercado realizou no início da semana passada, acabou dando suporte ao discurso altista. Se a China está comprando isso quer dizer que vai faltar açúcar! E ponto final.
O mercado pode subir mais, claro. Vai subir até o ponto em que aqueles que precisam se cobrir, seja no físico ou nos futuros, estanquem o sangramento. É assim que funciona. Apesar do recente estresse no fluxo de caixa dos vendidos, não se ouviu nem se viu ninguém estrebuchando na calçada. Pelo menos por enquanto.
Temos que ficar de olho em alguns aspectos que podem representar maior solidez e consequentemente preços mais robustos: a) o clima no Centro-Sul; b) a recuperação do mercado de energia; c) o fortalecimento do basis; d) a volatilidade das calls (opções de compra). Eventual piora do item a) e substancial melhora dos demais itens são carimbo no passaporte para o infinito e além que falamos há algumas semanas. Caso contrário, prepare-se para uma retração.
Para colocar em perspectiva, no acumulado do ano, o açúcar se valorizou 32%, só perdendo para o suco de laranja com 33%. Na outra ponta, o gás natural, o diesel e o petróleo experimentaram uma queda de 53%, 30% e 12%, respectivamente. Nos últimos 12 meses, o açúcar ganhou 41%, enquanto gás natural, diesel e petróleo desabaram 76%, 42% e 32%, respectivamente.
Há muitos anos que não vou ao jantar de Gala que não tem mais o glamour de muitos anos quando as festas nas suítes do Waldorf Astoria eram o ponto alto da semana. Ali, as conversas o os negócios fluíam e varavam a noite quando voltávamos cambaleando para o hotel com o smoking impregnado pelo cheiro da fumaça dos charutos (sim, charutos eram acessório obrigatório naqueles tempos). Parece que a única coisa que não mudou foi o cardápio e o serviço. Disse-me um veterano irritado que este ano foi o pior de todos os tempos, pela comida, pelo serviço e pelo discurso de menos de 5 minutos. Imagine se o mercado não tivesse nas alturas…..