Passado o “efeito momento” da divulgação do PIB 2013, que proporcionou certo alento do tipo “poderia ter sido pior” ou “não é tão ruim”, logo na sequência do ajuste e anúncio da nova meta fiscal e cortes no orçamento para 2014 tido como exequível, o otimismo insinuado pelo mercado financeiro foi excessivo, como se o pais houvesse resgatado a “credibilidade” de forma imediata, sem uma análise mais detida do detalhamento do PIB entregue e da viabilização do alcance da nova meta fiscal e contenção de gastos, como se tudo fosse algo certo e definitivo.
Destacamos titulando um dos nossos “posts” que “o risco pode estar em dar o crédito antes da entrega do compromisso”.
Passada uma semana e deixado para trás o espírito festivo de “carnaval”, a percepção agora é de que o PIB de 2013 deixou expostas fragilidades e que a visão externa a respeito do país não mudou fundamentalmente e por isso temos uma melhora discreta de ingressos de recursos estrangeiros puramente “especulativos ou voláteis, como alguns preferem”, motivado pelo juro, que são direcionados para a renda fixa e que ocorre, também, um movimento migratório interno de recursos estrangeiros da Bovespa para renda fixa.
Nada que mereça letras garrafais, algo bem discreto e pontual de curto prazo, sem potencial para neutralizar as perspectivas ruins para o país no setor externo neste ano de 2014.
Agora se admite que não esteja ocorrendo uma mudança de visão dos investidores externos a respeito do Brasil, que, aliás, tem sido a nossa percepção colocada diariamente, entendendo que a nível interno pode causar um efeito de contenção no negativismo crescente, sem, contudo, colocar o otimismo em alta, mas consciente que externamente o país perdeu atratividade e tem vários fatores concorrendo contra a retomada do ingresso de fluxos de recursos estrangeiros produtivos e mesmo voláteis.
Tudo indica que, sem estar com grande foco no radar dos investidores no setor produtivo, principalmente, o país terá mesmo que entregar seus comprometimentos na linha de reconquista da credibilidade para depois ter gradualmente o reconhecimento.
Levantamento realizado pela agência de rating Fitch, reportado por Natalia Viri no Jornal Valor, indica que as empresas americanas estão mais cautelosas para as perspectivas de curto prazo da economia brasileira com base nos comentários feitos sobre o país pela direção das companhias dos Estados Unidos ao longo da temporada de balanços do quarto trimestre.
O baixo crescimento da economia, inflação elevada e a forte depreciação do real frente ao dólar são fatores de preocupação para empresas que tem parte significativa de suas vendas feitas no Brasil, segundo o estudo. A amostra considerada pela agência de classificação de risco inclui empresas de energia, recursos naturais, químico, industrial e de mineração.
A rigor, temos mantido o entendimento de que o país ainda passará por momentos de volatilidade na formação do preço da moeda americana, com intensificação da demanda no mercado à vista fomentada pela queda de liquidez internacional, oportunidades nos Estados Unidos e em outros emergentes com melhores oportunidades, movimento sustentados em fundamentos que indicam a tendência de apreciação do dólar.
Percebe-se que a inflação não está tão “sob controle” a ponto de dispensar novas altas na SELIC, e o governo manteve uma projeção para crescimento do PIB, muito acima das projeções predominantes no mercado, o que pode implicar em redução de arrecadação e alcance da meta fiscal. Há que se considerar que a inflação ainda será pressionada pela alta do preço do dólar.
É perceptível que o governo titubeia entre conter fortemente a inflação ou buscar com menos arrocho um crescimento mesmo que baixo. A resultante deste contexto perturbador poderá ser o insucesso duplo.
O ponto básico da estratégia de crescimento do país, que tem sido o estimulo ao consumo com ampliação do crédito, está indiscutivelmente esgotado. O consumo das famílias foi de 2,3% em 2013, 3,2% em 2012, 4,1% em 2011 e 6,9% em 2010, e o endividamento já compromete em torno de 50% da renda.
Este atalho de oportunidade que atendia demanda reprimida e que no primeiro momento não exigia investimentos e que na sequência não teve investimentos no setor produtivo e ampliou a dependência das importações para suplementação do atendimento com oferta a demanda fortemente estimulada, já não representa alternativa para o crescimento do país.
A participação da indústria vem perdendo participação no PIB tendo recuado de 28,1% em 2010 para 24,9% em 2013.
A taxa de FBCF teve expansão de 6,3% em 2013, mas subiu tão somente de 18,2% para 18,4% do PIB.
A taxa de poupança doméstica de 13,9% é a menor desde 2001.
O déficit em transações correntes ampliou-se para 3,66% do PIB, algo pouco acima de US$ 81,0 Bi, enquanto os IED´s direcionados para o setor produtivo caíram de US$ 52,0 Bi em 2012 para US$ 42,0 Bi em 2013, e esta é tendência que deve persistir em 2014. Os empréstimos “intercompanies” que totalizaram US$ 13,0 Bi em 2012 e US$ 22,0 Bi em 2013, “salvando” o total dos IED´s pelo conceito definido pelo governo, também, devem retroagir este ano, seja pela baixa atratividade, seja pela queda da liquidez internacional e elevação de custos.
Crescimento de investimentos concomitante à queda da poupança doméstica é explosiva no impacto do déficit em transações correntes que atingiu 3,66% do PIB, e este é um ponto em que os críticos focam para apontar o país como vulnerável.
Na realidade o Brasil precisa de um novo projeto de crescimento, precisa reorganizar-se e redefinir-se para poder reencontrar o trajeto do crescimento, e isto passa rigorosamente por gastos menores e com melhor qualidade, investimentos fortes, reformas tributárias, trabalhista, etc... Tudo muito difícil para a cultura brasileira, em especial, num ano eleitoral.
O FOCUS, datada de 28/2, divulgado hoje mantém a projeção do IPCA em 6% para o ano e eleva para 6,12% nos próximos 12 meses. O dólar sofreu retração de R$ 2,50 para R$ 2,49 mínima mas nos parece fora do ponto e da perspectiva. SELIC alterada de 11,25% para 11,13% até pelo número expressado sinaliza que está fora do ponto e na contramão da tendência, acreditamos que precisará subir. PIB elevado de 1,67% para 1,70% diz pouca coisa e mantem-se distante da projeção revista de 2,5% do governo. Déficit em transações correntes mantido em US$ 75,0 Bi ainda precisará ser revisto em mais US$ 5,0 Bi, enquanto a revisão em queda do saldo da balança comercial de US$ 7,90 Bi para US$ 7,00 Bi e também dos IED´s de US$ 58,8 Bi para US$ 58,0 Bi estão em linha com a tendência em perspectiva.
Enfim, passado o euforismo assimétrico com a realidade, tudo leva a crer que os ativos brasileiros terão seus preços mais equânimes com o que sugere os fundamentos macroeconômicos do país.
Continuamos mantendo a nossa projeção do preço da moeda americana ao final do ano em R$ 2,60, com um pico de alta no curto prazo até R$ 2,50, com volatilidade, mas mantendo o viés fundamentado de alta.
Há riscos de maior impacto do que os já colocados como previsíveis na trajetória brasileira no setor externo , como perda de “rating” da nota soberana e precipitação da elevação do juro nos Estados Unidos, que estarão sempre presentes ao analisar-se as perspectivas.
Não nos parece que o país obterá o retorno da credibilidade neste ano, mas tão somente se conseguir entregar os comprometimentos assumidos “sem rasuras” ao final deste ano.
E entrega-los é um enorme desafio ao governo em ano eleitoral.