É a commodity que está mais no vermelho em março após o gás natural, levando à seguinte indagação: será que o níquel, metal usado em baterias de carros elétricos, está perdendo força após o rali turbinado do ano passado?
Até o fim de fevereiro, o níquel era uma das commodities com melhor desempenho de 2020, valorizando-se 12% em apenas dois meses até fechar a US$ 18.562 por tonelada.
Mas, em apenas duas semanas, o metal devolveu tudo isso, registrando uma perda de 13% até agora em março, em torno de US$ 16.130 na terça-feira. No acumulado do ano, o níquel registra queda de 3%.
A Fitch Solutions acredita que o metal pode se recuperar, sem, contudo, acabar com toda sua volatilidade ao longo do ano.
Em nota, o braço especializado em commodities da agência global de classificação Fitch disse o seguinte:
“Estamos mantendo nossa perspectiva baixista em 2021 para os preços médios do níquel em relação aos níveis atuais, em vista do aumento de oferta ao longo do ano, reduzindo o déficit de mercado”.
“Os preços médios para o ano até agora são de US$ 18.180 e devem cair gradualmente com o aumento da oferta nos principais mercados”.
A empresa disse ainda que o fim da estação chuvosa nas Filipinas permitirá a retomada da atividade de mineração para produção de NPI (ferro gusa de níquel) na China, principal parceiro na negociação desse metal. Esse tipo de ferro foi inventado na China como alternativa mais barata ao níquel puro para a produção de aço inoxidável.
A Fitch Solutions afirmou que o volume crescente de minério de níquel da Nova Caledônia também está sendo destinado à China, tendência que deve continuar devido à proibição de exportações do metal na Indonésia. As exportações de minério de níquel da Nova Caledônia para a China cresceram cerca de 58% ano a ano em 2020, segundo dados do governo chinês.
Rali plurianual no níquel pode parar repentinamente
Até o repentino revés das últimas duas semanas, o níquel disparou por vários meses, assim como o cobre, valorizando-se 62% entre março de 2020 e fevereiro.
As perdas deste mês vieram após a produtora chinesa de aço inoxidável Tsingshan anunciar que pretende elevar substancialmente a produção de níquel em 2022 e 2023, focando a produção de níquel para baterias.
A Fitch disse que também havia dúvidas com o projeto da Tsingshan, principalmente com relação a custos e à sua capacidade de cumprir prazos.
“Isso deve fomentar a volatilidade com a precificação de expectativas”.
“O crescimento da demanda de níquel seguirá em paralelo com a produção de aço inoxidável no ano. Em vista do déficit de mercado de níquel em 2021, nossa expectativa é que os preços médios fiquem acima dos patamares de 2020 a US$ 15.750 ante US$ 13,860 por tonelada em 2020”.
A volatilidade deve aumentar com as medidas de estímulo da China e o sólido crescimento da demanda, que manterá a oferta em déficit e acabará impulsionando a cotação acima da média do ano passado.
Veículos elétricos são a principal fonte de demanda de níquel
A Fitch Solutions afirmou que suas equipes de mercado de automóveis, consumo e eletricidade projetavam sólido crescimento, principalmente no aço inoxidável.
O mercado de veículos elétricos (VEs) será uma fonte de demanda de níquel para fabricação de baterias de íon-lítio, segundo a empresa, que disse ainda:
“A China é mais uma vez uma importante fonte de demanda, principalmente com o maior uso de baterias com conteúdo de níquel em VEs. Nossa expectativa é que a tendência se firme nos próximos anos, com os consumidores favorecendo VEs com maior autonomia, graças a baterias baseadas em níquel.”
O modelo de rastreamento de preços do Investing.com, com base no movimento do níquel último ano, prevê suporte de curto prazo a US$ 15.942, 15.819 e 15.620. A resistência encontra-se a 16.342, 16.465 e 16.665.
Em uma perspectiva publicada no mês passado, o Bank of America afirmou que o metal deve manter um desempenho relativamente forte em 2021, sendo negociado na faixa de US$ 17.500 a 18.000.
A pesquisa do BofA indicou que o consumo global de níquel deve crescer 13,5% em 2021, para 2,53 milhões de toneladas, um pouco abaixo do crescimento estimado de 5% na produção mundial de 2,64 milhões.
Essa oferta maior se deve principalmente à Indonésia, principal país produtor do metal, e pode impedir que os preços subam forte, sem, no entanto, acabar com o rali, afirmou o banco, que disse ainda:
“Esperamos um excesso de oferta em 2021. A Indonésia ainda está inundando o mercado mundial de níquel, o que pode restringir grandes saltos de preço".
Mas o BofA também disse o seguinte: “A demanda de níquel para produção de veículos elétricos deve crescer nos próximos anos, com base em fortes fundamentos".
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.