A Magazine Luiza (SA:MGLU3) anunciou a compra da Netshoes por US$ 62 milhões. O que está por trás desta compra? Quais são os players do mercado que perdem com esta transação?
A primeira análise a ser feita é se o valor pago pelo Magazine Luiza foi interessante.
Apesar das escassas informações sobre a transação, na nossa visão, a empresa comprou a Netshoes com desconto sobre o que ela vale no mercado, justificável, já que a Netshoes vem acumulando prejuízos sucessivos desde sua abertura de capital. Não faria sentido pagar um goodwill.
Acreditamos que nesse aspecto, a Magazine não deverá acumular ágios (goodwill) para possíveis amortizações e compensações no imposto de renda futuro.
Os ganhos de sinergia são o cerne da transação (menores despesas administrativas) e de escala (menores custos de distribuição) entre as duas empresas.
Para uma empresa como Magazine Luiza, que tem obtido sucesso em entregar aos seus clientes bens de consumo duráveis como fogões e geladeiras, os custos marginais (ou adicionais) para se entregar pares de tênis tendem a ser baixos. Daí, a sinergia e a escala para a empresa.
Portanto, juntou-se o útil ao eficiente, uma empresa que possuía uma boa plataforma online de vendas, mas com fraca capacidade de gestão de custos (Netshoes), com uma empresa forte em lojas físicas, em distribuição, boa integração entre os diversos omnichannel (canais de vendas físicos e digitais ) e sem uma presença no setor de moda e vestuário que era Magazine Luiza.
Por trás desta transação, o que se observa, é uma nova realidade estratégica para as empresas de varejo brasileiras, após a entrada do site da Amazon (NASDAQ:AMZN) e do seu centro de distribuição no Brasil. As empresas locais se viram obrigadas a reagir o mais rápido para não perderem a guerra do 'novo varejo digital'. Foi o que Magazine Luiza fez, reagiu rapidamente.
O pote de ouro do setor varejista parece ser esse: em um país continental como o Brasil, o varejista vencedor é aquele que possui a maior e melhor escala na distribuição de produtos para o consumidor final.
Por sua vez, a transação entre Netshoes e Magazine Luiza coloca pressão estratégica sobre outras empresas do setor, no caso a novata Centauro (SA:CNTO3), que é um revendedor de calçados e material esportivo.
O fortalecimento das forças de distribuição da Magazine Luiza, conjugada com uma plataforma de vendas online que era a Netshoes, exigirá da Centauro uma forte resposta frente a este novo player, em termos de preços e custos operacionais.
Tradicionais fornecedores da cadeia de calçados como Grendene (SA:GRND3), Vulcabrás e Arezzo (SA:ARZZ3) ficam sobre pressão também com o aumento do poder de barganha de Netshoes e Magazine Luiza, em termos de prazos para recebimento e em preços, enquanto fornecedores.
Por fim, B2W (SA:BTOW3) e Lojas Americanas (SA:LAME4) que pretendiam consolidar Netshoes ao seu portfólio, precisarão buscar alternativas estratégicas para minimizar a força emergente de Netshoes e Magalu.
Via Varejo (SA:VVAR3) também entra novamente no foco, a rival da Magazine Luiza buscará uma abordagem semelhante? Fica claro que a empresa precisará acelerar sua integração de plataformas de vendas e entrada em novos segmentos para não perder espaço.
No final, quem ganha com tudo isso? Espera-se que o consumidor seja beneficiado pelo aumento da competição.Por outro lado, o investidor precisa ficar atento também, pois neste processo de 'disrupção' do varejo, principalmente se possuir ações das empresas que estão sofrendo com esta remodelagem do varejo brasileiro.