Para os investidores que acompanham a produção do setor petrolífero, uma grande preocupação sempre foi tentar identificar a ação de produtores capazes de mover os preços do petróleo com base em suas próprias políticas.
Para que um produtor desse tipo consiga alterar o preço da commodity, deve ser capaz de gerar um excesso de oferta suficiente para inundar o mercado ou cortar a produção a ponto de gerar escassez de abastecimento – ou pelo menos dar a impressão entre os especuladores de que pode provocar isso. Para que esse produtor consiga elevar os preços do petróleo, é preciso que não exista nenhum outro player global com capacidade ociosa suficiente para compensar a diferença.
Neste momento em que adentramos uma nova década, não existem produtores capazes de controlar os preços do petróleo. Saiba o que isso significa para o mercado.
Arábia Saudita: o produtor mais influente
A Arábia Saudita é o produtor que está mais próximo de influenciar os preços. Responsável atualmente por um pouco menos de 10 milhões de barris por dia (bpd), a Arábia Saudita tem capacidade para produzir até 12 milhões de bpd ou mais. Isso seria suficiente para aumentar a oferta a ponto de reduzir os preços do petróleo nos mercados mundiais.
No entanto, é pouco provável que a Arábia Saudita aumente sua produção agora, pois precisa cumprir as cotas estabelecidas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O aumento de produção não é saudável para suas reservas, pois a intenção do país é sempre manter uma capacidade ociosa em casos de emergência e evitar que os preços caiam por enquanto.
Pode ser que em algum momento a Arábia Saudita mude de opinião, principalmente para elevar os lucros da Aramco (SE:2222), sua petrolífera estatal.
Atualmente, a Arábia Saudita não tem a capacidade de elevar os preços. Evidentemente, como qualquer produtor, o país pode diminuir ou suspender sua própria produção. A Arábia Saudita está em melhores condições de fazer isso, pois não precisa desesperadamente de caixa no curto prazo. No entanto, se o reino saudita tivesse que reduzir drasticamente sua produção para elevar os preços, outros produtores, como EUA, Brasil, Noruega e talvez o Canadá, poderiam preencher esse vácuo. Além disso, alguns parceiros da Arábia Saudita no âmbito da Opep e Opep+ poderiam desrespeitar suas cotas e exceder sua produção, caso as condições econômicas se mostrassem tentadoras demais.
Estados Unidos: maior player, mas sem política centralizada
Outro nome que tem potencial de influenciar os preços atualmente são os EUA. Embora o país produza a maior quantidade de petróleo, a uma taxa de 12,8 milhões de bpd em novembro, não consegue controlar a cotação do produto. Além disso, não possui qualquer política centralizada de produção, e as leis antitrustes nos EUA impedem que as empresas independentes se coordenem nesse sentido. Por isso, o país não pode aumentar nem reduzir a produção em um esforço sincronizado, mesmo que as empresas individuais queiram fazê-lo.
Por vezes os produtores norte-americanos parecem atuar de forma uníssona, pois reagem às mesmas situações econômicas, mas não constituem uma unidade concreta capaz de influenciar os preços.
A produção petrolífera mundial continua girando em torno de 100 milhões de bpd. Uma mudança significativa nesse número – seja para cima ou para baixo – pode alterar os preços do petróleo. No entanto, os investidores e observadores do mercado não devem alimentar qualquer expectativa de que um país consiga fazer essa mudança. Ao contrário, devem encarar as alterações como um efeito da economia e do mercado em si.