Como abordamos com frequência nesse espaço, os mercados de risco estão na dependência de alguns aspectos para definição de tendência. Do lado externo, o maior deles diz respeito às negociações comerciais entre os EUA e a China, mas com destaque para a discussão que nada tem de acessória sobre propriedade intelectual e hegemonia tecnológica.
No âmbito interno, desponta a aprovação da reforma da Previdência, em vias de uma definição, mas que não se encerra em si mesmo em termos de reorganização da sociedade brasileira. Ao contrário, a reforma da Previdência é somente o início de um árduo trabalho de trazer a economia de volta ao rumo correto. Como se fosse um trator abrindo espaço para a construção de outras reformas mais importantes ainda.
É por isso que o dia seguinte será ainda mais importante. Não pensem que a reforma da Previdência saneará todos os males e que criará empregos no dia seguinte (day after). Ela é apenas o início da reconstrução de um país destruído econômica e financeiramente. Será preciso um enorme conjunto de medidas macro e microeconômicas, capazes de recuperar o país nos próximos anos. Basta pegar as declarações recentes do secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida, que projeta que, pelo menos até 2023, o Brasil ainda estará fazendo déficits fiscais expressivos. Ou seja, Bolsonaro carregará este dado durante todo seu governo mesmo considerando reformas e o teto de gastos.
O dia seguinte da reforma da Previdência será importante, pois o governo terá ganho capital político (mesmo como protagonismo passando ao Congresso) para introduzir outras mudanças. Será preciso abrir e aprovar uma reforma tributária, privatizar o que for possível e de forma rápida, abrir novas concessões e atrair capital local e estrangeiros para vários investimentos (infraestrutura principalmente). Mas para que esse movimento ocorra, será preciso formatar marcos regulatórios amigáveis para diferentes setores onde o governo possa exercer algum dirigismos e, principalmente, dar segurança jurídica para investidores de longo prazo que vão investir para os próximos 30, 40 ou 50 anos.
Será necessário estabelecer ainda programas que ampliem a produtividade e competitividade de nossas empresas, que estimule novas contratações para reduzir a enorme massa de pessoas sem emprego (só 28 milhões, segundo o IBGE), rever o programa de desonerações que consome cerca de R$ 7,0 bilhões por mês de arrecadação sem grandes efeitos práticos e provocar mudanças no sistema financeiro. Algumas medidas não precisam de aval do Congresso e podem produzir efeitos imediatos. Notem que falamos de rever desonerações e não de extinguir. Há que existir contrapartidas de setores e empresas e não ser sujeito ao lobby de poderosas indústrias.
Tudo estará ocorrendo num contexto de grande liquidez internacional e taxas de juros ainda mais baixas. Basta lembrar que diferentes bancos centrais do mundo já estão agindo nesse sentido, preocupados com a desaceleração econômica global. Certamente irá beneficiar países emergentes exportadores de produtos primários e semielaborados. Outro ponto que facilita é a inflação muito baixa em termos globais e bem inferior a metas estabelecidas pelos bancos centrais.
No Brasil não é diferente. As pessoas acostumadas com aplicações de renda fixa estão insatisfeitas com os retornos obtidos e começam a migrar recursos para outros segmentos do mercado de capitais. A cultura rentista está perdendo, trocado por aplicações de risco. Podemos citar a forte captação de recursos por fundos de investimento multimercados, fundos de ações e direitos creditórios e até aplicações diretamente em bolsa de valores. Essa mudança, por enquanto, ainda é tímida, mas deve se acelerar, caso os pressupostos macros anunciados nesse texto se configurem. Destacamos o interesse por fundos de venture capital e angel investors que darão suporte ao empreendedor local. Esses dados nos remetem para a elevação do fluxo de recursos para investimentos de mais risco que dará suporte também numa fase posterior à emissão de novas ações e aberturas de capital.
Parece simples, não? Só precisamos de vontade política de fazer. Além de bom relacionamento entre os três poderes, claro.
Até a próxima semana!